VEJA Destaca - Adotar para maltratar?

Adotar para maltratar?

VEJA Destaca - Adotar para maltratar?

Foto: Divulgação

Receba todas as notícias gratuitamente no WhatsApp do Rondoniaovivo.com.​

A tortura de uma menina de 2 anos por uma procuradora do Rio choca pela barbárie - e expõe as fragilidades do sistema de adoção de crianças no Brasil

A menor T.E., de 2 anos, espancada pela procuradora aposentada Vera Lúcia Gomes (à dir.), que pretendia adotá-la: xingamentos e pancadas na cabeça
Acusada de torturar uma menina de 2 anos que estava sob sua guarda e a quem pretendia adotar, a procuradora aposentada carioca Vera Lúcia de Sant’Anna Gomes, 66 anos, com a prisão decretada, entregou-se na semana passada à Justiça, depois de ficar oito dias foragida. Presa numa penitenciária da Zona Oeste do Rio de Janeiro, ela se limita a dizer, por intermédio de seu advogado: "Acho que me excedi". O caso chama atenção pela extrema brutalidade. Os laudos do Instituto Médico-Legal revelam que T.E., encontrada por Vera Lúcia num abrigo para menores, foi vítima de violentas surras e pancadas na cabeça. Nos 29 dias em que permaneceu na casa da procuradora, ela passava boa parte do tempo trancada no quarto, sozinha. Numa fita em posse da polícia, escutam-se os gritos de Vera Lúcia: "Maluca, engole, você vai comer tudo. Pode chorar, cachorra!". Foi depois de uma denúncia anônima que o conselheiro tutelar Heber Leal esteve no apartamento da procuradora, em Ipanema, para verificar o estado da criança. Segundo relata a VEJA, encontrou-a repleta de hematomas e com os olhos tão inchados que mal conseguia abri-los. Perguntou: "Quem fez isso com você?". E ouviu: "Foi a mamãe".

Uma pergunta se impõe diante de tamanha crueldade: como alguém com o perfil de Vera Lúcia conseguiu autorização da Justiça para adotar uma criança? Seu nome consta em nada menos que quinze boletins de ocorrência. Além disso, a procuradora já havia tentado adotar outra menina, dois anos atrás. Quando a mãe desistiu de lhe entregar a filha, Vera Lúcia foi à maternidade e arrancou do bebê recém-nascido as roupas que havia comprado. Os especialistas concordam que seu comportamento revela traços de psicopatia. "Os acessos de ódio diante da frustração e o hábito de subjugar os outros são típicos", diz a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva. O caso faz refletir sobre a fragilidade do sistema de adoção no Brasil. A lei é bastante vaga no que diz respeito à avaliação de quem quer adotar: exige dos candidatos um atestado de saúde mental, mas não especifica quem deve emiti-lo. Assim, qualquer médico pode colocar ali a sua assinatura. Conclui o psicanalista Luiz Alberto Py: "Uma avaliação mais séria teria mostrado que essa mulher não está apta a exercer a maternidade".

Outro problema na história de Vera Lúcia se deve à sua motivação para querer adotar uma criança. Solteira e sem filhos, ela nunca escondeu que a razão era ter alguém para deixar sua herança - justificativa que deveria tê-la desqualificado, como é praxe nas varas da infância, justamente por não ser identificada com um desejo genuíno pela maternidade. Afirma o desembargador Siro Darlan: "Tudo indica que a análise desse caso foi, no mínimo, pouco criteriosa". De volta ao abrigo, a pequena T.E. já tem danos enormes. Ainda não se sabe se os maus-tratos deixarão sequelas neurológicas. Depois de 25 anos no Ministério Público do Rio e sete de aposentadoria, a procuradora tentava uma adoção havia quatro anos. As marcas de sua crueldade no rosto da menina mostram que foi um grande erro entregar uma criança a seus cuidados. (Roberta de Abreu Lima e Ronaldo Soares)

Direito ao esquecimento

A política de comentários em notícias do site da Rondoniaovivo.com valoriza os assinantes do jornal, que podem fazer comentários sobre todos os temas em todos os links.

Caso você já seja nosso assinante Clique aqui para fazer o login, para que você possa comentar em qualquer conteúdo. Se ainda não é nosso assinante Clique aqui e faça sua assinatura agora!

Na sua opinião, qual companhia aérea que atende Rondônia presta o pior serviço?
Você ainda lê jornal impresso?

* O resultado da enquete não tem caráter científico, é apenas uma pesquisa de opinião pública!

MAIS NOTÍCIAS

Por Editoria

PRIMEIRA PÁGINA

CLASSIFICADOS veja mais

EMPREGOS

PUBLICAÇÕES LEGAIS

DESTAQUES EMPRESARIAIS

EVENTOS