*O relatório final da CPI dos Correios livrou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de culpa no esquema de pagamento de "mensalão" a deputados da base governistas em troca de apoio a projetos de interesse do Executivo. No documento apresentado nesta quarta-feira, o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), afirma que Lula foi informado pelo ex-deputado Roberto Jefferson da existência do esquema, mas teria ordenado a subordinados.
*Serraglio diz que Lula não tem responsabilidade, por não saber da existência do "mensalão". No entanto, o relator disse que não havia dificuldade para Lula perceber isso.
*"Não incide aqui, responsabilidade objetiva do Chefe Maior da Nação, simplesmente, por ocupar a cúspide da estrutura do Poder Executivo, o que significaria ser responsabilizado independentemente de ciência ou não. Em sede de responsabilidade subjetiva, não parece que havia dificuldade para que pudesse lobrigar a anormalidade com que a maioria parlamentar se forjava. Contudo, não se tem qualquer fato que evidencie haver se omitido", diz trecho do relatório final.
*Ao mesmo tempo, o relator decidiu pedir o indiciamento do ex-presidente do PSDB, o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG). Durante a campanha ao governo de Minas Gerais, Azeredo recebeu R$ 9 milhões das contas de Marcos Valério Fernandes de Souza para honrar dívidas de caixa dois de campanha.
*Azeredo será o único oposicionista entre os 19 parlamentares e ex-deputados a aparecer na lista de pedidos de indiciamento. Ao contrário de alguns governistas, no entanto, Azeredo não aparecerá como beneficiário do suposto "mensalão". Ele é citado por ter feito caixa dois na campanha de 1998.
*"Ele será indiciado por crime eleitoral. Há um fato comprovado de que recursos de caixa dois transitaram na campanha de 1998. Eu não tenho como esconder isso", afirmou Serraglio.
*Ao contrário dos outros 18 parlamentares, Azeredo não corre o risco de perder o mandato. Enquanto deputados foram cassados por suposto envolvimento com o mensalão, como José Dirceu e Roberto Jefferson, Azeredo teve seu processo arquivado pelo presidente do Conselho de Ética do Senado, João Alberto Souza (PMDB-MA).
*De acordo com Souza, os fatos que envolvem Azeredo são anteriores ao mandato de senador. Haveria, inclusive, segundo João Alberto, precedente para o arquivamento no STF (Supremo Tribunal Federal).
*No documento, o ex-ministro José Dirceu, o ex-ministro Luiz Gushiken, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, o ex-secretário-geral do PT Sílvio Pereira, o ex-presidente do PT José Genoino e o empresário Marcos Valério aparecem como passíveis de indiciamento.
*Além desses, outros 18 parlamentares envolvidos com o valerioduto constam da lista de sugestões de indiciamento a ser encaminhada ao Ministério Público. Eles são acusados de crime eleitoral, sonegação fiscal e corrupção.
*Novos mensaleiros
*O relatório final da CPI dos Correios foi lido hoje, mas as investigações ainda não acabaram. Novos nomes de parlamentares beneficiados por recursos do "valerioduto" devem aparecer na próxima semana.
*Entre os 63 deputados apontados como possíveis beneficiados está o ex-ministro das Comunicações Eunício Oliveira. No cruzamento de informações entre as contas de Valério com a ida de assessores de parlamentares à agência do Banco Rural em Brasília e o saque de recursos, Eunício aparece como suspeito. *Há 53 coincidências que ligariam seu nome ao esquema do valerioduto. Haveria, inclusive, saques superiores a R$ 20 mil.
*Outro lado
*Eunício Oliveira rebateu a acusação. Ele disse que uma assessora de seu gabinete foi 53 vezes à agência do Banco Rural para operar na conta do marido.
*"Eu duvido que a CPI tenha algum comprovante de saque. Eu não tenho nada a ver com essa história de valerioduto. Essa assessora nunca foi ao banco tratar de assunto meu", afirmou. "Essa moça [assessora] se foi ao banco, não foi para tratar de assunto de meu interesse", acrescentou.