Caríssimos beradeiros e beradeiras da República do Berço do Madeira! É com o devido respeito, com a devida reverência que esse escriba “Amazônida, filho da Ferrovia”, que nasceu em uma segunda-feira à sombra das bananeiras na Colônia Agrícola do Iata, pede licença aos deuses e ao grego Hipócrates, pai da medicina para escrever essa crônica.
Vocês também beradeiros e beradeiras! Calcem as sandálias da humildade, clamem aos céus e ao pai da medicina, e peçam licença para acessar ao conteúdo dessa crônica que presta um tributo solene ao médico Vicente de Paulo Batista Rodrigues, o Dr. Vicente.
Vejam! Feitas as devidas e necessárias recomendações nos parágrafos anteriores, agora sim, tanto eu, quanto vocês beradeiros e beradeiras do Berço do Madeira, estamos autorizados a transpor e pisar com cuidado no mundo inspirador desse médico que chegou nessas paragens com apenas trinta anos de idade.
Um desbravador! Dr. Vicente foi um corajoso desbravador de fronteiras.
A convite do então governador do Estado de Rondônia, o Coronel Jorge Teixeira de Oliveira, Dr. Vicente deixou o Rio de Janeiro e marchou para o “front de batalha” na Amazônia, se fixando no então distrito de Vila Nova, no município de Guajará-Mirim, de onde nunca mais saiu.
Era o início do ciclo do ouro no Rio Madeira e o jovem médico não titubeou, arregaçou as mangas e liderou energicamente sua equipe médica na Unidade Mista Antônio Luís de Macedo, no atendimento às dezenas de garimpeiros que chegavam à unidade de saúde acometidos de malária e outras enfermidades.
Vocês beradeiros e beradeiras, conseguem imaginar quantos partos esse homem fez no Berço do Madeira? Cinco mil? Dez mil?
Quantos de vocês que estão agora lendo essa crônica nasceram pelas mãos missionária desse médico?
Você que está lendo essa crônica, você sim, seus filhos e netos são também filhos e netos desse bom samaritano, desse franciscano de jaleco, de fala mansa, olhar humano e vagamente perdido nos desvãos da História do Berço do Madeira.
Prestem atenção todos vocês! É um dever de cada beradeiro e beradeira do Berço do Madeira, prestar continência a esse homem todos as vezes que o virem. Ser reverentes e gratos ao Dr. Vicente é uma obrigação da qual não podemos nos furtar.
Um homem que não amealhou fortuna, não construiu palácios, mas dedicou sua juventude, o seu conhecimento e a sua vida a cuidar das pessoas, sem distinção, do mais humilde ao mais abastardo.
Um médico que sempre teve a capacidade de se colocar no lugar do paciente. Para o Dr. Vicente, a medicina nunca foi um sacrifício, mas um sacerdócio, uma missão.
Vocês beradeiros e beradeiras, sabem tanto quanto esse humilde escriba que para o Dr. Vicente nunca existiram finais de semana, feriados e nem férias, ele esteve sempre disponível a qualquer hora do dia e da noite ministrando com muito zelo e dignidade a sua medicina do cuidado.
Meus queridos beradeiros e beradeiras! Agora na velhice, com as pálpebras já cansadas, o Dr. Vicente ainda mantem a porta sempre aberta e honrando o juramento de Hipócrates se oferece todos os dias em sacrifício à população do Berço do Madeira: “Prometo solenemente consagrar a minha vida ao serviço da humanidade”.
O Dr. Vicente foi e continua sendo uma sentinela avançada. Um destemido pioneiro, um médico peregrino.
Simon O. dos Santos – Contista & Cronista