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MARCUS MENDONÇA DANIN – POETA DE PORTO VELHO, RONDÔNIA.
A POESIA É NECESSÁRIA!
(Rubem Braga)
Aqui, humildemente, numa tríade com dois Gigantes da Literatura Universal, desabrochando em versos, o que há de mais sagrado na natureza:
ENTRE O SONO E O SONHO
Entre o sono e o sonho,
Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho,
Corre um rio sem fim.
Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.
Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.
E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre —
Esse rio sem fim.
Fernando Pessoa
***
COM UM RIO
Ser capaz, como um rio
que leva sozinho
a canoa que se cansa,
de servir de caminho
para a esperança.
E de lavar do límpido
a mágoa da mancha,
como o rio que leva,
e lava.
Crescer para entregar
na distância calada
um poder de canção,
como o rio decifra
o segredo do chão.
Se tempo é de descer,
reter o dom da força
sem deixar de seguir.
E até mesmo sumir
para, subterrâneo,
aprender a voltar
e cumprir, no seu curso,
o ofício de amar.
Como um rio, aceitar
essas súbitas ondas
feitas de água impuras
que afloram a escondida
verdade nas funduras.
Como um rio, que nasce
de outros, saber seguir
junto com outros sendo
e noutros se prolongando
e construir o encontro
com as águas grandes
do oceano sem fim.
Mudar em movimento,
mas sem deixar de ser
o mesmo ser que muda.
Como um rio
Thiago de Mello
***
TRANSPIRO RIOS
O rio me expele, me impele
e depois me enlaça
com seus braços de teia,
e suas garras de garças
me oxigena, serpenteia
milhões de léguas
nas águas infindas
que escorrem lânguidas em
minhas recônditas veias
O rio é o elo do que há de mais belo
deslizando luz e mistério,
sob a moldura verde ondulante
que desbarranca da minha
arenosa e barrenta pele
o rio me inventa e reinventa,
alimenta minha verve
Rumurejando impropérios poéticos
desenredando o novelo do enlevo
revelando o magistral relevo
que d'alma eleva suas
imensuráveis asas de sonhos
refletindo sobre o espelho
sagrado e mágico das suas águas
o luzir infinito oceânico astral
que faz vibrar o coração
do universo inteiro
com seu cântico de vida que nem
as estrelas decantam igual.
Marcus Mendonça Danin
* O resultado da enquete não tem caráter científico, é apenas uma pesquisa de opinião pública!