Política em Três Tempos - por Paulo Queiroz

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Foto: Divulgação

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1 – PESQUISAS ELEITORAIS Recomenda-se comedimento nas análises sobre pesquisas precoces relacionadas à sucessão do prefeito Roberto Sobrinho (PT), de Porto Velho. Por mais confiáveis que sejam, em relação ao cenário do pleito propriamente dito, eles revelam absolutamente nada. Ou quase isso. Primeiro há que se considerar que, a mais de um ano da disputa, as postulações sequer estão consolidadas partidariamente, visto que até outubro chegar ainda se poderá mudar de legenda, algo factível de ocorrer mesmo com alguns dos nomes já cogitados. Depois porque, mesmo que as eleições fossem amanhã, haveria de não se deixar de lado os surpreendentes fatores de imponderabilidade, que não raro têm dado o ar da graça em eleições recentes para tristeza dos responsáveis por pesquisas e desespero dos pesquisados que apareceram no topo. Celebradas em muitas ocasiões e amaldiçoadas em outras tantas, não se conhece um só político neste país que, ao longo da sua trajetória, não tenha se sentido prejudicado por elas. Num dos casos ainda hoje comentado pela imprensa do país, em 1985, ao ser derrotado por Jânio Quadros na disputa pela Prefeitura de São Paulo, o ex-presidente Fernando Henrique, desolado, declarou aos jornalistas: "Não é possível que todas as pesquisas estivessem erradas". O incidente ficou tanto mais célebre porque foi responsável por uma das mais famosas barrigas da imprensa nacional e por um dos episódios mais bizarros e divertidos da política brasileira. A barriga (ou barrigada) – no jargão do pessoal imprensa de imprensa, informação para lá de destrambelhada – ficou por conta do jornalista (hoje blogueiro político indispensável) Ricardo Noblat, que na interinidade da respeitabilíssima “Coluna do Castelo” (do lendário jornalista Carlos Castelo Branco, no “Jornal do Brasil”) e com base nos números de “todas as pesquisas”, mas com a apuração ainda em andamento, fez publicar um artigo informando que Fernando Henrique derrotara Jânio Quadros e explicando como e por que isso ocorrera. 2 – ERROS FAMOSOS No mesmo dia em o “Jornal do Brasil” saiu com essa “Coluna do Castelo” assinada por Noblat, os principais jornais do país também publicaram uma fotografia em que Fernando Henrique posara aboletado na cadeira do gabinete principal da Prefeitura de São Paulo, ali falando como se prefeito fosse. No final da tarde a apuração já confirmara a vitória de Jânio Quadros que, bem no seu estilo espetaculoso, convocou a imprensa para se deixar fotografar em outra circunstância – empunhando um tubo de desinfetante aspergindo o líquido apontado para a cadeira em que o adversário derrotado posara na véspera. Saiu, claro, em todos os jornais. Pois bem, Ainda no ano passado, os equívocos das pesquisas se incluíram entre os mais notórios. No sentido inverso ao de FHC, ainda que não tenha logrado ser eleito (perdeu por pouco para Eduardo Suplicy-PT), tivemos a declaração de Guilherme Affif Domingos (PFL) quando, após a apuração, teve quase o dobro dos votos apontados pelas pesquisas sobre a corrida para o Senado por São Paulo: "Minha votação só surpreendeu os institutos de pesquisa", disse ele. Na Bahia, segundo os institutos, era remota a possibilidade de haver segundo turno. Estaria assegurada a vitória de Paulo Souto (PFL). Não foi o que aconteceu: Jaques Wagner (PT) levou e o fez já no primeiro turno Embora o número de acertos dos institutos tenha sido em maior proporção, houve ainda tropeços no Rio Grande do Sul, em Goiás e no Rio de Janeiro, onde Jandira Feghali (PC do B) dormiu senadora e acordou com a notícia de que a vaga era de Francisco Dornelles (PP), que, no dia anterior, estava 12 pontos atrás. Entre os gaúchos, o governador Germano Rigotto (PMDB), primeiro nos levantamentos durante toda a campanha, nem foi para o segundo turno. Algo parecido com o que ocorreu aqui com Mauro Nazif em 2002, quando Sobrinho saiu de 3% para a vitória. Para explicar por que essas coisas acontecem, é necessário examinar criteriosamente a natureza das pesquisas de opinião pública. 3 – CAUSA E EFEITO Conforme esclarece o consultor político Ney Figueiredo, do Centro de Estudos de Opinião Pública da Unicamp, é preciso esclarecer que se trata de uma técnica que explora o mundo social, descobrindo como ele funciona e revelando as conexões causais. Segundo o cientista, pessoas que lêem bola de cristal, jogam tarô ou põem cartas muitas vezes fazem predições acertadas, mas não conseguem fornecer razões para os prognósticos nem estabelecer relação de causa e efeito. É um trabalho secreto: só elas têm acesso aos mistérios dos seus vaticínios. Isso não ocorre com as pesquisas. As causas do comportamento social são perfeitamente mensuráveis. Já em 1833, informa Figueiredo, Gabriel Tarde publicou artigo em que apresentava de forma consistente a idéia de avaliação da política de massas que o levaria a propor, depois, os primeiros elementos de métodos para aferir a opinião pública. Se os homens ainda vivessem em tribos separadas, não haveria como falar em pesquisa de opinião, pois esses grupos tenderiam a ter opiniões diferentes, baseados em sua cultura, sobre os mesmos fenômenos. A partir do século 19, a sociedade tendeu a se homogeneizar. As cidades e as províncias passaram a se assemelhar, assim como os valores e as preferências. A rapidez dos transportes e a informação de massas desempenharam papel decisivo nesse processo. O que as pessoas comumente chamam de "erro das pesquisas" faz parte da natureza do processo. A pesquisa é um retrato do comportamento do eleitorado num determinado momento. Mas a sociedade não é estática. Fatos novos podem ocorrer, mudando a tendência dos eleitores. Por isso é que a pesquisa de boca-de-urna é a que apresenta menor nível de erros, pois capta o desejo do eleitor poucos minutos antes de ele votar. Sendo seres humanos, outros fatores podem prejudicar a aferição correta. Erra, portanto, quem pretende ver as pesquisas como uma projeção do futuro. Sua principal função não é antecipar resultados, mas identificar uma tendência.
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