Política em Três Tempos - por Paulo Queiroz

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Foto: Divulgação

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1 – CHÁVEZ & FIDEL É possível uma América Latina unida, à margem dos EUA? Embora muitos duvidem, Fidel Castro e Hugo Chávez apostam que sim. E não estão esperando por ela de braços cruzados. Há algum tempo ambos promovem uma proposta de integração econômica e política baseada na "cooperação solidária" e inspirada no ideário de Simon Bolívar e José Martí, que possa contrabalançar a influência de Washington no hemisfério. É o que se pode concluir de uma série de notas e reportagens produzidas pelo jornalista Maurício Vicent, do jornal espanhol “El País”, a partir das quais se montou a coluna que se segue. Não faz muito tempo os dois líderes revolucionários fizeram em Cuba uma generosa oferta para a região: atender gratuitamente, nos próximos 10 anos, 6 milhões de pacientes caribenhos e latino-americanos com doenças da visão. Além disso, comprometeram-se a formar juntos, no mesmo período, 200 mil médicos, uma "contribuição solidária" ao continente contra o modelo neoliberal que os EUA defendem com a Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Atualmente, estudam medicina em Cuba aproximadamente 12 mil jovens latino-americanos. Milhares de médicos cubanos trabalham em cerca de 20 países da região, e essa "diplomacia dos aventais brancos" é complementar à estratégia de Chávez de consolidar "uma aliança energética do sul", que começou a se materializar com a Petrocaribe. A idéia é que o petróleo, transformado em arma estratégica devido a seus altos preços, seja o setor que impulsione o projeto integrador. Ao que parece, os planos de Caracas e Havana avançam. Com esse propósito, Chávez já andou visitando Argentina, Uruguai, Brasil e Paraguai, assinando acordos de cooperação bilaterais. Até agora, 13 países do Caribe assinaram com a Venezuela o Acordo de Cooperação Energética Petrocaribe, que entre seus objetivos declara a vontade de "contribuir para a transformação das sociedades latino-americanas e caribenhas, tornando-as mais justas, cultas, participativas e solidárias". 2 – ESPAÇOS GRATUITOS A Petrocaribe não é só um instrumento para fornecer hidrocarbonetos com facilidades financeiras para países necessitados da região --os financiamentos são de 40% da fatura se o preço do barril for US$ 50, e os prazos de pagamento de até 25 anos. Segundo Chávez, trata-se de "um plano que contempla o desenvolvimento de infra-estruturas nos países que o integram", e sua finalidade é fortalecer "a segurança energética, o desenvolvimento socioeconômico e a integração dos países do Caribe". A Petrocaribe é o primeiro passo de um sonho maior: a Petroamérica. Seu objetivo é conseguir uma América Latina integrada do ponto de vista energético, e, portanto menos dependente. Um grande desafio para uma Casa Branca que contempla com preocupação a crescente influência de Chávez e Castro na região. Durante uma viagem ao Paraguai, o secretário da Defesa americano, Donald Rumsfeld, acusou diretamente os dois dirigentes de fomentar a "desestabilização" na área. Mas o ministro da Defesa paraguaio, Roberto González, apressou-se a reconhecer que a solidariedade médica e educacional de Cuba é muito útil para seu país --hoje estudam medicina em Cuba 641 jovens paraguaios. "Gostaríamos que os países que concentram ciência e tecnologia também oferecessem espaços acadêmicos gratuitos", disse o ministro. Ele também destacou a importância do convênio assinado recentemente com a Venezuela, que prevê o intercâmbio de petróleo e derivados por produtos paraguaios como carne e soja. Conscientes do poder e da boa imagem de sua diplomacia petro-médica, Castro e Chávez desafiaram Washington a dedicar recursos a iniciativas como a sua, se deseja evitar a "desestabilização" do continente. "Os verdadeiros desestabilizadores são eles, com seu empenho hegemônico e suas políticas neoliberais", disse Chávez em Cuba, onde assistiu à formatura dos primeiros 1.610 médicos da Escola Latino-Americana de Medicina. O presidente venezuelano afirmou em Havana que criará uma universidade semelhante em seu país. 3 – SINTONIA POLÍTICA De quebra, anunciou que, com o mesmo espírito bolivariano, emprestará ao Equador, sem juros, o petróleo de que necessite para que a queda de sua produção não o impeça de cumprir seus compromissos internacionais. De Cuba, Chávez partiu para a Jamaica, onde assinou o outro acordo bilateral da Petrocaribe, pelo qual fornecerá 21 mil barris diários de petróleo e financiará a ampliação de uma refinaria nesse país para processar petróleo cru venezuelano. Em breve assinará outro acordo com a República Dominicana (de 100 mil barris diários). E a agenda de Chávez está cheia de compromissos semelhantes. Tanto ele como Fidel Castro, a quem considera "um mestre da estratégia perfeita", afirmam que chegou o momento da "verdadeira independência" da América, tal como sonharam Bolívar e Martí. "A Alba avança, e sem canhões, por puro instinto de sobrevivência”.A frase é de Castro. Alguns se perguntam o quanto Fidel Castro influiu na Alternativa Bolivariana para as Américas. Quanto tem de cubana a proposta de integração regional de Hugo Chávez? A resposta é simples: muito. Não só porque ambos os líderes estão em perfeita sintonia política, nem porque se consultem quase diariamente sobre planos estratégicos, ou porque Chávez considere Castro seu mestre. Na realidade, a questão é mais simples: o laboratório de testes do Alba foram Cuba e a Venezuela. O envolvimento de ambos os países é imenso: Cuba recebe mais de 90 mil barris diários de petróleo a preços preferenciais, com o que cobre 60% de suas necessidades. Dezenas de milhares de médicos e profissionais cubanos sustentam os principais programas e missões sociais na Venezuela, que são a base do apoio popular de Chávez. Cerca de 50 mil pacientes venezuelanos foram operados dos olhos em Cuba nos últimos meses. Foram postos à sua disposição hospitais e hotéis. Também se abriram bancos, criaram-se empresas mistas, eliminaram-se tarifas e estão em andamento centenas de projetos de cooperação. Enfim, parece que a coisa vai.
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