Política em Três Tempos - Por Paulo Queiroz

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Foto: Divulgação

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1 – SANTO REGIONAL Com todo respeito. Em que pese o fato de tornar-se o primeiro brasileiro nato a ser canonizado – o que terminou ocorrendo justamente nesta sexta-feira (11), em missa celebrada pelo papa Bento 16, no Campo de Marte, em São Paulo -, Antônio de Sant'Anna Galvão, o Frei Galvão, dificilmente alcançará a dimensão de poder ser considerado o, digamos, santo da unidade nacional. Conquanto a fé católica seja a mesma de uma ponta a outra do país e em que importe o Papa ter-se abalado de Roma para canonizá-lo entre os seus, a devoção ao frei agora santificado tenderá a permanecer circunscrita à região onde ele se fez fenômeno, ou seja, entre os paulistas e os fiéis daquelas cercanias. A razão é simples. Tirante os paulistas – especialmente os dos municípios que orbitam Guaratinguetá (terra do santo) – e os fiéis daquelas cercanias, poucos, muito poucos, católicos tinham ouvido falar em Frei Galvão até a derradeira fase do processo da sua canonização – a comprovação de milagre junto à Congregação para as Causas dos Santos, no Vaticano. Antes de prosseguir, previna-se à distinta platéia que o teólogo que lhes fala tem tanta autoridade para discutir assuntos canônicos quanto alguém pode tê-la ao exibir o “Pai Nosso” como única oração que sabe de cor e cuja fé é ainda menor do que a do homem de pouca fé. Mas como os incômodos da pretensão e da água benta não chegam a ser letais, vamos à tese. A impressão que dá é a de que o Brasil só terá um santo de unidade nacional no momento em que, antes de ser canonizado, a identidade do místico não apenas seja do conhecimento dos brasileiros de todas as regiões do país, como, em algumas delas, o personagem já se tenha tornado objeto de grande veneração. Neste sentido, o palpite da coluna é o de que algo assim só acontecerá quando e se alguém como o Padre Cícero Romão Batista chegar à condição de Frei Galvão. Pode ser que esteja difícil, que o processo seja um estirão, mas a julgar com o que sucedeu com Joana D’Arc, não é impossível. 2 – SACRAS REJEIÇÕES Como se sabe, não obstante ter sido condenada por heresia e executada na fogueira pela Inquisição em 1431, desde então Joana D’Arc passou a ser cultuada pelos franceses como heroína e santa. Venerada por séculos, a Igreja terminou cedendo e ela foi finalmente beatificada em 1909 e canonizada em 1920. No caso do Padre Cícero, a rejeição da Igreja Católica à sua pessoa aconteceu depois que ele começou a ganhar fama como milagreiro e a levar multidões de fiéis a Juazeiro do Norte. Sua notoriedade começou em 1889, quando, segundo se conta, uma hóstia que ele entregou em comunhão a Maria de Araújo se transformou em sangue na boca da beata. O mesmo fenômeno teria se repetido centenas de vezes, presenciado por inúmeras testemunhas, mas jamais foi admitido pela Igreja. Por insistir em reafirmar o milagre, padre Cícero chegou a ser excomungado, em 1917. A beata Maria apanhou que só couro de pisar fumo para confessar que tudo não passava de uma lambança, mas diz-se que a palmatória arrebentou, suas mãos ficaram em carne viva e ela não arredou uma vírgula. O fato é que, depois ser perdoado da excomunhão, em 1921 o Padre Cícero teve suas ordens suspensas, não podendo atuar como sacerdote até a morte, em 1934. Quer dizer, não obstante desde então vir sendo aclamado pelo povo como santo milagreiro, se constituindo num fenômeno social e de fé popular a ponto de, ano após ano, continuar levando milhões e milhões de fiéis em romaria a Juazeiro, para a Igreja, oficialmente, o Padre Cícero permanece um reles embusteiro. Algo, no entanto, está acontecendo. Antes de se tornar papa, o cardeal Ratzinger, então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, pediu à Igreja brasileira que fizesse novos estudos sobre o Padre Cícero. A iniciativa aconteceu em 2001, quando chegava à diocese do Crato – responsável também por Juazeiro - um novo bispo, o italiano Fernando Panico. De lá para cá, na tentativa de obter uma reabilitação histórica e eclesial do Padre Cícero, diversos documentos já foram encaminhados ao Vaticano. 3 – QUASE CANDIDATO Entre os quais, seis volumes com os novos estudos, uma moção de apoio com assinatura de 254 bispos brasileiros, cinco livros com outras 150 mil assinaturas e por aí vai. Nunca antes a igreja brasileira tinha feito um esforço como esse para tentar reabilitar a figura do Padre Cícero. No ano passado, o então governador Lúcio Alcântara (CE) liderou, junto com o bispo do Crato, uma comitiva e se encontrou, no Vaticano, com o já Papa Bento 16 para tratar do assunto. O propósito derradeiro, claro, é obter a canonização do Padre Cícero. Não vai, obviamente, ser fácil. Até a canonização, o candidato precisa, primeiro, ser declarado servo de Deus, tornando-se venerável. A segunda fase é a beatificação. Por fim, é realizada a canonização, quando a pessoa é declarada santa. No caso do Padre Cícero, ainda há que ser reabilitado antes mesmo de se tornar candidato. Sem falar que o Brasil já tem quatro beatos à espera de canonização, três deles brasileiros natos. Mas há um dado animador. O número de beatificações e canonizações deverá permanecer alto neste pontificado. A política foi estabelecida por João Paulo II, que no seu período realizou 1.345 beatificações. Dos 800 santos da Igreja Católica, 483 são da época do papa polonês. Segundo cardeal português José Saraiva Martins, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, estão na fila mais de 2.200 causas de beatificação e canonização. Mas a velocidade dos processos com o papa Bento 16 tem sido a mesma da época de João Paulo II. A diferença entre santos populares do tipo Joana D’Arc e, eventualmente, Padre Cícero e santos como Frei Galvão consiste em que este, por ter tido uma vida exemplarmente virtuosa, passa a idéia de que o céu é para poucos, muito poucos iguais a ele. Já aqueles, cujas existências foram pontilhadas de atribulações de toda ordem, dão a impressão de que a graça divina está ao alcance de todos. Enfim, prodígio ou não, o Papa que canonizou Joana D’Arc foi o Bento imediatamente anterior ao atual - o 15. Quem sabe não caberá justamente ao 16 terminar o serviço que o cardeal Ratzinger começou? Amém!
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