*O presidente do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Paulo Okamotto, admitiu ontem que não tem como comprovar com recibos ou outro documento ter entregue ao PT dinheiro próprio para quitar uma dívida de R$ 29 mil do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o partido.
*"O recibo que ele [PT] me deu foi o pagamento das parcelas", disse Paulo Okamotto. Pouco antes, afirmara que o partido "deve ter dado recibos".
*Segundo a prestação de contas do PT nacional apresentada ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Lula tinha uma dívida com o partido por conta de "adiantamento a empregados" e "adiantamento a terceiros". A dívida foi paga em quatro parcelas, entre dezembro de 2003 e março de 2004.
*Saques
*Okamotto afirmou, em nova entrevista concedida ontem à Folha, que para pagar a dívida ele fez saques de suas contas bancárias pessoais, em agências de Brasília, em datas não coincidentes com os pagamentos das parcelas. Não deixou claro como o dinheiro foi repassado a um funcionário do partido (sem pegar um recibo), no valor correto da parcela. Okamotto também não detalhou como o dinheiro foi enviado para São Paulo --onde os depósitos ocorreram em quatro agências diferentes do Banco do Brasil.
*"Eu estou em Brasília, eu ia ao caixa eletrônico e ia sacando", disse Okamotto, que não sacava apenas no caixa eletrônico, segundo ele próprio admitiu.
*Indagado sobre o motivo pelo qual usou dinheiro para quitar as parcelas --e não um simples cheque ou uma transferência bancária--, Okamotto afirmou: "Tem que ser em espécie. Se eu faço em cheque, quem pagou foi Paulo Okamotto, não foi Lula. Ia lançar como na contabilidade?".
*Em nota divulgada ontem, Okamotto afirmou ter sido nomeado por Lula seu procurador em dezembro de 2002 "única e exclusivamente para tratar da rescisão do seu contrato de trabalho com o PT". Além do dinheiro sacado de suas contas, Okamotto disse ainda ter recorrido a US$ 3.500 "que sobraram dos gastos das viagens internacionais e que estavam em poder da Secretaria de Relações Internacionais do PT".
*No documento, Okamotto informou que a dívida de Lula foi gerada por uma passagem emitida antes de 2002 para a primeira-dama, Marisa Letícia Lula da Silva, para uma viagem à China, na qual acompanhou Lula, "adiantamentos em moeda estrangeira" para viagens do então presidente de honra do partido a China, França, Portugal e Itália, além de "adiantamentos a funcionário que teriam ocorrido em 1997".
*À frente do Sebrae, uma sociedade civil sem fins lucrativos, Okamotto controla um orçamento anual de R$ 900 milhões. A entidade tem o objetivo de promover a competitividade e o desenvolvimento dos empreendimentos de micro e pequeno portes.
*Garanhuns
*Menos de uma semana antes de apresentar a versão de que realizou os pagamentos em prol de Lula, Paulo Okamotto acompanhou o presidente em viagem oficial, como convidado no AeroLula, a municípios do Nordeste, entre os quais a cidade natal de Lula, Garanhuns (PE).
*Embora tenha passado dois dias com o presidente, Okamotto afirmou ontem à Folha que não tratou com ele, a quem chama de "amigo", do pagamento da dívida --já então alvo de investigação na CPI dos Correios.
*Em discurso, o presidente Lula mencionou uma vez Okamotto, a quem tratou de "meu querido companheiro". O presidente do Sebrae foi tesoureiro da campanha eleitoral de Lula em 1989.
*Tarso Genro
*O presidente nacional do PT, Tarso Genro, admitiu ter tomado conhecimento da versão de que Okamotto pagara o empréstimo "dez dias ou uma semana" antes da divulgação da nota, anteontem, na qual o partido informa os supostos pagamentos de Okamotto à legenda.
*Indagado sobre o motivo de o partido não ter divulgado a explicação à época, Genro afirmou: "Era uma questão que afetava exclusivamente o tesoureiro do partido, que se relacionava com a contabilidade anterior. Provavelmente, [o partido] não tivesse informações claras ainda".
*A assessoria de comunicação do PT nacional informou que respostas a dúvidas sobre a origem e o pagamento da dívida de Lula "devem ser buscadas com o ex-tesoureiro Delúbio Soares".
*Em depoimento à CPI dos Correios, Delúbio afirmou que eram "empréstimos" concedidos a dirigentes do partido.