A equipe da Delegacia do Município do Cantá apresentou ontem à imprensa o agricultor José Maria de Araújo, de 45 anos, preso ontem na cidade de Boa Vista. Ele é acusado de ter espancado um garoto de 10 anos, que estaria sendo submetido a trabalho escravo. A última agressão sofrida pelo menino o deixou em estado grave, razão pela qual permaneceu 36 horas internado no Hospital da Criança Santo Antônio, em Boa Vista.
Segundo contou o delegado titular do Cantá, Maique Evelyn, em novembro de 2007 o acusado pegou o garoto com a mãe para criar e levou para morar com ele na vicinal do Projeto de Assentamento União, no Cantá. “O menino foi submetido a todo tipo de trabalho braçal, cuidava de animais, fazia juquira [derrubada de mato] e, segundo investigações, o garoto passava fome e era bastante maltratado, sendo obrigado inclusive a esperar todo mundo terminar de comer para se alimentar. Ele também era bastante espancado pelo acusado”, contou o delegado.
A última agressão, ainda segundo a polícia, teria ocorrido quando a criança perdeu uma espingarda de José Maria. “Ele apanhou com a prancha do terçado e estava com vários hematomas e marcas espalhadas pelo corpo, inclusive queimaduras. A criança foi internada e ficou mais de 36 horas na UTI em observação devido aos maus-tratos que sofreu”, contou Maique Evelyn.
O delegado explicou que o caso chegou ao conhecimento da polícia por meio de uma denúncia anônima, que imediatamente o setor de operações foi investigar. Os policiais foram até o sítio do acusado levando um conselheiro tutelar como testemunha e encontraram a criança no local, bastante ferida e debilitada. “O acusado na ocasião conseguiu fugir, pois demos prioridade ao atendimento do menor, que precisava de socorro imediato. Eu representei pela prisão preventiva dele, que foi deferida pela 2ª Vara Judicial e, nas diligências, o encontramos escondido em uma residência no bairro Caimbé”, afirmou.
Com o acusado a polícia encontrou ainda um revólver calibre 38 com munição e uma espingarda caseira. Ele negou que tenha espancado o menor. “Não sei de onde tiraram isso, de que eu bati nele de facão. Ele estava com corte na cabeça porque se feriu no curral. Na minha casa nunca faltou comida para ninguém e eu peguei essa criança para criar porque a mãe vivia embriagada e o abandonou”, defendeu-se José Maria sem explicar por que fugiu.
O acusado responderá por trabalho escravo infantil, cuja pena é de 2 a 8 anos, lesões corporais, posse ilegal de arma de fogo, além de omissão de socorro e poderá ainda ser indiciado por tortura. “Pedimos à população que não entregue crianças para desconhecidos e, se resolver fazer isso, que procure o Conselho Tutelar para legalizar a situação. A mãe desse menor poderá responder por entregar a criança, isso ainda vamos analisar”, concluiu o delegado Maique.