SONATA DE OUTONO: Filme que aciona gatilhos do silêncio dos conflitos de mãe e filha

'Sonata de Outono' está disponível em plataformas de streaming como a MUBI e a Prime Video e também para compra ou aluguel no Google Play.

SONATA DE OUTONO: Filme que aciona gatilhos do silêncio dos conflitos de mãe e filha

Foto: Divulgação

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'Sonata de Outono' (Autumn Sonata) é possivelmente o melhor filme a mostrar as dores e conflitos da relação de uma mãe e filhas, sendo que uma delas tem problemas mentais. E de forma visceral, dramático em que as feridas expostas desnudam o conflito íntimo dessas mulheres.
 
Filme do diretor sueco Ingmar Bergman em que criou um papel e trabalhou com a maravilhosa atriz Ingrid Bergman também sueca e grande atriz da era de Ouro de Hollywood, marcante no clássico 'Casablanca' (1939) e não, não eram parentes.
 
 
Lançado em 1978 esse filme ganhou o Globo de Ouro de Melhor filme estrangeiro, e é um dos mais importantes do diretor sueco e foi encenada no Brasil várias vezes no teatro, até mesmo como monólogo.
 
O diretor trabalha com a sua atriz contumaz, a fantástica Liv Ullman, e permite um duelo de interpretações entre ela e Ingrid, que faz a sua mãe.
 
O filme mostra uma jornalista, Eva (Ullman), casada com um pastor, Viktor (o ótimo Halvar Björk), que cuida de sua irmã, Helena (Lena Nyman), que tem problemas mentais, numa casa de campo a beira de um lago e que depois de anos vai receber a visita de sua mãe, Charlotte (Bergman), uma pianista clássica famosa e de renome.
 
Desde a sua chegada percebemos que mãe e filha mantém um relacionamento vago, mas que sobressai a imponência de Charlotte, uma mulher vivida, sempre elegante e que gosta de chamar a atenção em contraposição com Eva, reprimida diante da figura materna, sempre com cabelo preso e vestida de forma sóbria, escondendo o olhar num grande óculos redondo.
 
As ações se passam nos cômodos da casa, com as duas trocando gentilezas e observações perceptivas que nos mostram uma relação amorosa reticente como cicatrizes prestes a abrir.
 
 
O diretor Bergman é um diretor de olhar sensível, delicado e de um extremo bom gosto, cria composições lindas ao enquadrar as personagens em lembranças pictóricas. Como um quadro estilístico dramático ele vai criando um crescendo quase minimalista construído nos olhares, gestos e expressões corporais que dialogam com a nossa percepção. É lindo demais isso.
 
Logo após o jantar familiar vem uma das cenas mais marcantes e emblemáticas do filme, onde fica perceptível a antecipação da virada do roteiro num segundo ato muito bem construído por causa dessa sequência.
 
Eva senta ao piano da sala e mostra para a mãe sua interpretação de 'Prelúdio Op. 28 n° 2' de Chopin, claro que ela se sente intimidada pela mãe, uma musicista célebre, mas é o seu elán de conseguir agrada la de certo modo. Ela toca com sensibilidade e o diretor dá um longo close no rosto de Charlotte, mostrando a sua reação, e que reage com emoção, mas claramente incomodada. Até que ao fim Eva pergunta se ela gostou. Sua mãe, sincera, disse ter ficado surpresa com a desinibição da filha, mas como expertise e sem querer menosprezar a tentativa da filha em tocar Chopin, senta ao seu lado no piano e começa a tocar a mesma música, diz que a peça não necessita de um sentimento pueril e vazio, pois o autor discorre em suas notas sobre a dor, com a variação de virada em um tom abaixo da introdução.
 
 
E aí vem um dos closes mais doloridos e que introduz o contexto que vai gerar o conflito à flor da pele entre essas duas mulheres. No mesmo plano está Charlotte de perfil olhando para baixo, tocando o piano e ao seu lado lhe encarando de frente a sua filha, Eva. Expressão de incômodo, dor reprimida e incredulidade enquanto sua mãe toca lindamente.
 
É um close com longos segundos, encaixando na mesma imagem os dois rostos, e que antecede com maestria o impacto que está por vir.
 
Bergman vai construindo a deixa para o que se segue no terceiro ato quando finalmente Eva confronta sua mãe numa conversa que inicia com dolorosas lembranças que causaram a ruptura naquela família, quando descobrimos que Charlotte foi uma mãe ausente, impiedosa e rigorosa com a sua vida artística sem perceber a necessidade do amor das filhas, principalmente Eva, que a enxergava como uma modelo de mulher bem sucedida, até perceber em suas lembranças doloridas da infância o quanto precisou do carinho e dos ensinamentos de vida dela que nunca teve. Mesmo nas fases difíceis da transição da menina e mulher, a mãe reprimia a família com distanciamento, sem se ater ao papel da mãe, fugindo da responsabilidade de criação.
 
Quando os traumas vão se aflorando nas palavras sofridas de Eva, somamos sua dor com o olhar doce e de culpa de Charlotte, que percebe o quanto sua omissão foi horrível. Que seus atos mecânicos em querer demonstrar amor pelas filhas eram perceptíveis como navalha na carne.
 
Mas é a sua justificativa dolorosa da infância sem o calor da família, o amor que ansiava e acabou lhe abrindo uma alternativa na música como o seu lastro de vida a viver como queria. Charlotte questiona sua vivência e a ausência como a culpa de traumas que nunca superou e hoje vê refletidas nas suas filhas. São feridas expostas, dor reprimida que aproximam mãe e filha, da maneira traumática que o confronto expõe.
 
São quase vinte minutos de diálogos sussurrados, gritados, explosivos em que mãe e filha se desnudam completamente.
 
Impossível não se emocionar e ver o trabalho magistral de direção, tudo tão humano, com atrizes fortes numa entrega arrebatadora. Nas lembranças de Eva de sua infância solitária e vazia o diretor cria cenas fixas e distantes, como postais de memória. Compondo cenas marcantes e sensíveis.
 
Quando Charlotte se desculpa pedindo perdão pelos seus erros, a outra filha, Helena, que não se locomove, após cair, se arrasta até a escada e parece sentir toda a carga emocional daquele embate. Assim como Viktor, que chega a acordar com os gritos, mas não intervém, pois sabe que aquele momento é muito importante para sua esposa.
 
De forma seca, com a partida de Charlotte, Eva se sente culpada pelo confronto e prevendo que não vai mais ver mãe encerra o seu ciclo com uma carta, que acaba sendo lida por Viktor e entende que a dor dos traumas de Eva agora são outros, assim como ele cabe a nós, espectadores, compreender.
 
Que filme!!
 
O início é notável porque é quando o diretor quebra a quarta parede fazendo com que o marido de Eva, Viktor, apresente ela e como a sua relação foi construída com o intelectualismo da esposa, uma jornalista e escritora bem sucedida.
 
Um dos melhores filmes do notável diretor Ingmar Bergman, pena que poucos vão estar dispostos a assistir, pois é um drama que desencanteia gatilhos e construído de forma lenta, pontual. 
 
'Sonata de Outono' (Autumn Sonata) está disponivel em plataformas de streaming como a MUBI e a Prime Video e também para compra ou aluguel no Google Play.
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