O trailer do filme Alien – O Oitavo Passageiro (Alien) tinha essa chamada espetacular: uma frase forte, com o simbolismo do ambiente frio e silencioso do vácuo espacial. Quando transposta para o interior de uma nave de carga com sete tripulantes, o desequilíbrio causado por uma criatura e a claustrofobia dos corredores apertados, tetos baixos e portas automáticas respaldam o grito contido e a morte iminente.
Alien – O Oitavo Passageiro, lançado em 1979, trouxe uma nova etapa para os filmes de ficção científica. O terror, o suspense e a ação contínua do pavor atingem um grau muito alto, principalmente no terço final, quando a subtenente Ripley (papel antológico e marcante da atriz Sigourney Weaver) precisa destruir a nave principal com o alienígena dentro e fugir em uma pequena nave de escape enquanto ocorre uma contagem regressiva que vai explodir tudo.
Mas o terror estava, principalmente, no clima proporcionado por uma criatura alienígena desconhecida, que vai eliminando um a um dos tripulantes em diversos momentos dentro de uma gigantesca nave. Qualquer corredor, compartimento ou depósito pode ser tanto um esconderijo quanto uma armadilha.
O diretor do filme, Ridley Scott, dá uma verdadeira aula de cinema, condução narrativa e espetáculo até então inédito na ficção científica, com uma produção esmerada na construção do interior da nave Nostromo — um trabalho de direção de arte e cenografia incrível —, com um tratamento realista e hermético, baseado em artes conceituais criadas por artistas como Ron Cobb e Chris Foss.
Mas o grande achado do filme é a concepção do alienígena — o Xenomorfo —, com design criado pelo artista suíço H. R. Giger, que trabalhava com inspirações biomecânicas em suas obras. Após ter seu portfólio analisado por Ridley Scott, o diretor exigiu que o estúdio o contratasse para desenvolver alguns dos principais designs do filme — o que ele fez não só com a criatura, mas também com a nave alienígena encontrada no planeta desconhecido (identificado como LV-426) e com os ovos que contêm os Facehuggers (aquele artrópode “agarrador” que cola no rosto da pessoa com tentáculos, cobre a boca e o nariz e introduz um embrião por meio de um tubo).
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A história original foi criada por Dan O’Bannon, que escreveu o roteiro junto com Ronald Shusett. Uma das inspirações veio do filme que O’Bannon havia feito com o diretor John Carpenter (o mesmo de Halloween e O Enigma de Outro Mundo) em 1974 — Dark Star, uma ficção científica com humor negro em que astronautas enfrentavam um alienígena canhestro e malfeito.
Dan queria utilizar a mesma ideia, mas agora partindo para algo mais elaborado, dramático e tenso. Ao apresentar o rascunho do roteiro aos produtores David Giler e Walter Hill, a história recebeu pelo menos oito tratamentos até chegar à versão definitiva, com adições que tornaram a trama mais intensa — entre elas, a introdução de um androide que faz uma revelação chocante à subtenente Ripley sobre a verdadeira missão da nave e o destino da tripulação.
Esses detalhes de pré-produção e bastidores proporcionaram um clássico do cinema de horror que, há 46 anos, assusta plateias do mundo todo. Atualmente, é uma referência e gerou uma franquia de sucesso para a Fox Filmes, com oito filmes — o mais recente é Alien: Romulus (2024) — e uma série derivada, disponível no serviço de streaming da Disney, Alien: Earth. Além disso, há os crossovers com o Predador em dois filmes: Alien vs. Predador (2004) e Alien vs. Predador: Réquiem (2007).
A História
No ano terrestre de 2122, a nave espacial rebocadora Nostromo cruza o espaço com itinerário de volta à Terra, vinda do planeta mineiro Thedus e transportando 20 milhões de toneladas de minério. No seu interior, sete tripulantes acordam do criossono após um longo período de viagem. Eles são despertados pela central de computador da nave — chamada de “Mãe” —, que recebeu uma transmissão de origem desconhecida vinda de um asteroide que orbita um planeta inóspito.
Como parte do contrato entre eles e a empresa responsável pela nave e pela carga, são obrigados a checar a origem do sinal, caso haja possibilidade de contato com vida alienígena.
No início dessa investigação, provocada pelo computador central, a tripulação questiona se é realmente necessário ir até o planeta e descobrir a origem do sinal. O líder e comandante da nave, capitão Dallas (Tom Skerritt), acaba acatando e, após um pouso problemático, leva o primeiro-oficial Kane (John Hurt, excelente) e a navegadora Lambert (Veronica Cartwright) para investigar o local.
Dentro da nave ficam a subtenente Ripley — que assume o comando temporário —, o oficial de ciências Ash (interpretado magistralmente por Ian Holm) e os engenheiros Brett (Harry Dean Stanton) e Parker (Yaphet Kotto), que monitoram o grupo de exploração enquanto tentam consertar os danos causados na nave.
Após um momento de suspense e tensão, o trio de astronautas entra em uma grande nave alienígena desconhecida, onde descobrem sinais de que ela sofreu algum tipo de ataque interno. Encontram um agrupamento de ovos estranhos, grandes e aparentemente preservados. Quando Kane resolve investigar mais de perto, acaba sendo atacado por um Facehugger, que se agarra ao seu rosto após atravessar a viseira do capacete.
Conduzido de volta à Nostromo, o oficial fica em quarentena enquanto é monitorado por Ash, que descobre que a pequena criatura, em vez de sangue, tem ácido molecular — o que quase provoca um sério acidente interno.
Na minha visão de espectador, esse clima de tensão sobre o que está de fato ocorrendo no planeta é perfeito para a proposta do filme nessa primeira parte — uma introdução ao desconhecido, feita da forma mais insólita e surpreendente possível.
Quando a criatura desaparece do pescoço de Kane e ele finalmente acorda, todos resolvem almoçar no refeitório. É quando o oficial tem um ataque: algo explode em seu peito e um ser salta para fora, aterrorizando todos em volta.
O alien foge e se esconde em algum lugar no interior da nave. A partir desse ponto, embarcamos no conceito máximo de horror que o filme explora com uma maestria única e jamais repetida. Talvez a continuação Aliens: O Resgate (1986), dirigida por James Cameron, tenha causado impacto semelhante — mas mais pela ação do que pelo suspense.
Assista a Alien – O Oitavo Passageiro. O filme continua atual e parece não ter envelhecido um único frame. Até a tecnologia utilizada no interior da nave, que hoje parece retrô, mantém o charme do período. Com efeitos especiais práticos — o alien, por exemplo, era interpretado por um ator nigeriano de 2,18 m vestindo uma roupa de látex —, o resultado é impressionante.
Todos os filmes da franquia, suas continuações e spin-offs (como a série Alien: Earth e os controversos Aliens vs. Predador) estão disponíveis no catálogo do serviço de streaming da Disney. Um ótimo programa para o fim de semana.