O Dia Internacional da Mulher é celebrado no dia 8 de março em todo o mundo. Mas para falarmos nessa data, temos que lembrar que ela é um alerta também para que as mulheres tenham mais cuidados com si mesma.
Em Rondônia, temos várias profissionais de saúde que lidam diretamente com o bem estar feminino. Uma dessas e que se destaca nesse campo da medicina em nosso Estado, é a médica ginecologista Ida Peréa Monteiro.
Nascida no Forte Príncipe da Beira, na época município de Guajará-Mirim, ela atua há 40 anos com a medicina voltada para as mulheres. Ida é uma profunda conhecedora das questões de saúde envolvendo as moradoras da Amazônia, o que a tornou referência e exemplo para muitas mulheres.
A preocupação dela com a saúde e a gravidez precoce em Rondônia, a fez criar o Projeto ‘De Novo Não’, que tem como objetivo proporcionar às meninas a oportunidade de planejarem a próxima gravidez, fazendo com que tenham a chance de estudar e construir um projeto de vida adequado para ela e o filho. Vale lembrar que no Brasil, apenas 25% das pessoas usam preservativos nas relações sexuais.
Drª Ida Peréa, é uma das mulheres escolhidas pelo Rondoniaovivo, nessa série de reportagens em homenagem a Semana da Mulher, para mostrar como ela vê as mulheres hoje, nessas quatro décadas atuando com saúde feminina.
Veja a entrevista:
Desde quando começou a atuar até os dias de hoje o que percebeu em relação ao perfil de suas pacientes?
Ida Pérea - Um grupo de mulheres (as mais escolarizadas) estão adiando a maternidade e reduzindo o número de filhos, o que não acontece com as mulheres do quintil mais baixo de renda e com menos escolaridade.
O grande número de menores grávidas reflete o machismo em nossa sociedade?
Ida Pérea - Reflete mais a iniquidade do país em que vivemos: falta de acesso a métodos contraceptivos eficazes na rede pública de saúde, falta de acesso aos serviços existentes e baixa escolaridade de percentual expressivo da população.
A medicina é uma área de muito machismo?
Ida Pérea - A medicina hoje é uma profissão de maioria feminina, entretanto, os cargos na direção dos órgãos de classe, são em sua maioria, ocupados por homens.
Como a senhora enfrentou e enfrenta o machismo?
Ida Pérea - O machismo estrutural é difícil de enfrentar porque ele tem várias “caras”, se disfarça, tem nuances...mas cada feminista tem sua própria arena de embate seja profissional ou familiar.
Na sua opinião a mulher rondoniense evoluiu na luta contra o machismo?
Ida Pérea - O Fórum Popular de Mulheres é um exemplo de como as mulheres rondonienses se organizaram e se organizam desde as últimas décadas do século passado.
Na sua experiência, existe algo que lhe chama a atenção em relação às suas pacientes?
Ida Pérea - Acho que as mulheres vêm conquistando espaços públicos muito lentamente, a aceleração desta conquista depende da democratização dos espaços domésticos, depende de os homens brasileiros assumirem o cuidado compartilhado com a prole, para que elas tenham tempo de prosperar. A equidade de gênero é tão importante que o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 5 (ODS 5), da Organização das Nações Unidas, contempla a questão. Não é possível haver prosperidade para as famílias e as sociedades com relações de gênero assimétricas. O Brasil dispõe de um arcabouço jurídico bastante progressista (Lei Maria da Penha, Lei de Cotas, etc) mas isso não basta, são necessários mecanismos sociais eficientes para que isso tenha reflexo positivo na vida das mulheres, das famílias e da sociedade.
Qual o recado para as mulheres de RO nessa semana Internacional da Mulher?
Ida Pérea - É necessário não desistir de aprender, de estudar: não há felicidade sem prosperidade e não há prosperidade sem escolaridade. O conhecimento liberta, empodera. Essa é grande bandeira do feminismo: O empoderamento das mulheres para que cada uma possa tomar a decisão que considerar mais adequada para sua vida.