Dia dos Namorados deve ser mais uma data marcada por lembrancinhas

E alerta que o comércio deve amargar perdas em um cenário de queda sobre queda.

Dia dos Namorados deve ser mais uma data marcada por lembrancinhas

Foto: Divulgação

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RIO - Às vésperas do Dia dos Namorados, o comércio brasileiro se prepara para mais uma data comemorativa de vendas fracas e de troca de lembrancinhas entre os apaixonados. A Pesquisa Nacional sobre a Intenção de Compra da Fecomércio RJ/Ipsos estima que 29% da população — 45 milhões de pessoas — pretendem presentear alguém na data este ano.

No ano passado, os consumidores em potencial representavam 34% da população. Já a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) prevê um recuo de 8,5% nas vendas varejistas no período. E alerta que o comércio deve amargar perdas em um cenário de queda sobre queda.

— Nós projetamos uma queda de 8,5% em relação a 2015, que já havia registrado recuo de 1,1% ante o ano anterior. Vimos picos em 2008, 2010 e 2011, mas de 2012 em diante observamos que o varejo perdeu força, e não só no Dia dos Namorados. A lembrancinha vai continuar em moda por causa da crise — explica Fabio Bentes, economista da CNC.

Até mesmo o carro-chefe do varejo, o vestuário, que responde por R$ 77 de cada R$ 100 gastos, deve ir mal este ano. A projeção da CNC é de queda de 8,7% para o segmento — retração superior à média porque ainda está em ação tudo o que empurra o varejo para o pior ano da série histórica do IBGE, iniciada há 15 anos, ressalta Bentes. Mesmo assim, de acordo com a pesquisa Fecomércio/Ipsos, as roupas devem representar 30% dos presentes neste 12 de junho.

Em meio à retração do comércio, a Fecomércio/Ipsos destaca a alta prevista de 13% para o setor de calçados, bolsas e acessórios este ano — acréscimo de oito pontos percentuais em relação ao ano passado. Um segmento, diz o economista da CNC, que envolve uma classe mais alta, menos exposta aos efeitos da crise.

— O país está mais pobre, mas há desigualdade de renda. Esses produtos têm um público de maior poder aquisitivo, que não tem tido a mesma dificuldade de fechar as contas. O mercado premium vai ser atendido. Mas aposto que a alta deve ser menor que de anos anteriores e nem de longe vai ajudar o varejo a evitar um resultado tão ruim — comenta Bentes, que projeta uma queda de 0,6% para o setor no ano.

CAUTELA, PALAVRA DE ORDEM

Segundo Bentes, cautela deve ser a palavra de ordem entre os consumidores nesta data comemorativa. Como há retração do emprego e da renda, inflação acima de 9% e o crédito mais caro — juros em 70,8% ao ano, o mais alto da série histórica —, os recursos disponíveis para o consumo estão em baixa. Quem costumava procurar presente em shopping, diz, este ano vai à Saara, ao Mercadão de Madureira para economizar.

— Em momento de aperto, o consumidor não tem ativo para gastar. O celular, por exemplo, que os jovens adoram dar de presente nesta data, dificilmente é pago à vista. Mas as pessoas estão com receio de assumir prestações com o emprego em risco. Ninguém vai querer se complicar, nem vai querer que o parceiro se complique. A cautela vai ser um item de sobrevivência, até porque depois tem Dia dos Pais, Dia das Crianças — frisa o economista da CNC.

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E é possível que alguns casais optem por deixar o Dia dos Namorados passar em branco. Isso porque o 12 de junho divide com a Páscoa o quinto lugar entre as datas comemorativas que mais movimentam a economia brasileira. Por isso, explica Bentes, a data costuma sofrer em tempos de crise. Sabendo disso, o varejo já está preparado: mudou o mix de lojas de marcas importadas para produtos mais populares, trocou fornecedores, negociou melhor com a indústria nacional e investiu em liquidação, algo no que o comércio “se viciou” devido à crise.

A CNC prevê que o varejo movimente R$ 1,8 bilhão em função do Dia dos Namorados. Já a pesquisa Fecomércio/Ipsos é bem mais otimista e projeta que o valor gasto no varejo por causa da data chegue a R$ 6,3 bilhões, apesar da diminuição da intenção de compra. O levantamento também constatou um aumento no valor médio que o brasileiro planeja gastar entre presentes e comemorações: subiu de R$ 121,13, em 2015, para R$ 142,43, este ano.

— O ticket médio subiu porque temos uma diminuição do número de pessoas que vão comprar presente ou comemorar este 12 de junho. Na pesquisa, o entrevistado fala um valor mais alto porque já contabilizou a sensação de inflação sobre o que pretende gastar. Além disso, o consumo está mais espaçado, mais seletivo, então o consumidor pode se dar ao luxo pontualmente — analisa Christian Travassos, economista da Fecomércio.

Em momentos de retração da economia, destaca Travassos, as datas comemorativas são importantes porque, além de estimularem o consumo de presentes, também turbinam o setor de lazer, alimentação fora de casa e viagens. Com isso, diz, há mais encomendas, aquecendo a indústria e favorecendo a arrecadação de impostos.

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