O ranchinho de paxiuba - Osmar Silva

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Foto: Divulgação

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A primeira vez que tentei chegar ao Campo Novo, não consegui. Foi uma aventura e tanto. Ficamos na estrada, no meio de um sertão silencioso e quente. O sol do verão tisnava a pele clara do casal de técnicos do Banco Mundial que rodava Rondônia para ver se liberava dólares para o Polonoroeste.

O jipão Toyota empacou no areião da estrada. O motorista, um técnico do Incra, bem que tentou. Mexeu de lá, mexeu de cá, e nada. Não era bateria nem bobina, tampouco bomba de óleo. Tudo funcionava. Mas o motor não pegava. A areia queimava os pés. Mesmo sob as botas. Um bando de araras olhava curioso e sua algazarra quebrava o silêncio. Nem vento nem brisa. Uma fornalha, desidratando corpos em ondas de suor.

Mesmo corpos acostumados, como eu e o motorista, sentíamos o suor pegajoso escorrer pelos rostos, sovacos e regos das bundas. Os americanos – não lembro o nome deles -  estavam afogueados, vermelhos. Mas só restava esperar passar algum veículo da mineração de cassiterita de Campo Novo ou de algum particular para nos socorrer.

Em 1979 Campo Novo era o distrito de Porto Velho mais distante. Acessível pela BR-421, a 120 quilômetros de Ariquemes. Vila de remanescentes de soldados da borracha e de garimpeiros. A estrada tinha pedras pontiagudas em curvas fechadas sobre morros e serras e trechos de areal cortados por inúmeros igarapés alem do majestoso Rio Jamari.

Estávamos ao Deus dará. Comecei a andar pela estrada pra ver se encontrava algum morador. Coisa rara naquele sertão. Deu certo. Meia légua depois achei um ranchinho de paxiuba. Terreiro limpo e quintal pelado. Nenhum bicho, nenhuma mandioca, nenhuma goiaba. Nem cachorro tinha. Mas havia um poço e um balde preso numa corda.

Não vi gente. Gritei, chamei, nada. Arrodiei e olhei pelas frestas. E vi, sentadinha num improviso de cama, uma menina com uma criança no colo. Olhos assustados. Falei manso, disse que nosso carro quebrou e que estava buscando ajuda. Que tinha mais gente e que estávamos com fome. Silêncio. Perguntei pelos pais: - tão na roça. Resposta seca: já tão chegando. Pedi água. Pode tirar. Chegaram os pais e os americanos. Quase juntos. Mais calma, a menina abriu a porta.

A família simples abriu-se em cordialidade. Chegaram há três meses, disseram. Estavam derrubando mato pra fazer uma roça de arroz, feijão, milho e macaxeira. Carne, só de bicho do mato. Querem comer? Tem ali aquela bandinha de porco do mato. Apontou pra cima do fogão de barro. A mulher torceu as mãos. Num tem mistura nem tempero.

- Demora de passar carro? Perguntou a americana. Às vez até três dias. No terreiro havia uma palmeira de babaçu. Cocos maduros caindo. Falei pra mulher: olha ali o tempero! Não entenderam. Expliquei que dentro daqueles cocos haviam amêndoas de onde se tira leite e se faz azeite. O leite, para o café da manhã e para as crianças. Serve também para temperar caças, aves e peixes. E o azeite, só para frituras. Como tira? Pedi um machado e um porrete. Quebrei o coco e tirei as castanhas. Passei no moinho e adicionei água. E já tínhamos o leite. Ensinei um segredo de sobrevivência para o casal catarinense.

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