ESPECIAL - RESKY empolga Porto Velho - Por Luiz Leite de Oliveira e Evandro da Rocha Lopes

O prédio monumental, imponente, majestoso, inovador, contornado com lâmpadas incandescentes que destacavam,  projetavam e iluminavam suas linhas arquitetônicas, em puro “Art Decó”, inspirado e copiado por George Chediak Resky, por onde andou pelo mundo, principalmente, nos teatros da Brodaway de Nova York. Seu palco foi inspirado no famoso “Olimpiá”, Paris. Brilhava no centro de Porto Velho ao lado da praça Rondon no mesmo estilo, com Tangenciada por uma torre, que destacava mais o prédio, forte amarelo, onde foram gravadas com letras formatadas em alumínio, em grande estilo, Cine Teatro Resky... E sem dúvida foi um dos mais belos  cine-teatros do Brasil.

CINE TEATRO RESKY - Porto Velho se rendeu fascinada, com a majestosa beleza daquele Cine Teatro, que foi inaugurado no dia 17 de junho de 1950. A partir daquela data, ele passou ser o orgulho do então território federal do Guaporé...

Porto Velho se rendeu fascinada, com a majestosa beleza daquele Cine Teatro, que foi inaugurado no dia 17 de junho de 1950. A partir daquela data, ele passou ser o orgulho do então território federal do Guaporé... Onde o luxo e o requinte daquela nova sala de espetáculo, empolgava... “Poderia ter sido construído, na Praça Tiradentes, na Cinelândia (Rio)?” ... “Porquê não na iluminada Paris? Ou na Broadway?”. Comentavam os mais empolgados, principalmente os estrangeiros de inúmeras nacionalidades, que ainda moravam ainda, na cosmopolita Porto Velho, naquele final dos primeiros 50 anos, metade do século XX. Na realidade George C. Resky, uma pessoa muito viajada, inspirou-se em obras arquitetônicas para o seu novo empreendimento. Acumulou ideias e sonhos durante anos... Cuidadosamente, levou essa ideia para frente. Em 1947, resolveu colocar no papel, transformar em “Projeto de Arquitetura”, para isso chamou o competente professor de desenho, LEONCIO CUNHA (irmão dos artistas plásticos Fracasso e Claudio Cunha), que concordou em tornar realidade o projeto do Cine Teatro. Naquele mesmo ano, iniciou a desafiadora obra, um verdadeiro desafio para os construtores do território federal do Guaporé. O arquiteto José Otino de Freitas, Foi convidado por Resky que também detalhou o projeto e acompanhou a obra.

A estreia

“HOJE, logo mais as 19 horas, assista uma sessão elegante no Cine Teatro Resky, o filme fantástico... “A Pecadora” com atriz mexicana de todos os tempos... Com vocês... A belíssima, incomparável, internacional, Maria Felix... Com música de Agostin Lara, que aparece junto ao seu piano.”Ainda neste mês “Malaguena Salerosa”, “O ÉBRIO”, Escolas de Sereia, Flying Down to Rio, e filmes com a Eliana... Não percam.  Assim, descrevia o locutor, através do serviços de alto falantes no alto da torre, do teatro e cinema e, entusiasmado com o grande público que aguardava na fila o na Praça Rondon. Muitos,aguardavam com convites para adentrarem no hall espelhado, emoldurado com os astros mais famosos do mundo do teatro e do cinema. “Uma Beleza, recordou cheia de emoção, Menta Resky.

Na boca de cena, o grande palco. Sobe Araujo Lima...Fala da importância daquele espaço cultural para o território do Guaporé, para público.

 Alguns prédios já existentes ainda hoje no centra da cidades, destacava-se já o “Prédio do Relógio”, Mercado, Palácio, Carmela Dutra, Barão dos Solimões, Catedral, Colégios Salesianos, Maçonaria... Estava em construção o  “Porto Velho Hotel” e a praça Aluizio Ferreira... E outros!

Bucólica, por incrível que pareça, era ornamentada nos canteiros centrais, por árvores, da espécie “bejamins”, com cúpula bem aparada...

Voltamos mais uma vez na praça lotada, 19 horas, inúmeras pessoas ansiosas, esticavam-se para ver a entrada do Governador Araujo Lima e do prefeito de Porto Velho Rui Brasil Cantanhede e seu “staf” de assessores de primeiro escalão  e pessoas famosas  da cidade. Enquanto isso, misturavam o som dos altos falantes com a famosa Banda de Guarda territorial do Guaporé, que executava clássicos e dobrados. Publico variado desde os “categas” do Caiary, a massa popular vindo dos poucos bairros da cidade... As mulheres, dos cabarés famosos de Porto Velho, queriam ser a “Maria Felix”, estavam lá como fossem a sua própria encarnação... Com a sobrancelhas, olhos, boca vermelho... O rosto. Todos estavam glamourosos.

Começavam entrar no Cine Teatro, inicialmente apenas as autoridades e convidados, quando o governador Araujo Lima, descerra a fita...aplausos. É servida a champanhe francesa. Foi o dia mais feliz da vida de George Resky... A sua mulher Geni e os filhos sorriam. Finalmente o público começa entrar em fila após a recepção inaugural.

 Emoção... Dentro da sala de espetáculo rapidamente ficou lotada... Ah! Estava a elegante plateia, em poucos minutos foram ocupadas as poltronas de madeira, importadas... Curiosidade e sensação de orgulho, constatava-se.

SALA DE ESPETÁCULO - Uma platéia elegante

Emoção geral!

...Badaladas sonoras, silenciou o público.

Na boca de cena, o grande palco. Sobe Araujo Lima...Fala da importância daquele espaço cultural para o território do Guaporé, para publico, daquela “sala de espetáculos e prédio um dos mais belos teatro da região”. E conclui.

Agora a última badalada, anunciava que o filme... Vai começar.

Na boca de cena, uma belíssima cortina de veludo vermelho, vai abrindo-se aos poucos...devagar...Enquanto isso, as luzes aos poucos, foram se apagando...de trás para frente. A última fila, na transversal de luzes, apaga-se,  próxima do palco. Vem naquele momento as primeiras imagens iluminadas de “A Pecadora...”

“Uma maravilha, meu pai realizava um sonho, ele amava muito essa terra, ele amava o Brasil. No dia da estreia do Cine Teatro Resky, serviu champanhe francesa para os filhos e amigos, foi o dia mais feliz de sua vida...” Menta, relembrou para nós, seus olhos marejavam, na entrevista de surpresa que tivemos com ela...Poucos dias depois, tragicamente desaparece.

Inauguração - Corte da fita pelas autoridades, governador Araujo Lima, prefeito Rui Brasil Cantanhede, e George Chediak Resky, inauguram uma dos mais belos cine teatro em "art decó", 17 de junho de 1950.

Hoje e a falta de incentivo a cultura, a crise econômica do país, pela falta de público nos cinemas, ou a busca de locais mais seguros nos Shoppings com cinemas e teatros, os preferidos. A produção do nacional, a décadas passa por uma grande crise, acentuada nogoverno Collor, que desmontou todas as formas de incentivo ao cinema e a produção cultural. O público optou também pela televisão ou por outras comodidades, principalmente as virtuais. Em determinada época, as locadoras de filmes  multiplicaram-se, e conquistaram um público ainda ávido pelo cinema.

                    A última sessão de cinema

O velho cine Brasil, que surpreendeu Porto Velho a partir de 1938 trazendo inovações cinematográficas, não resistiu a crise e fechou as portas, a última sessão de cinema, foi exibida no dia 18 de Fevereiro de 1992, marca o fim melancólico do Brasil, de uma sala de espetáculos que lançou o filme sonoro em Porto Velho.

Menta Resky, ao relatar o desaparecimento daquele cinema, emociona-se, tenta dizer o que se passou com seus irmãos, Antônio, João, Sebastião e com ela própria... As dificuldades foram gritantes cada vez se tornava mais difícil as casas de espetáculos em funcionamentos. Altos impostos municipais, federal e Estadual. Ficaram sem qualquer solidariedade, apoio por parte do Governo de Rondônia e Prefeitura de Porto Velho... E o pior para eles foi a indiferença e silêncio da população. Ela chora. Por ela e por seu pai já desaparecido (1963) e por seus irmãos, que mantinham-se unidos, tristes e silenciosos, diante o drama diante que não parecia comover ninguém.

Menta Resky, ao relatar o desaparecimento daquele cinema, emociona-se, tenta dizer o que se passou com seus irmãos, Antônio, João, Sebastião e com ela própria...

O cine Teatro Resky, também é afetado com a crise. As altas taxas de impostos, energia elétrica, água... São apenas alguns dos empecilhos, mesmo assim, aquele cinema teima em se manter funcionando, com o esforço pessoal dos irmãos Reskys, mesmo que o público pagante não ocupe as 776 poltronas da sala de projeção, como ocorria no passado. Suas cortinas de veludo vermelho permanecem quase sempre recolhidas, fechadas, assim, foram diminuindo  as apresentações teatrais, de filmes... E finalmente não são mais feitas representações artísticas.

A última sessão de cinema foi apresentada no Reskky, pouco anos depois.

 Foi colocado a venda. Os membros da família, inicialmente descartaram a venda do cine teatro Resky para igrejas evangélicas.

Por outro lado a questão moralizadora dessas seitas passam a assediar os espaços de cinema e teatros em todo o país e, adquirindo, transformam em igreja evangélicas. Foi o que aconteceu...

O Templo que foi um dos mais belos espaços de teatro e cinema de Porto Velho, que exibiu na sua estreia em 17 de junho de 1950, com o filme “A Pecadora”.

A família Resky, foi desaparecendo... Primeiro Menta, João, Sebastião e finalmente Antônio.

 Os descendentes desse grupo admirável de pioneiros vendem e para isso não fazem nenhuma exigência.

  O Local, agora passa vender a imagem, da falsa fé, falsa cura,  e falsa moralidade... Por trás está o comercio da fé, descarada e, para isso, sem os devidos escrúpulos, deformam, descaracterizam, agredido em suas características e, o crime maior foi transformá-lo no espaço da falsa moralidade e da negação da CULTURA.

É difícil o Cine Teatro Resky voltar ter as atividades voltadas para arte e cultura, o orgulho do povo de Porto Velho. Os espertalhões que usam a fé para ludibriar os incautos, claro que não vão soltar essa presa bem localizada e com visibilidade, de fácil acesso, ao lado da praça do Baú (antiga praça Rondon). Como eles falam “Essa casa é nossa e é isso que queremos ela fique” Para salvar almas?

Esperamos que a mobilização popular para salvar o Resky, cresça e que a justiça possa rever ter essa situação, no mínimo determinar que seja retirada a grande mascara, naquele prédio, que humilha as raízes do povo dessa terra. Que poderia ser devolvido aquilo que do povo ou por que não, tornar de  utilidade pública. O Governo de Rondônia deveria ter adquirido, na época que lhe foi oferecido... Uma dívida imperdoável.

Os irmãos Reskys, João, Antônio e Sebastião

... não quiseram vender o Cine Teatro Resky à Igreja Universal do Reino de Deus que tem muito dinheiro e poderia fazer uma boa ofera para instalar em pleno centro de Porto Velho um palco de suas barulhentas reuniões. A ideia dos Resky é preservar o patrimônio como referência dos valores históricos do  Estado, pois o cine teatro Resky faz parte da historia da cidade. Está no “Resky” a solução para falta de teatro em Porto Velho, é uma grande ideia. (Alto Madeira- 8 de fevereiro de 1986).

George e Geny Resky

Resky é defendido Por moradores`

 “O governo não precisa procurar local e nem construir, um teatro em Porto Velho, disse Luiz Leite, lider do grupo de Amigos do Cine Teatro Resky. ..O Teatro já existe e permitirá ao governo, economizar até na compra de poltronas, já que existem também...” Foi encaminhado um manifesto, com  centenas, em abaixo assinados, foi o pedido encaminhado ao governador de época VALDIR RAUPP. Não temos interesse, pois pretendemos construir um novo teatro”, esquivou-se Raupp. (O Estadão – 08 de fevereiro de 1996).

A Família Resky descarta a venda do cinema à igreja de Macedo

“...O Cine Teatro Resky, uma das casas de espetáculos, mais antigas de Porto Velho, está passando por uma  reforma estrutural profunda. As obras que já duram 7 meses, foram mostradas ontem a representantes da Associação do Patrimônio Histórico do Estado de Rondônia e Amigos da Madeira Mamoré e a Jornalistas pelos empresários, João, Antônio e Sebastião, Resky. Eles descartaram a hipótese de vender o imóvel a Igreja Universal do Reino de Deus, cuja o líder é o pastor Edir Macedo, depois que viram na televisão, uma imagem de Nossa Senhora, sendo chutada por um pastor. A ideia é manter a casa como opção....” ( O Alto Madeira – 7 de fevereiro de 1996).

                        Pesquisa com base na entrevista com Menta chediak Resky:

                                    Autores

                            Luiz Leite de Oliveira

                        Arquiteto e urbanista, pesquisador e Presidente da Associação de Amigos da Madeira Mamoré

                            Evandro da Rocha Lopes

                            Professor de história, pesquisador e advogado