CRÔNICA - O borracho cantante na Cordilheira – Por Nonato Melo e Silva
Foto: Divulgação
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Fico ali, observando da minha poltrona confortável, por trás do vidro da janela, aquele viver montanhez dos resistentes Mapuches, ou o que a selvagem colonização fez restar deles. Tento idealizar a vida dos habitantes das casinhas, na mobilização por daquelas veredas, no frio, nas histórias...
Súbito um passageiro alcoolizado começa a cantar alto lá atrás... Mas a canção andina fica tão suave em sua voz rústica porém melodiosa, falando de uma certa Maria Dolores e da distância, de amor simples, algo silvícola, que se nutre de um beijo há muito roubado, que superou tragédias e vive para reencontrá-la... Penso comigo, olhando no firmamento o solitário condor, que nada poderia ser mais apropriado para aquela paisagem altiplana do que a canção lá atrás. Me incomoda o funcionário da empresa ir até o indígena e o interromper polidamente. Volta a sua cabine, junto ao motorista, e o cantante retoma a música, agora baixinho. Depois fica só no assovio, igualmente terno, até se calar e dormir. Durmo também, considerando o que perdem as pessoas que não viajam.
* O resultado da enquete não tem caráter científico, é apenas uma pesquisa de opinião pública!