A Defesa Civil de Porto Velho interditou na manhã desta sexta-feira (22) o Mirante III, um dos mais tradicionais pontos turísticos da capital do estado de Rondônia. De acordo com o Chefe da Divisão de Minimização de Desastres da Defesa Civil, Natanael Castro Moura, a interdição do Mirante III teve de ser realizada, pois a base de sustentação do local foi atingida pelos efeitos do Rio Madeira.
“Depois da construção das usinas o comportamento do rio Madeira ficou diferente, começou a se formar o que os ribeirinhos chamam de marolas. Com a abertura e fechamento das compotas da usinas para manter o reservatório ele acaba construindo esse novo efeito”, afirmou Natanael Moura.
Ainda de acordo com o representante da Defesa Civil, um laudo elaborado por engenheiros comprovou a existência de rachaduras dentro do espaço do Mirante III que comprometem a sua estrutura.
“Por enquanto a comunidade que mora na parte superior onde possui asfalto o risco é mínimo, porém existe um grande risco envolvendo a comunidade que mora na margem do rio, pois um possível sedimento dessa área acarretaria em uma grande tragédia, pois levaria essas residências consigo”, disse Natanael Moura.
O chefe de minimização de desastres da Defesa Civil na capital disse ainda que o órgão já havia solicitado ao Consórcio Construtor responsável pela obra da usina de Santo Antônio, que o enrocamento feito de pedras feito para proteger a margem do rio Madeira fosse estendido até o final da avenida Farquar, porém, o pedido não foi acatado pelo consórcio .
A comunidade
Proprietários do Mirante III e moradores há mais de 25 anos da área interditada pela Defesa Civil, o casal José Carlos Rodrigues Dantas e Rosa Sichinel Dantas,
mostravam desolação com o fechamento de seu estabelecimento.
Segundo José Carlos, durante toda a sua vida, jamais havia assistido um fenômeno tão brutal no rio Madeira. O casal ainda afirmou que irá acionar à justiça para intervir na situação de penúria motivado pelo fenômeno ocasionado pela usina.
“Desde 1988 o Mirante III funciona em Porto Velho, além de ser nossa fonte de renda é um ponto turístico da nossa cidade. Aqui é um local onde a comunidade vem apreciar um pôr-do-sol da Amazônia, degustar comidas típicas, porém a cidade está perdendo tudo isso. Não conseguimos compreender como chegamos a esse ponto”, disse o casal Dantas, proprietários do Mirante III.
Localizado logo abaixo do Mirante III, mais sete residências de comunidades tradicionais da região estão em estado de alerta. O barranco que vem sendo consumido pela parte debaixo vai começando a Ceder de um lado, enquanto o rio Madeira e seus assombrosos banzeiros avança de outro.
Comprimidos nessa região estão sete famílias, uma comunidade de aproximadamente trinta pessoas, que não tem para onde ir e nem sabem o que fazer. Nessa comunidade existem moradores que ali vivem há mais de 60 anos, e isso porque herdaram a área de seus familiares, são os típicos ribeirinhos de Porto Velho.
Porém, essas pessoas não são consideradas “obrigação” das usinas, que alegam o fato dessas pessoas viverem em áreas irregulares, na margem do rio, em área da União. Mas, o fato é que nessa região, os moradores possuíam quintais com mais de 60 metros até a beiora do rio Madeira.
Sempre haviam cheias, porém o rio retornava ao seu local de origem, não existiam ações erosivas dessa intensidade. Áreas que antes eram campos de futebol, bambuzais e plantações de mangueiras, atualmente estão tomados pelo rio e já possuem mais de dez metros de profundidade, além de contarem com passeio rotineiros de jacarés.
Enquanto isso a procrastinação do consórcio responsável em resolver esse problema, continua intensificando o sofrimento desses tradicionais moradores portovelhenses.