Sobre o descaso para com o patrimônio histórico, cultural e arqueológico em Rondônia - Por Marcos Teixeira

Sobre o descaso para com o patrimônio histórico, cultural e arqueológico em Rondônia - Por Marcos Teixeira

Sobre o descaso para com o patrimônio histórico, cultural e arqueológico em Rondônia  - Por Marcos Teixeira

Foto: Divulgação

Receba todas as notícias gratuitamente no WhatsApp do Rondoniaovivo.com.​

 Tenho resistido muito a começar a escrever mais solidamente sobre o tema do descaso e falta de cuidados com o nosso patrimônio histórico, cultural e arqueológico em Rondônia em geral e em Porto Velho, cidade onde resido, em específico. Assumo o erro. Mas antes tarde do que nunca, após o penitenciamento é hora de arregaçar a manga e partir para o trabalho.
Nesses tempos de tantas transformações em nosso estado de RO e em sua capital, Porto Velho, fico estarrecido diante da enormidade do descaso para com o patrimônio histórico, cultural e arqueológico que possuímos e que está sendo sistematicamente destruído sob o olhar indiferente ou mesmo conivente dos poderes estabelecidos para preservá-los e protegê-los. Pior, a sociedade pouco tem se manifestado. Assistimos há poucos dias a destruição do antigo Marco divisório dos estados do Mato Grosso e Amazonas, situado logo abaixo da cachoeira de Santo Antônio, levado pelo banzeiro provocado pela abertura de uma das turbinas da Hidrelétrica. Alardearam que o mesmo foi resgatado. Sim, aos pedaços, destruído. Será que irão RESTAURÁ-LO ou apenas o maquiarão e farão remendos para o recolocar no lugar? Ou quem sabe, nem isso, uma vez que as vozes sociais pouco têm clamado nesse sentido. Vimos nesses dias que a ponte da EFMM que corta o rio Jacy está submersa e que os autoridades das UHEs do rio Madeira informaram que a mesma ponte ficará, doravante submersa, em média por 3 meses por ano, tendo uma autoridade patrimonial informado que tal situação não implicará em danos à ponte que é de ferro.
Agora temos a notícia de que as águas do reservatório de Santo Antônio estão chegando à igreja do mesmo Santo, fato inusitado em qualquer outro momento das histórias das enchentes do rio. O que estará acontecendo? Porque nada foi feito de forma preventiva?
 Ouvi relatos sobre a transformação de antigos paredões de pedra do Jirau, cobertos de petroglifos, pinturas rupestres e outras manifestações artísticas e culturais de sociedades indígenas ancestrais sendo transformados em brita para o avanço das barragens daquela UHE. Custei a achar que tal fato poderia ser sequer pensado. Hoje penso de outra forma.
Ainda vale a pena retornar ao tema do “CASARÃO DOS INGLESES” ou Casarão de Santo Antônio, que se encontra ameaçado e que o MPF me interpelou para saber de sua importância histórica, uma vez que, segundo o próprio MPF, o IPHAN declarou que o mesmo edifício não teria relevância histórica alguma. Aí a questão? O que é ter importância histórica? O sítio da antiga cidade de Santo Antônio é protegido e tombado pela Constituição do Estado de Rondônia e o casarão se encontra nele. Por lei, mesmo que o edifício não seja tombado, a paisagem local não pode ser alterada. Mais, será que a última construção civil daquela que foi a primeira cidade do Território federal do Guaporé não tem relevância histórica? Será que as memórias de tantos fatos sociais, culturais, políticos e históricos ali passados não asseguram sua relevância? Com a palavra o IPHAN.........
 A pergunta é: com base em que este órgão e seu superintendente afirmaram isso? A ferrugem deixará de corroer as estruturas? O leito do rio onde a ponte está assentada não irá desbarrancar? O assoreamento não comprometerá suas estruturas?Porque então a ponte da rodovia foi reforçada para suportar as enchentes? Por outro lado as fotos sobre os desmoronamentos dos barrancos nas áreas dos mirantes deixam claro que o flagelo provocado pelos banzeiros vai destruir patrimônios naturais da comunidade de Porto Velho.
Enfim, tive ontem a triste notícia de que um funcionário do Arquivo Histórico do Centro de Documentação da SECEL/RO, estava recortando jornais de uma coleção que deveria estar protegida, guardada e preservada. Alegando estar preservando notícias sobre o bairro do Roque, esse mesmo funcionário, a mando de seu superior destruía parte da memória impressa de nosso passado como sociedade. Descaso? Incompetência dos dirigentes do órgão? Negligência ou má fé e crime contra o patrimônio? Acho que temos aí um pouco de tudo.
E por aí vai. Hoje temos funcionando um Curso de Arqueologia na UNIR, formamos uma turma de especialistas em Arqueologia na FSL e a prefeitura consegue obter todas as licenças para obras no igarapé Santa Bárbara, berço da cidade de Porto Velho, sem realizar um único e mero diagnóstico arqueológico da área de enorme relevância para a memória da capital. E o que pensar de todas as outras obras, loteamentos, estradas, portos, pontes, etc. A lei é clara. O laudo arqueológico é tão importante como os laudos ambientais. Onde ficam as autoridades responsáveis pelo assunto? O que elas têm a dizer sobre isso tudo?
 Pensando nisso e em muitas outras coisas os Departamentos de História e Arqueologia da UNIR fizeram hoje uma reunião em comum. O tema não poderia ser outro. Pauta única, o patrimônio histórico, cultural e arqueológico de Porto Velho e de Rondônia e os estado de descaso e abandono por que este mesmo patrimônio tem passado. A situação de total descaso e abandono em que se encontram nossas edificações, patrimônios naturais e tantos outros.
Assim, o grupo presente propôs a criação de uma força de trabalho, um grupo de estudos e pesquisas sobre a questão e a abertura de canais de diálogos com a sociedade que tem assistido a tudo, escandalizada, mas que, desagregada, pouco pode fazer. Estamos, então, criando o GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISAS INTERDISCIPLINARES SOBRE O PATRIMÔNIO HISTÓRICO, CULTURAL E ARQUEOLÓGICO DE RONDÔNIA.
Este Grupo deverá propor ações sociais, via mídia eletrônica, redes sociais, imprensa em geral na tentativa de estabelecer o debate, a vigilância e a preservação de nossos bens patrimoniais. Queremos poder aplaudir nossas autoridades, empreendedores e outros pelo bem que possam vir a fazer ao nosso patrimônio, à nossa memória social comum e na preservação de nossa identidade como povo. Enquanto isso não for possível, como no atual momento, iremos trabalhar para esclarecer a sociedade, reuni-la em torno de causas comuns e lançar o debate e a luta civil organizada, legal e legítima em defesa de nosso acervo patrimonial.
Estamos trabalhando para o lançamento de um BLOG sobre o tema do Patrimônio Histórico, Cultural e Arqueológico. Da mesma forma os Departamentos de História e Arqueologia irão criar uma página no site da UNIR para tratar oficialmente do tema. Dessa forma a Academia irá tomar posição, oferecer seu parecer embasado no conhecimento cientifico e acadêmico e assim, estimular a sociedade nessa caminhada rumo ao respeito aos bens patrimoniais e á preservação de nossa memória coletiva como um povo, um estado e um município.
Não suportamos mais ver nossa memória e bens patrimoniais tratados com tamanho descaso e descuido. A hora é agora devemos, todos nós, somar esforços para preservar o que restou de nosso patrimônio. Junte-se a nós você também. Todo apoio, contribuição e iniciativa nesse sentido será bem vinda.
Direito ao esquecimento

A política de comentários em notícias do site da Rondoniaovivo.com valoriza os assinantes do jornal, que podem fazer comentários sobre todos os temas em todos os links.

Caso você já seja nosso assinante Clique aqui para fazer o login, para que você possa comentar em qualquer conteúdo. Se ainda não é nosso assinante Clique aqui e faça sua assinatura agora!

Na sua opinião, qual companhia aérea que atende Rondônia presta o pior serviço?

* O resultado da enquete não tem caráter científico, é apenas uma pesquisa de opinião pública!

MAIS NOTÍCIAS

Por Editoria

PRIMEIRA PÁGINA

CLASSIFICADOS veja mais

EMPREGOS

PUBLICAÇÕES LEGAIS

DESTAQUES EMPRESARIAIS

EVENTOS