O acervo do Festival Nacional de Curtíssima Metragem - Claro Curtas, com vídeos de 30 a 90 segundos produzidos utilizando celulares, webcams, câmeras fotográficas digitais ou outros dispositivos móveis, será exibido hoje, dia 31 de maio, às 20h, no Sesc Esplanada.
O CineOca está entre os inúmeros cineclubes, ongs e escolas, que receberam o dvd com os vencedores das duas edições do festival e propõe o acesso ao público local a esses filmes produzidos de maneira alternativa e criativa.
Com temas como a "Inclusão e Diversidade sob a perspectiva dos diretos humanos”, e "Ser Digital, aprendizado e transformação na sociedade do conhecimento", o festival teve mais de 3 mil vídeos inscritos, enviados por criadores de 24 estados brasileiros e R$ 100 mil distribuídos em prêmios em cada edição. Para os interessados em participar da próxima edição do festival, basta acessar o site http://www.clarocurtas.com.br/
clique no link e assista a dois dos filmes vencedores:
Entrevista: Luiz Alberto Cassol e a importância dos cineclubes para o audiovisual do Brasil
Luis Alberto Cassol é diretor de cinema e publicidade e também cineclubista. Eleito presidente do Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros (CNC) para o biênio 2011-2012, ele conversou com o Claro Curtas sobre o atual panorama do acesso ao audiovisual no Brasil e também sobre os desafios e as missões do cineclubismo no país. 30/05/2011
Como começou sua relação com o audiovisual e que momentos da sua experiência profissional foram mais marcantes para você?
Comecei como cineclubista em 1993, no cineclube da minha cidade, Santa Maria, interior do Rio Grande do Sul. Eu era estudante de administração de empresas, mas sempre fui muito ligado em cinema. Em 1995, comecei um curso de extensão em cinema e televisão e apresentei uma proposta para a criação de um cineclube, que batizei de “Otelo”, em homenagem ao ator Grande Otelo, protagonista do filme Macunaíma. Era um ano emblemático, em que se comemoravam os 100 anos do cinema, e chegamos a exibir mais de 60 títulos, do cinema mudo ao contemporâneo. Desde então, não parei mais com o cineclubismo. Outro ano importante foi 1997, quando fui a Montevidéu fazer um curso com um especialista no cinema, o realizador russo Andrei Tarkovski, com quem sempre me identifiquei muito. Voltei decidido a largar tudo e fazer filmes. Em 2000, dirigi uma campanha política e só em 2002 me tornei um profissional que vive de audiovisual realmente. Em 2003, houve a retomada do movimento cineclubista em Brasília. Foi inesquecível conhecer meus “pares”, pessoas que estavam debatendo cinema, assim como eu.
Quais são seus maiores desafios como presidente do Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros?
O maior deles é consolidar o Conselho como um dos principais movimentos da nossa cinematografia. Isso passa por continuar o grande trabalho de Antonio Claudino de Jesus, meu antecessor. Não há como expressar a dedicação dele como cineclubista, e o desafio será conseguir manter seu legado. Outra tarefa importante é a implantação do Cine Mais Cultura (http://www.cinemaiscultura.org.br), projeto pensado e gestado dentro do CNC em 2008, que tem o objetivo de realizar cursos na área de fomento ao audiovisual brasileiro. Acredito também que seja importante dialogar cada vez mais com as diferentes gerações. Mais do que um desafio, essa é uma grata missão, que fará com que caminhemos rumo à democratização do acesso ao audiovisual.
A maioria da população brasileira não tem acesso às salas de cinema. Quais os principais motivos para isso e como romper a distância entre os espectadores e os filmes?
Só 8% da população do país tem acesso ao circuito tradicional de cinema, através das salas instaladas em shoppings centers, onde 90% do conteúdo exibido são filmes produzidos em Hollywood. O valor do ingresso é o que distancia o público das salas. E boa parte desse valor fica nas mãos do distribuidor, o que prova que a cadeia comercial não foi feita para exibidores ou para produtores e realizadores. É um formato que não se interessa em abrir espaço para a produção brasileira e que lucra com o chamado “valor pipoca”, ou seja, a soma do que se paga desde o estacionamento até a entrada na sala de cinema. No CNC, somos veementemente contra isso e lutamos por novas formas de distribuição e exibição. São os 92% do público brasileiro, que não estão no circuito tradicional, que queremos atingir através dos cineclubes – espaços onde a entrada é franca ou tem valores acessíveis à maioria da população e que auxiliam as pessoas a se questionar e a questionar sua realidade.
Como o acesso mais amplo às diferentes tecnologias e o uso da internet hoje já transformaram e podem transformar ainda mais o audiovisual?
A transformação é radical nos dois casos. É preciso lembrar que se confunde muito a palavra “pirataria”, porque na rede existem muitos projetos que viabilizam as mais diferentes propostas de distribuição do audiovisual. Mas a internet precisa chegar a mais pessoas, já que é a ferramenta mais democrática de todas e é capaz de transformar muito mais do que já fez. Além de sites, portais e blogs, ela oferece inúmeras possibilidades de ver, baixar e trocar filmes. E estética e narrativa também entram na discussão. É avassaladora e transformadora a apropriação da informação na web e como tudo isso se traduz em novidade.
De que maneira os cineclubes podem atuar na democratização do hábito de ver filmes e também da produção de vídeos?
O cineclubismo é formado pelos mais diferentes profissionais. É um dado incontestável: há muitos realizadores envolvidos na composição de coordenação dos cineclubes de todo o país. Isso significa que, nesses espaços, sempre se está pensando em como fazer as obras chegarem ao público. Falando de maneira pontual, o CNC distribui filmes para um circuito cineclubista de abrangência nacional. Também existe, desde 2006, o Circuito Cineclubista de Estreias, que já tem sete edições e conta com uma curadoria de curtas-metragens. Esses são apenas alguns exemplos de como o Conselho busca constantemente fomentar novos circuitos.
A seu ver, como é a relação das pessoas atualmente com os cineclubes? Há novos públicos, novas expectativas?
O que mudou é que agora existe um número maior de cineclubes em função da democratização da tecnologia e dos meios de exibição, hoje mais acessíveis e baratos. No Brasil, houve um aumento considerável: há mais de 1.000 encontros anuais para exibição de filmes e 500 cineclubes formalizados. E a estimativa é que o número de encontros chegue a 2 mil até a metade de 2012. Isso se traduz nas mais diferentes propostas e no alcance de variados tipos de público, considerando idades e interesses.
Em sua opinião, o crescimento dos cineclubes é conveniente para os circuitos exibidores tradicionais?
O que vemos é que aumentam os espaços alternativos, mas nada muda no modelo baseado no “valor pipoca”... A verdade é que os circuitos tradicionais estão satisfeitos com os 8% da população que paga esse valor. Além disso, eles não têm para onde crescer. Estão concentrados na classe média e na classe média alta. Os cineclubes, sim, querem atingir os 92%, porque seu objetivo é formar públicos. A lógica dos cineclubes é diferente: os programas muitas vezes acontecem uma vez só e não se repetem. As pessoas assistem a determinado filme e se instigam a buscar outros. Isso, sim, incomoda os circuitos tradicionais, porque o público passa a vislumbrar outras possibilidades, alternativas que vão além do que lhe é imposto pela experiência do filme com o “valor pipoca”. Abre-se outra janela e há apropriação de cidadania, o que cria toda uma nova perspectiva de criação de novas redes de salas e de um circuito cultural. Sem falar que o espectador se torna mais crítico. Dessa forma, o acesso a bens culturais está cada vez mais democratizado. Aí acontece a revolução.
Quais são suas expectativas em relação à parceria que o CNC e o Claro Curtas estão realizando nesta 3a edição do Festival?
Mais do que expectativa, minha plena convicção é de que distribuiremos 1.200 kits com vídeos realizados em edições anteriores do Claro Curtas, o que cumpre a nossa missão de democratizar a distribuição dos conteúdos. Depois disso, está nas mãos do público apropriar-se de sua cidadania.