Política em Três Tempos
1 – ALTO ESCALÃO
Caso tudo ocorra como está previsto, um dos três petistas da maloca que estão postulando a candidatura da legenda para disputar o governo em 2010 deverá sair de Brasília, nesta quarta-feira, senão falando publicamente como pré-candidato, seguramente com mais – mas muito mais mesmo - de meio caminho andado no rumo pretendido.
Eis que, num encontro conduzido por ninguém menos que o próprio presidente Luís Inácio Lula da Silva, estarão no Palácio do Planalto frente a frente para tirar essa história a limpo a senadora Fátima Cleide, o deputado federal Eduardo Valverde e o prefeito Roberto Sobrinho, de Porto Velho. Participam ainda da reunião o presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, e o ministro Alexandre Padilha, das Relações Institucionais - pasta que, não por acaso, também é referida como das “Articulações Políticas”.
A razão da intervenção do Palácio do Planalto no processo eleitoral rondoniense relativamente ao PT, leitor, diz respeito, basicamente, à existência da postulação do prefeito Roberto Sobrinho, de longe, a mais polêmica de quantas o partido já teve de encaminhar nestas margens do Madeira. Não obstante a mais polêmica, é também a proposta que oferece a perspectiva de construção do palanque não apenas mais robusto como, principalmente, mais alinhado com a formatação prevista pelo Palácio do Planalto e pelas diretrizes do partido para as eleições de 2010.
Fala-se, leitor, do fato de que, das três, é a única capaz de agregar o PMDB à chapa petista – objetivo que está no topo das prioridades da estratégia para todos os Estados segundo os planos de todo aparato político institucional mobilizado para tentar fazer da ministra Dilma Roussef, Chefe da Casa Civil, a sucessora do presidente Lula da Silva. Mas por força da chamada “Lei de Ferro das Oligarquias”, a proposta está sob fogo cerrado de encarniçadas resistências do Diretório Municipal de Porto Velho, basicamente por causa do espólio da Prefeitura da Capital a ser deixado por Sobrinho.
2 – LEI DE FERRO
“Lei de Ferro das Oligarquias”, leitor, é um conceito formulado pelo sociólogo Robert Michels para caracterizar os partidos políticos que deixam de ser meios para tornarem-se fins autônomos. Em síntese, “a lei sociológica fundamental que rege inelutavelmente esses partidos pode ser formulada assim: a organização é a fonte de onde nasce a dominação dos eleitos sobre os eleitores, dos mandatários sobre os mandantes, dos delegados sobre os que delegam. Quem diz organização, diz oligarquia”, conclui Michels. E a conseqüência mais visível dessa transformação é o aburguesamento desses partidos, mormente de seus burocratas, que se aferram com tenacidade mandibular aos nichos de poder eventualmente ocupados, tornam-se doentiamente refratários ao risco, elegem o oportunismo como guia e deixam de ser instrumentos de novas conquistas e de mudança.
Como, ao externar disposição de deixar a portentosa Prefeitura da Capital para se lançar ao desafio de uma disputa maior, Roberto Sobrinho parece ter contrariado essa lógica, o vespeiro oligárquico do petismo caripuna entrou em polvorosa. Consta que, na noite a sexta-feira que passou, ao convocar uma reunião de petistas influentes para auscultar opiniões, o prefeito porto-velhense pode sentir toda extensão das objeções aos seus propósitos. Mas também teve surpresas o suficiente para manter e defender sua tese até a instância derradeira. Tanto assim o é que, até o momento em estas estavam sendo digitadas, o rumor disponível dava conta de que permanecia inalterada sua disposição de participar da reunião de Brasília.
Isto porque, ao contrário do que andou circulando nos bastidores, não foi a grande maioria dos participantes da reunião de sexta-feira que se postou contra seu projeto. Mas, tirante uma ou outra imprevisão, o grupo que há tempos já se mostrara antipático à ideia. Ocorre que, para as pessoas sabidamente favoráveis ao seu projeto que participaram do encontro, Sobrinho pedira para que não se manifestassem. Elementar.
3 – UMA CONJECTURA
Como já lhes conhecia a posição e o encontro não teria caráter deliberativo – não sendo necessário confrontar opiniões para fortalecer posições -, Sobrinho preferiu ouvir apenas as objeções de modo a ter uma idéia precisa da sua dimensão. Resultado: a grande maioria dos que se fizeram ouvir manifestou-se, obviamente, contra a candidatura do prefeito. A maior surpresa ficou por conta das poucas manifestações a favor, sem falar que a maior parte da platéia preferiu entrar muda e sair calada. Conquanto a coluna não possa precisar se foi durante o encontro, sabe-se que, para Sobrinho, o mais desfavorável diz respeito ao que se ficou sabendo sobre Dona Lucilene Peixoto, a primeira-dama da Capital – franca e risonhamente contrária à postulação do marido.
Seja como for, da reunião desta quarta-feira em Brasília vai sair algum sinal de fumaça, acerca do qual tudo que se pode fazer para entender o significado é conjecturar. Na hipótese de que Sobrinho desembarque em Rondônia com a posição inalterada, será legítimo supor que a probabilidade de tornar-se candidato da legenda ao governo no ano que vem terá aumentado a níveis próximos ao da certeza. Nesse caso, as chances da pré-candidatura oficial do peemedebista Confúcio Moura ter sido rifada por cima terão crescido na mesmíssima proporção. Isto porque, para Sobrinho, a suprema condição necessária e suficiente para levar adiante o projeto é assegurar a coligação com o PMDB já no primeiro turno – independentemente da identidade do candidato a vice-governador que a agremiação possa indicar.
Ou seja, na hipótese de que Sobrinho retorne de Brasília ainda disposto a obter a – nessa altura - homologação do seu partido para disputar o governo é porque o presidente Lula e quejandos terão obtido da direção regional do PMDB rondoniense – vale dizer do senador Valdir Raupp & Cia. – garantias de que a convenção da legenda em Rondônia não terá dificuldades para aprovar o acordo sonhado pelo Planalto. Quiçá por Raupp também. Pois.