Medida é uma das compensações da responsável pela construção
da Usina Hidrelétrica Santo Antônio e deve gerar 23 empregos diretos
A construção de um frigorífico destinado ao abate controlado de jacarés na Reserva Extrativista do Lago Cuniã é mais uma das ações da concessionária Madeira Energia S/A - MESA, responsável pela construção da UHE Santo Antônio. O projeto, que foi desenvolvido pela comunidade, tem o acompanhamento e a supervisão do Instituto Chico Mendes e está prevista no Programa de Jusante (região abaixo de uma usina) da hidrelétrica.
Com investimento de R$ 164.352,32, a obra será tocada pela Engepav, com previsão de entrega até maio deste ano. O Entreposto de Jacaré do Cuniã, com 121,35m² de aérea coberta, é composto de dependências para lavagem, sala de abate, sala de embalagem, local para acondicionamento em gelo, despensa e sanitários, com capacidade de abate de até 3.600 animais/ano.
Geração de empregos
O frigorífico gerará 23 empregos diretos. Os trabalhadores, todos moradores da comunidade, foram treinados por técnicos do Instituto Chico Mendes (IMCBio) na captura, transporte, abate, esfola e desossa, com estágio em fazendas de jacarés em Cáceres (MT).
A safra será de 80 dias por ano sendo que a quantidade de animais a serem abatidos será definida por meio de pesquisas realizadas pelo IMVBio, quando um censo populacional determinará o percentual de crescimento e de abate. Atualmente, a população de jacarés no complexo de lagos do Cuniã é de 35 mil animais, calculado na época da cheia. Ribeirinhos chegam a comentar que o número real seja o triplo disso.
Superpopulação de jacarés
A Reserva Extrativista do Lago do Cuniã foi criada pelo Decreto 3238, de 10 de novembro de 1999, tem 400 habitantes, descendentes dos seringueiros que ocuparam o vale do Madeira no final do século XIX. Com a proibição da pesca, pelo local ter se transformado em uma unidade de conservação, houve um desequilíbrio ecológico e a população de jacarés cresceu incontrolavelmente. Os ataques a pessoas têm se repetido nos últimos tempos, com casos fatais, ferimentos graves e apenas sustos.
O presidente da associação de moradores da Resex, Hailton Alves Lopes, 40, ?nascido e criado no Cuniã?, conta que ele próprio foi derrubado da canoa em que estava embarcado há poucos dias por um jacaré. ?Já encontramos animais medindo até 4,10m, mas a média é de 3,90m?.
Pelo menos três acidentes graves foram registrados nos últimos anos: a morte do menino Felipe, de cinco anos, um ataque a um adolescente, que foi mordido no abdômen e uma mulher que foi atingida na perna e precisou levar 260 pontos durante a cirurgia.
A carne do jacaré é cotada no mercado de R$ 25,00 a R$ 50,00 o quilo, dependendo do corte e o couro, do jacaré ?natural? está cotado a R$ 4,00 o cm². Segundo o presidente da associação, já estão sendo feitos contatos com restaurantes e supermercados de Porto Velho e de outras capitais, para a comercialização da carne de jacaré.