ARTIGO – Ainda sobre o prefeito e o baile municipal – Por Francisco Campos
Foto: Divulgação
Receba todas as notícias gratuitamente no WhatsApp do Rondoniaovivo.com.
O outro dia é sexta-feira. E sexta-feira 13. O trabalhador de verdade, que não foi convidado para o baile do prefeito (e, mesmo se tivesse sido, não poderia ir, pois sexta-feira, a despeito de ser o “dia mundial da cerveja”, como alardeava um antigo comercial, é ainda dia útil), tem de sair cedo de casa, saltar as valas e buracos das ruas do seu bairro, ir até uma das muitas paradas de ônibus descobertas e pegar um dos ônibus, que se arrastam pelas ruas de nossa cidade. Ao entrar no simulacro de transporte coletivo, enfia a mão nos bolsos em busca das moedas que facilitam o troco e evitam o prejuízo de descer do ônibus um pouco mais pobre. Segue até o trabalho em pé, pois há poucas cadeiras disponíveis. E, por causa de uma mudança de rota, o trabalhador em questão passa mais tempo no ônibus e ciente de que vai, com certeza, chegar alguns minutos atrasado.
Pela janela, o trabalhador vê algumas das muitas obras paralisadas, que enfei(t)am a cidade. E sente uma ponta de decepção na alma, pois se lembra que votou e pediu votos para o atual administrador municipal. Ele se pergunta o porquê de tantas obras paradas. E se questiona se aquele excesso de tapumes e placas vermelhas pela cidade, na véspera das eleições, na verdade, era apenas para enganá-lo.
O carnaval é a festa das fantasias, das máscaras. O nobre se veste de mendigo. O pobre posa de rei. O machão põe uma flor na orelha e sai, com seu vestido de chita, oferecendo seus serviços carnais. O fracote se veste de viking. A moça desajeitada surge como a re-encarnação da Gilda, eternizada por Rita Hayworth. Muitos se despem, como se o calor aumentasse consideravelmente. Mas, ao fim das festas momescas, vêm as cinzas, e tudo volta a ser o que era antes: o nobre volta à nobreza; o pobre, à pobreza; o machão, à macheza; o fracote, à fraqueza; a moça desajeitada, ao seu mundo de sonhos. A nudez é recoberta. Tudo como dantes no quartel de Abrantes.
Mas há quem queira manter a máscara. Há quem viva na fantasia de um carnaval sem fim.
O trabalhador de verdade não tem essa opção: ou trabalha, ou perde. Precisa manter a família, precisa ter o que comer, lutar pelo vestuário, pela saúde, pela educação. Não tem tempo e nem condições de, em plena quinta-feira, ir para um baile. Se vacilar, sua semana se torna uma perene e cansativa sexta-feira 13. No carnaval pode até cair na farra, se dinheiro tiver, se o cansaço deixar. Mas sempre com a perspectiva da quarta-feira chegar furiosa.
O prefeito, não sei se ainda tirou a máscara, usada com galhardia nas últimas eleições. No festival de promessas, ele trouxe as mais agradáveis aos ouvidos dos simples e, por isso, levou nota dez no quesito urna. Ainda embebido dos lança-perfumes dos seus acólitos, talvez não tenha se dado conta de que o carnaval acaba. E que as máscaras caem.
A cidade é maior que um salão, onde mil palhaços se agitam. O carnaval, a festa, tem hora pra acabar. E há muito a ser feito.
Quando será que o prefeito vai tirar a máscara e se comportar como um trabalhador de verdade?
(Não sei o porquê, mas, de repente, me lembrei do famoso baile na Ilha Fiscal...)
* O resultado da enquete não tem caráter científico, é apenas uma pesquisa de opinião pública!