Existe cultura, existe arte, existe gente que respira e critica o sistema, em busca de identidade própria, do resgate da dignidade dos seus ancestrais. Jovens descendentes dos seres originários da Amazônia mesclados com descendentes de homens e mulheres forçados a deixar o continente africano se juntaram na luta genética e intelectual para gritar suas poesias, rabiscar sua arte e escrever também.
Antes isolados em alguns grupos, foram compilados no periódico C. Jovem, que conta com apoio da Prefeitura de Porto Velho e grupos de base espalhados pelo município. Os garotos do Quilomboclada, e outros grupos culturais estão gerando novidades, divulgando as culturas indígena, africana, buscando grupos que divulgam música pop e erudita, os frutos de uma Rondônia que pouca gente conhece ou reconhece.
Grafiteiros, movimento Hip Hop, artistas de teatro, poetas, todos estão ganhando espaço no periódico. O trabalho de resgate não é fácil. Existem dificuldades tanto na questão de ajustar os colaboradores quanto na busca de pautas, que embora ricas, precisam de um suporte material para serem desenroladas.
O vocalista conhecido popularmente como Boca é um dos articuladores do Caderno Jovem, que conta ainda com Edneide Arruda, Samuel, Professor Chiquinho, Hely Chateaubriand, Coletivo Jovem, Chicão, José Augusto, Cátia Cernov, Zezinho Maranhão, Carlos Mettal, entre outros.
A luta dos divulgadores da cultura popular esbarra na falta de sensibilidade de alguns veículos da mídia, sempre atenta para movimentos artísticos ligados a empresários, e a existência do veículo C. Jovem vem suprir de certa forma as carências que os filhos de proletários vivem no dia-a-dia.
O C. Jovem é uma proposta que merece consideração da população de Porto Velho, que é carente em todos os setores, e através da liberdade editorial pode expressar seu descontentamento e sua ânsia de conquistar um lugar ao sol, longe da oficialidade que normalmente permeia redações de veículos.
A linha editorial é de busca de consciência, de liberdade criativa e resgate social. C. Jovem é uma válvula de escape para um segmento importante da sociedade, a quem se atribui o futuro e normalmente se nega o presente. C. Jovem veio para enriquecer Porto Velho, que se mostra pobre nas opções políticas enquanto rica em possibilidades de discussão.
Hamilton de Lima e Souza – Professor universitário
*VEJA TAMBÉM:
* ARTIGO - O que será: Cultuador da Falácia ou do Sofisma? - Davi Nogueira
* ARTIGO - Agosto cinzento: nossa urbe sob o fosco espetáculo da fumaça - Por Altair Santos (Tatá)¹