Há um aforismo popular, segundo o qual na briga entre o mar e o rochedo quem leva a pior é o marisco. É exatamente isso o que vem ocorrendo na questão da greve dos servidores em educação, entre governo e grevistas.
Criado o evidente impasse, a partir do momento em que o governador Ivo Cassol reconheceu a impossibilidade de não conceder reajuste salarial não somente ao pessoal da educação, mas “a nenhuma categoria”, em conseqüência da redução na receita estadual, o que é perfeitamente compreensível, quem sofre é a população, especialmente os segmentos mais pobres, que dependem, exclusivamente, dos serviços públicos educacionais, pois lhe faltam meios para pagar as altas mensalidades da rede particular.
É preciso que se comovam tanto o governo quanto os grevistas, com a situação que se arrasta há quatro dias, sempre marcada por ameaças de parte a parte, com servidores invadindo prédios públicos e o governo ameaçando mudar a lei de produtividade, para beneficiar os que realmente trabalham e “punir os faltosos, que causam prejuízos ao calendário escolar e ao desempenho dos estudantes”.
Convenhamos que esse estado de coisas vai-se tornando insuportável para a população. Pena que não tenhamos, entre os alunos da rede pública estadual, filhos de deputados, já que eles dispõem de gordos subsídios, que lhes permitem pagar escolas particulares para seus rebentos.
A greve é um direito do trabalhador, mas passa a ser uma agressão contra esse mesmo trabalhador, se, no instante em que ele busca utilizar-se de serviço pelo qual paga, através de impostos que recolhe, vê as portas se cerrarem diante de si.
Recentemente, numa de suas aparições demagógicas, o presidente Lula prometeu regularizar o direito de greve, no serviço público, mas parece que a idéia acabou encalhada nas gavetas da burocracia oficial.
A paralisação no setor educacional do estado, além de concorre para a irritação coletiva, acaba desaguando na violência cometida nas ruas e até mesmo no recesso dos lares.
É imprescindível repensar a greve na educação. O governador Ivo Cassol já deixou claro que não é contra aumento de remuneração, mas não adianta aumentar os salários e, no final do mês, não ter recursos para cobrir a folha. Para ele, “o pior salário é o que chega ao final do mês e não está na conta”.
Cassol apelou para o sentimento de cidadania dos que prestam serviços à máquina estadual, diante do momento difícil pelo qual atravessa o estado, principalmente, no campo financeiro, garantindo que, assim que a receita emitir sinais de recuperação, o bolo será divido entre todos, “pois os servidores são os nossos maiores parceiros”.
Os grevistas estão irredutíveis. Não arredam um milímetro em suas pretensões. Enquanto isso, a população continua sofrendo os efeitos do movimento paredista. Só que paciência tem limite.