Política em Três Tempos - Por Paulo Queiroz

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Foto: Divulgação

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1 – PAVOR À CPI A líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), não cansa de reafirmar a posição contrária do partido do governo à instalação de uma CPI derivada da Operação Navalha: “A investigação tem sido bem conduzida pela Controladoria Geral da União, pela Polícia Federal e pelo Ministério Público. A experiência que tivemos das últimas CPIs não foram favoráveis às investigações”. Para a líder petista, a PF, a CGU e o MP são de "imparcialidade e profundidade muito maiores". A posição do PT é parecida com a do Democratas, que afirma ser suficiente a investigação da PF. "Não há necessidade de CPI. A Polícia Federal está apurando tudo", disse na segunda-feira o senador Agripino Maia (DEM-RN). Onyx Lorenzoni, deputado gaúcho notável por vociferar contra a clientela do “mensalão”, também do Democratas, indaga, com toda veemência e inflamada retórica: “CPI da Navalha por quê? Vamos fazer concorrência à PF?” Luiz Sérgio, deputado pelo Rio de Janeiro, líder do PT, não deixa por menos e reclama: “Agora tudo é CPI a reboque de ação da PF! CPI virou rabiola de pipa: a PF empina e a CPI vai atrás, em busca de holofotes”. José Múcio, deputado do PTB pernambucano e líder do governo na Câmara também é contra: “A Casa deve tomar providências...” Antonio Carlos Pannunzio, deputado paulista e líder do PSDB é, no sentido folclórico da palavra, tucano: Disse que, se a PF divulgar a lista com “mais de 40”, aí sim o problema terá dimensão que justifique uma CPI. Enfim, pela primeira vez na história do Congresso Nacional, governo e oposição estão vindo à ribalta para dizer com todas a letras – embora cantilena igual e verso pé quebrado – que são contra uma CPI. E olhe que este Congresso tem história. Para seu governo, leitor, é o 3º mais antigo em funcionamento no mundo, perdendo em antiguidade apenas para o Parlamento Britânico e o Congresso dos EUA. Não obstante, não há por lá registro de conluio entre governo e oposição para tentar abafar uma investigação a ser conduzida pela Casa. 2 – PELAS BEIRADAS Como o fato é inusitado, o que não faltam são teses em busca de uma explicação. Na mais recorrente destas, diz-se que, como o fio da Operação Navalha já produziu sangramentos variados em suspeitos de, até o momento em que estas estão sendo batucadas, nove legendas políticas - PT, PMDB, PSB, PP, PL, PDT, PSDB, Democratas e PPS -, o movimento seria corporativo, de preservação da instituição. Até daria para entender, não fora o fato de que o envolvimento das mais distintas tendências partidárias em escândalos não chega a ser novidade nenhuma na história recente da política brasileira. Nos dois últimos grandes episódios, igualmente se assistiu a participação de políticos de várias siglas. O mensalão, esquema de compra de votos no Congresso, corrompeu oito legendas. A máfia dos sanguessugas não deixou por menos, cooptando, somente entre parlamentares, 72 membros de nove partidos envolvidos no esquema de compra irregular de ambulâncias, ou seja, a mesmíssima quantidade de siglas do atual sarrabulho. Tem mais do que caroço nesse angu. Claro que o que anda imperando, como sempre, é o espírito de corpo. O que resta dimensionar é a magnitude desse sentimento, se de uma maioria tentando proteger um magote de colegas em nome da preservação da instituição ou, como parece ser o caso, de uma maioria tentando mesmo é salvar a própria pele. Uma grande maioria, aliás. O palpite da coluna é que uma boa pista pode ser encontrada na questão colocada pelo então senador Ney Suassuna ao presidente da CPI dos Sanguessugas, o então deputado do PT carioca Antônio Carlos Biscaia. “Então o senhor não sabia, deputado, que 90% dos parlamentares tiram uma beirada das emendas?” Biscaia cortou rente a conversa com Suassuna dizendo em tom brusco desconhecer que 90% dos parlamentares cometiam crimes. Macaco velho, porém, Suassuna sabia do que falava, mas, como não houve testemunha, negou tudo depois que Biscaia levou o diálogo ao conhecimento do relator Jefferson Peres (senador pelo PDT-AM) e um vazamento catapultou a indagação às manchetes. 3 – COISA IMENSA Mas vá, o leitor, matutar e desconfiará que é por aí. Basta acompanhar com atenção algumas abordagens do noticiário. Entre estas, há uma informando que as mais de mil páginas que compõem o inquérito sigiloso da Operação Navalha revelam que a PF investiga uma outra suposta organização criminosa além da que seria comandada pelo dono da Gautama. Relatório da Procuradoria Geral da República, anexado ao inquérito da Operação Navalha, diz textualmente: “Na verdade, trata-se de dois grupos, com atuações distintas, sem correlação específica entre seus agentes”. Com isso, o MP solicitou ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) o desmembramento da investigação. A partir de então, os trechos da investigação que dizem respeito a esse “segundo grupo” formaram outro inquérito, que ainda não veio à tona e que também corre sob segredo de Justiça. Essa investigação também envolve fraudes a licitações públicas e conta com a participação de outra empreiteira e de outros políticos que até agora não tiveram os seus nomes envolvidos no caso da Gautama. A própria ministra Eliana Calmon (STJ), que preside as investigações, confirmou que a Operação Navalha foi desmembrada “em três pedaços”, dando a entender que há uma terceira ramificação da investigação. “As investigações terminaram ficando muito grandes, passaram a envolver várias coisas, tanto que elas já foram repartidas em três pedaços, para não ficar uma coisa imensa”, disse a ministra. É isso leitor. A coisa é imensa. E é porque ainda não andaram fuçando pelo Ministério dos Transportes, onde se desconfia que a coisa seja descomunal. Daí o pavor dos parlamentares de todos os matizes diante da hipótese de uma CPI. Enquanto o STJ não se convencer de que os indícios encontrados pelas investigações justificam a acusação pública, os investigados estão protegidos pelo segredo de Justiça. E é até possível que estas duas partes dessa coisa imensa jamais venham à tona. Já numa CPI, com as investigações às escâncaras e os inescapáveis vazamentos do que a Justiça tenta proteger, instala-se o salve-se quem puder. É no que dá ficar comendo pelas beiradas.
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