ARTIGO - Letra de hip-hop - Por Hamilton de Lima e Souza

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Foto: Divulgação

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Hip-hop pode virar ripirropi. Por que não? Uma forma de protesto universal que ganharia força aportuguesada. Bem, sei apenas que jovens que freqüentam o movimento hip-hop costumam fazer letras de protesto, além de dançar e tentar mostrar ao mundo que não estão muito à vontade com o capitalismo e suas desigualdades. Eles sabem que numa sociedade de exceção pertencem ao mundo dos discriminados. A letra é a alternativa para a lei do mais forte, do conceituado, do poder que não foi digerido. Pobre na cadeia, vagabundo na cadeira. Achei que seria um bom refrão para começar a letra do hip-hop. Não sou cantor, tampouco compositor, mas pensei num monte de gente ocupando cadeiras que poderiam estar nas cadeias, já que muitos dos que ocupam as cadeias vieram de baixo, descendentes de indígenas e negros, outros tantos brancos mesmo, mas sempre com a mesma história de vida, a exclusão social. Sem ter como virar a mesa e ocupar as cadeiras, destinadas aos homens de bem da nação, onde grupos de poder se locupletam com o dinheiro público em CPI’s indecentes que não tem poder jurídico, os pobres se arrastam nos seus minguados protestos artísticos, acabando na maioria das vezes manipulados por uma mídia comprometida pelo poder. Hapers, acho que é assim que se escreve, tentam conscientizar parte da massa esquecida que a massa podre do poder está em eterna efervescência, alimentando a maldade com infinitas leis que lhes permitem perpetuar a vicissitude popular. Um grito de alerta no meio dos desertos urbanos. A arte pede liberdade. Enquanto isso os vagabundos conquistam cadeiras, tem malandro candidato municipal, estadual, federal, que nunca se dá mal. Os movimentos alternativos falam das crianças baleadas em subúrbios, das garotas prostituídas por falta de alimento e educação, do sistema repressivo que prefere construir presídios em detrimento de escolas. Um garoto gira sobre a cabeça na calçada, fazendo a cabeça no solo antes que seja engolido pelo sistema. Piruetas pirotécnicas o projetam no espaço em busca de luz, de liberdade. O sistema repressor o espera. Um vagabundo sentado numa cadeira observa os pobres na cadeia, nos programas televisivos policiais, torcendo por um tsunami que elimine aqueles eleitores incômodos, lideranças jovens de periferia inconvenientes. Vagabundo na cadeira, na poltrona conquistada com o dinheiro público, pensando no próximo momento de lazer. Pobre infeliz sem valores morais, filho da sociedade imoral que o pariu, assaltando num sinaleiro ou posto de gasolina. A vida sem arte para a grande massa. Hipie-hop. Eles tentaram antes criticar o capitalismo e o socialismo ensandecido de soviéticos e chineses, que estatizaram a arte, a liberdade do pensamento. O Estado criminoso de capitalistas e soviéticos. O hipie não concordou. Fumou maconha e usou LSD. Fortaleceu a repressão. O vagabundo da cadeira ficou mais forte. O pobre ficou pobre. Quase podre de tanta desigualdade. Hip-hop. Vagabundo na cadeira, pobre na cadeia. Pobre na cadeia, vagabundo na cadeira. Hamilton de Lima e Souza – professor universitário
Direito ao esquecimento

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