Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (IBGE),do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), do Ministério do Trabalho (MT) e Comissão Pastoral da Terra (CPT), revelam que os municípios que mais desmatam na região amazônica são também os que mais registram trabalho escravo e violência no campo. O avanço da pecuária na área acompanha o ritmo da queda das árvores.
De acordo com o Inpe, o total desmatado de agosto de 2004 a julho de 2007 são em 601 cidades da amazônia Legal (Estados do Norte, além de Mato Grosso e Maranhão).
Estração e Violência
No ranking dos 50 municípios que mais extraíram madeira no período, sendo 23 em Mato Grosso e 20 no Pará, a violência no campo aparece em 39 deles, com crimes ligados a conflitos fundiários e flagrantes de trabalhadores em situação análoga à escravidão.
Os municípios “top 50" do desmate acumularam a média de um assassinato entre 2004 e 2007, índice sete vezes acima do registrado na região amazônica (0,14), segundo a CPT.
Os campeões na derrubada de árvores também estão à frente nos flagrantes de trabalho escravo, ou seja, quando, além de ser submetido a situações degradantes, o trabalhador é impedido fisicamente de deixar a propriedade.
Entre 2004 e 2007, a média nesses 50 municípios foi de 109 trabalhadores resgatados pelo grupo móvel de fiscalização do Ministério do Trabalho. Na amazônia, no mesmo intervalo, a média geral dos municípios foi de 16 pessoas flagradas nessas condições.
Campeão de desmate
No topo da lista do desmate está o paraense São Félix do Xingu, município com área equivalente à soma dos Estados de Alagoas e do Rio Grande do Norte (84,2 mil km2). Nele, em três anos, foram devastados 2.812 km2, com quatro assassinatos e 291 trabalhadores resgatados.
- Onde tem desmatamento ilegal, onde tem grilagem de terra, tem madeireiras e tem morte. A vinculação é realmente essa, afirma Ailson Machado, assessor de mediação de conflitos agrários da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência.
O trabalho escravo vem junto, porque eles [proprietários ou grileiros] usam essas pessoas, a maioria delas migrantes, para abrir a mata. Quando termina o desmate, ou elas ficam expostas à violência, sem trabalho, ou são levadas para outras áreas para serem exploradas, completa.
Avanço
O avanço do desmatamento na amazônia também coincide com o crescimento da pecuária. Entre os 50 municípios da região que, segundo dados do IBGE, mais avançaram na quantidade de cabeças de gado entre 2003 e 2006, 29 deles também integram os top 50 na derrubada da floresta.
Colniza (MT) é um exemplo. No extremo noroeste do Estado, na divisa com Amazonas e Rondônia, a cidade aparece em quarto no ranking do desmate, com 982 km2 derrubados, 115,9 mil novas cabeças de gado e dois assassinatos, em três anos.
No mesmo intervalo, Confresa, município no nordeste mato-grossense, seguiu uma linha semelhante, com 270 km2 de desmate, 114,6 mil novas cabeças de gado e 1.013 trabalhadores flagrados em situação análoga à escravidão.
Entre os top 50 do desmatamento, houve um crescimento médio de 90,9 mil cabeças de gado, contra 15,7 mil em toda a região amazônica, uma diferença de 579%.