A indígena Creuza Assoripa Umutina, de Mato Grosso é a primeira mulher do país a ocupar o posto de cacique de uma tribo. Creuza sagrou-se a melhor atiradora, acertando três vezes consecutivas um mesmo alvo. A fama refletiu-se em votos nas urnas de um processo eleitoral que a elegeu em 2004, primeira mulher a ocupar o mais alto posto da aldeia, até então só ocupado por homens: o de cacique.
Ao substituir o ex-cacique Valdomiro Umutina, a vida na aldeia mudou. Creuza garantiu à única escola, 20 computadores ligados à internet. Uma parceria entre o governo estadual de Mato Grosso e prefeitura de Barra do Bugres, assegurou os ensinos de nível fundamental e médio. Abraçou o sistema de cotas para indígenas da Universidade Estadual de Mato Grosso (Unimat). Cinco estudantes estão concluindo curso de Letras e 10 indígenas formaram-se professores e retornaram à aldeia, onde ministram aulas nos idiomas Português e Pituquá.
Creusa também conseguiu melhorar a área de saúde. Uma parceria com a Funasa garantiu atendimento médico in loco. Entre os serviços disponibilizados aos indígenas estão clínica geral, pediatria e odontologia.
A cacique também levou energia elétrica e agora, nas ocas, existe televisão. Mas implantar uma administração moderna e levar benefícios para a aldeia, não foi fácil. Para obter o respeito dos homens e dar bom exemplo à tribo, Creuza se separou do marido. "Tive que cortar na própria carne e pedir a separação, porque meu marido bebia muito e dava péssimo exemplo à aldeia", lamenta.
"Sou a maior autoridade na aldeia. Como posso cobrar dos jovens que não se envolvam com o álcool se meu marido não dava o exemplo?", questiona.
Creuza Umutina sabe ler e escrever. Mesmo tendo parado os estudos na 5ª serie tem convicção de que a educação e o esporte dignificam o ser humano.
"Moral e sabedoria aprendemos na escola, mas a saúde e o respeito conquistamos principalmente através do esporte. Se eu não fosse a melhor atiradora da aldeia, não seria respeitada pelos homens, e muito menos pelas mulheres, uma vez que o regime entre os povos indígenas é patriarcal e machista. Hoje estou feliz e casada com o meu trabalho", revela.