O maior exemplo disso é o projeto das Usinas do Rio Madeira (Santo Antônio e Jirau), que após três anos de intensas pesquisas, apresenta, com tecnologia cem por cento nacional, a melhor relação área alagada/potência instalada já conhecida nessa região, re
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Nos últimos 25 anos o Brasil vem crescendo abaixo
da média mundial. Em 2005, amargamos um pífio crescimento de 2,3%, contra os 4%
da média mundial. Somente nos últimos seis anos acumulamos uma defasagem de
crescimento de 17% abaixo da economia mundial.
O Produto Mundial Bruto, ou seja, toda a riqueza
produzida no mundo deverá ficar acima de 39 trilhões de dólares. O que equivale
a dizer que o seu crescimento alcançará a cifra de US$ 1,5 trilhão ao ano (quase três vezes a economia brasileira),
acumulando US$ 18 trilhões capitalizados em dez anos.
Talvez não seja tão fácil responder quem irá
crescer US$ 1,5 trilhão ao ano, reduzindo nossas opções à China, Índia, Coréia,
Estados Unidos, por exemplo, mas fica fácil dizer quem não vai crescer: QUEM NÃO TIVER ENERGIA.
A explicação é simples: aumentos contínuos na
produção requerem maiores doses de energia. O bem estar material perseguido
pelo consumidor através da aquisição de bens e serviços de consumo e de uso
durável está direta e proporcionalmente ligado à condição de suprimento de
energia elétrica.
A despeito da carga tributária excessiva e taxas de
juros abusivas praticadas no Brasil, que vêm travando nossa economia e inibindo
seu crescimento, nossa matriz energética não suportaria um crescimento acima de
5% ao ano por mais de três anos consecutivos. Matéria publicada pela revista
Exame em 22/11/2006, evidencia a preocupação de grandes indústrias brasileiras,
que para negociar a compra de energia para 2009 têm que se submeter a preços 50% maiores que os praticados hoje. Mesmo assim,
não têm segurança de que a energia estará disponível, retraindo investimentos
bilionários devido a essa incerteza. Os grandes produtores de energia do
centro-sul do país alertam para o fato de que, se os projetos de hidrelétricas
e térmicas a gás não entrarem em operação ao longo dos próximos cinco anos, os
preços médios do megawatt-hora poderão chegar a 200
reais, o que comprometeria a realização de investimentos produtivos geradores
de emprego e renda.
O círculo vicioso gerado pela incapacidade do país
movimentar os motores de sua economia certamente recairá sobre o seu modelo de
desenvolvimento econômico. Dados recentes mostram que o modelo de distribuição
de renda sem crescimento econômico ora adotado pelo atual governo já não se
sustenta mais. Os indicadores de distribuição, que há três anos sofreram
incrementos próximos de 2% alcançaram apenas 0,6% no último ano, não surtindo
mais efeito positivo que o justifique. Ou crescemos para distribuir renda ou
veremos crescer o desemprego, perdendo a perspectiva de um futuro melhor para o
grande volume de jovens que buscam o mercado de trabalho todos os anos,
agravando os problemas sociais já conhecidos por todos nós brasileiros.
A GRANDE OPORTUNIDADE
Há seis anos, a Comissão Mundial de Barragens
emitiu relatório descrevendo o cenário mundial de distribuição das águas doces,
bem como sua utilização através da construção de barragens, nele consideradas
aquelas a partir de
O Brasil possui 17% da água doce do mundo, seguido
pela Rússia (11%), Canadá e China (7%
cada), Indonésia, Estados Unidos e Bangladesh (6% cada), e Índia (5%).
Naquele mesmo ano, o relatório contabilizou 45 mil barragens acima de
A conclusão é óbvia: quem desenvolveu sua matriz
energética sustenta hoje seu crescimento. A China cresce entre 8 e 10% médios há dez anos. Os americanos esgotaram seu
potencial mais rapidamente e sustentam seu crescimento com uma matriz
energética baseada em usinas nucleares e termelétricas, essas
últimas ao custo da emissão de metais pesados e gases estufa na
atmosfera, que somados ao movimento de sua indústria, transporte, calefação,
etc., os tornam responsáveis por 30% das emissões de poluentes do planeta.
Porém, são detentores de 30% do Produto Mundial Bruto.
E o Brasil? Recolhe-se ao insignificante
crescimento de 2,3%, que não nos permitirá sequer suportar nosso crescimento
vegetativo, ou parte para a utilização de todo seu potencial de produção de
energia limpa, através da construção de hidrelétricas?
Somos todos sabedores que a maior bacia
hidrográfica do planeta encontra-se na região amazônica, e, conseqüentemente, o
maior potencial para produção de energia hidrelétrica. Só não podemos ser
irresponsáveis o suficiente para utilizar tais recursos indiscriminadamente,
desconsiderando o ecossistema e a biodiversidade amazônicos. A solução desse
conflito entre utilização e preservação encontra-se no nível tecnológico.
O maior exemplo disso é o projeto das Usinas do Rio
Madeira (Santo Antônio e Jirau), que
após três anos de intensas pesquisas, apresenta, com tecnologia cem por cento nacional, a melhor relação área alagada/potência
instalada já conhecida nessa região, redundando numa relação benefício/custo
impressionante. Só para compararmos, a relação alagamento/potência da
Hidrelétrica de Balbina, no Amazonas, é de 9,44
vezes.
Em 2004, cerca 82,8% da produção de energia do
Brasil era proveniente de hidrelétricas, portanto, uma matriz limpa. Nenhuma
outra economia dentre as vinte maiores do mundo possui uma matriz energética
nessas proporções. Mas isso não é tudo. Nenhuma outra dessas economias é capaz
de dobrar sua matriz energética com base em hidrelétricas, sem lançar uma única
grama de metais pesados ou gases estufa na atmosfera, impulsionando seu
crescimento sem agredir o meio ambiente.
As audiências públicas para as usinas do Madeira,
ora em curso, representam uma das maiores conquistas evidenciadas pela
democracia brasileira, permitindo aos seus protagonistas evitar aberrações,
como Balbina, ao mesmo tempo em que assumem a
responsabilidade de conduzir seu país rumo ao crescimento e desenvolvimento
econômicos, sua maior vocação.
Cabe, portanto, ao Governo e empresas do setor,
evoluir nas conquistas tecnológicas, a exemplo das usinas do Madeira, mas
principalmente às populações envolvidas nos empreendimentos que se seguirão,
entender o processo e sua necessidade, apontar problemas e cobrar soluções, abraçar a oportunidade de
retirar o Brasil da lanterna do desenvolvimento ao qual estamos relegados no
plano mundial, com o 69º- IDH do planeta, dando à sua juventude um cenário mais
otimista para a próxima década.
AS USINAS DO MADEIRA E A SUSTENTABILIDADE DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
DO ESTADO DE RONDÔNIA
Sem nenhuma dúvida a maior preocupação de toda a
sociedade rondoniense é quanto às condições de sustentabilidade do crescimento
e desenvolvimento econômicos provenientes dos investimentos nas usinas do Rio
Madeira. Essa preocupação provavelmente nos faz perder a noção da importância
dessas obras para a sustentação do crescimento da economia do próprio país.
Rondônia mais uma vez participa da história da formação econômica do Brasil. O
exemplo da construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré,
que permitiria aos vizinhos bolivianos o acesso a uma saída para o atlântico;
dos soldados da borracha, abastecendo com o látex necessário ao desenvolvimento
da indústria; dos garimpeiros, que num sub-ciclo do
ouro, revelaram a riqueza dessa região; dos agricultores que desbravaram a nova
fronteira agrícola da união, já ao final da década de 70; dos madeireiros que
sedimentaram sua principal atividade industrial durante as últimas duas
décadas, dos pecuaristas que formaram um rebanho com cerca de 12 milhões de
cabeças, que abastecem hoje uma das suas mais fortes cadeias produtivas com
carne, leite e couro.
Esse breve histórico nos mostra que os nossos
vários modelos de desenvolvimento estiveram sempre fundamentados no modelo
exportador agrosilvopastoril, característico do
subdesenvolvimento. Hoje, esse modelo sofre a sua maior evolução, com a
consolidação da sua indústria, forjada por empresários pioneiros e visionários,
sabedores de que a única forma de gerar riqueza e sustentabilidade econômica é
agregar valor aos seus recursos naturais, através da sua
transformação/industrialização.
A maior participação dos setores secundário e terciário
da nossa economia na formação do PIB do Estado reforça a nossa condição de
desenvolvimento e o fenômeno de consolidação da nossa indústria, com 29% do
PIB, serviços, com 53% (incluindo 25% de atividades de governo), contra 18% do
setor primário. A força desse desenvolvimento industrial que gera emprego e
renda, agregando valor ao conjunto da sociedade rondoniense, colabora com a
elevação do estado ao 14º- IDH do país, com a segunda
melhor distribuição de renda do Brasil.
A implantação de uma matriz energética limpa e
abundante abrirá um leque de oportunidades de investimentos jamais vista na
história desse estado. A geração de empregos diretos e indiretos originados no
empreendimento será, sem dúvida, muitas vezes inferior aos empregos gerados
pelo efeito multiplicador dos recursos aqui investidos. A pergunta a ser
respondida é: após o final das obras, a economia do estado continua crescendo,
ou se retrai, causando desemprego?
Essa pergunta começa a ser respondida a partir da
análise das potencialidades de crescimento e posicionamento estratégico da
economia do estado e do conjunto dos seus empreendedores. Rondônia está
estrategicamente posicionado como um portal de entrada para a região amazônica,
num modal de transporte rodoviário/fluvial que permite o escoamento de produtos
de um mercado denominado Mercoeste, que envolve os
estados de Mato Grosso, Goiás e Tocantins. Como exemplo disso, a soja
mato-grossense é embarcada no porto graneleiro
Sua sustentabilidade
começa na expansão do mercado intra-regional, ou seja, maior comercialização de
produtos oriundos dos estados da região norte. Com o aquecimento da atividade
econômica no estado proveniente dos investimentos nas obras das usinas, os
empreendimentos crescem em quantidade, volume de produção (escala), qualidade,
e, consequentemente, em competitividade via preço. Essa competitividade nos
leva a abastecer estados vizinhos, concorrendo com produtos vindos do centro
sul do país. Vale observar que Rondônia é hoje o maior comprador de produtos
desse mercado regional. Desenvolver o mercado intra-regional significa reduzir
as desigualdades regionais observadas, pois a parcela dos recursos antes
destinados ao pagamento de importações de outros estados do Brasil permanecerá
na região promovendo a expansão do poder de compra de sua população, que
consome mais, dando maior retorno aos investidores, gerando um círculo virtuoso
de crescimento.
Esse mercado intra-regional envolve 17,5 milhões de
habitantes (consumidores),
compreendendo os Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e
Tocantins (região norte), acrescido
do Mato Grosso (centro-oeste). Seu desenvolvimento é função do nível de
interação entre Federações de Indústria, empresários do setor industrial e do
comércio, além dos Governos Estaduais, responsáveis pelo provimento da
infra-estrutura econômica necessária ao desenvolvimento da produção e
aproveitamento dos recursos específicos de cada estado.
Sistematicamente, novos mercados poderão ser
abertos, com o atendimento das demandas dos países vizinhos, notadamente o
grupo andino, como Chile, Bolívia, Peru, e Equador, e da Amazônia sul
americana, como Colômbia, Venezuela, Guianas e Suriname.
Tabela 1: População e PIB
dos países em 2005
PAÍS |
População (x 1.000) |
PIB (milhões US$) |
Bolívia |
8.989 |
9.333,6 |
Chile |
16.134 |
115.250,0 |
Colômbia |
43.593 |
122.308,6 |
Equador |
13.548 |
36.244,0 |
Guianas |
967 |
783,2 |
Peru |
28.303 |
78.430,8 |
Suriname |
465 |
1.342,1 |
Venezuela |
25.730 |
138.857,0 |
TOTAIS |
137.729 |
502.549,0 |
Esse mercado potencial a que nos referimos possui
população de 137,7 milhões de habitantes e um PIB de US$ 502,5 bilhões em
Finda a construção das usinas do Madeira, estará
consolidado esse mercado, se desenvolvido com seriedade e responsabilidade,
gerando um conjunto de oportunidades sólidas para os empreendedores do Estado,
em cujo sucesso reside a manutenção de investimentos, emprego e renda para a
população e a conseqüente sustentabilidade da nossa economia.
Diante dessa premissa, cabe-nos alertar a
empreendedores e Governos que iniciem urgentemente os estudos e projetos para
novas usinas hidrelétricas na região e, principalmente, para a estruturação das
hidrovias do Madeira, com a construção das eclusas que darão navegabilidade até
as bacias do Mamoré/Guaporé, em Rondônia, e Beni e Madre de Dios,
na Bolívia; e do Amazonas, ligando a Iquitos, no
Peru, importante centro produtor naquele país. O acesso às hidrovias pelos
países vizinhos permitirá o escoamento de suas riquezas naturais que
abastecerão nosso setor produtivo, ativando o crescimento dessas economias.
Estrategicamente, o transporte ferroviário interligando as cidades de Cuiabá e
Porto Velho selaria definitivamente o processo de integração dessas economias
com ganhos de escala e redução de custos para todos.
- Valdemar Camata Junior é Economista, Superintendente do Instituto Euvaldo Lodi – IEL/RO e Superintendente do SESI / RO
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