O ponto alto das homenagens em honra à Nossa Senhora de Nazaré, padroeira dos estados do Pará e de Rondônia, será às 8 horas deste domingo(08), quando a imagem da santa será conduzida em procissão, da capela do Divino Espírito Santo, no bairro 4 de Janeiro até a capela do bairro Jardim Ipanena. Antes, porém, às 6 horas da manhã haverá alvorada com queima de fogos.* Para a procissão do Círio, em Porto Velho, os organizadores esperam um público situado entre 5 mil a 6 mil fiéis.
Valdir Costa Ramalho, responsável pela organização dos trabalhos informa que a festa do Círio em Porto Velho já é tradicional e acontece há 12 anos seguidos.
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*História da devoção à Santa na capital
*A presença dos paraenses (devotos de Nossa Senhora de Nazaré) em Rondônia, em especial, Porto Velho, data desde a sua fundação. Vejamos o que conta a história: segundo o escritor Charles A. Gould, um dos auxiliares de Farqhuar, no seu livro The Last Titan, traduzido a pedido do escritor Amizael Gomes da Silva, para assertivas em seu livro “Conhecer Rondônia”, 2ª Edição, pg. 80”, após o encerramento da guerra a área foi ocupada por lenhadores que vendiam a madeira como combustível para as máquinas a vapor.
*Depois de tomada a decisão de mudança do porto de Santo Antônio, Percival Farqhuar determinou a contratação de 140 paraenses em Belém do Pará para o início dos trabalhos de limpeza, roça e queima de mato do local. Destes trabalhadores, apenas 80 ficaram em Porto Velho. Os trabalhos de limpeza foram realizados no campo 01. O local escolhido foi nas proximidades da entrada da grande curva do rio Madeira, perto das águas mais profundas.
*Ali, nas terras do seringal de José da Costa Crespo, que se fixou onde é hoje o Porto da Portobrás ou nos Lotes Milagres, que foram os seringais de Joaquim Bentes, começava a epopéia. Essas terras limitavam-se com as André Frandoli e as de Suarez Hermanos, razão que levou Farqhuar a comprar as duas áreas denominadas Candelárias, onde foi construido um hospital, e Santa Marta, na qual construíram o Porto de desembarque do material pesado da Estrada. (Reminiscências do Madmarly, de José Hugo Ferreira).
*Relata a historiadora Yêdda Pinheiro Borzacov, em seu livro a ser publicado, “Rondônia – Espaço, Tempo e Gente”, que “a devoção a Nossa Senhora de Nazaré, em Rondônia, particularmente em Porto Velho, sua capital, data de 1931, quando expressivo número de famílias paraenses, radicaram-se em Porto Velho trazidos pelo primeiro diretor brasileiro da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, o paraense da região bragantina, Aluízio Pinheiro Ferreira.”
*Eram as famílias dos Silveira Britto, dos Pinheiro Ferreira, dos Borralho de Medeiros, dos Penna Pinheiro, dos Laudelino de Almeida, dos Oliverinha, dos Teixeirinha, dos Souza Cordeiro, dos Ferreirinha, dentre muitos outros, que irmanados na mesma devoção e liderados por Aluízio Ferreira, introduziram o culto à milagrosa Virgem, homenageando-a com o Círio, tradição de fé e o transbordamento religioso do paraense, passando, inclusive, essa devoção para as outras colônias aqui radicadas, de amazonenses, de cearenses, de piaiuenses, de maranhenses, etc.
*Quando em 1943, foi criado o Território Federal do Guaporé, escolheu-se para padroeira da nova unidade da federação, Nossa Senhora de Nazaré, prosseguindo, portanto, a homenagem à Santa, com a realização do Círio, no segundo domingo de outubro, como reza a tradição no Pará.
*Na véspera, à noite, a imagem da Santa, adquirida no Rio de Janeiro por Aluízio Ferreira, era conduzida com grande acompanhamento, da Catedral do Sagrado Coração de Jesus para a Capela do Hospital São José. Era a trasladação.
*E no domingo do Círio, a procissão fazia o percurso inverso, percorrendo as ruas da então pacata e bucólica Porto Velho, sendo conduzida a berlinda com a imagem da Santa pelo diretor da EFMM e mais três paraenses.
*A berlinda era antecedida pelas autoridades, por um carro cheio de crianças vestidas de anjos e pela banda de música da Guarda Territorial tocando hinos sacros e precedida por um ensurdecedor espocar de foguetes seguida pelo povo, cantando hinos de louvor à Santa e entoando preces...
*O momento culminante do Círio era a chegada da imagem em frente a Catedral do Sagrado Coração de Jesus, ocasião em que era celebrada uma missa solene. Em seguida, a imagem era retirada da berlinda e o bispo subia os degraus da escada da Catedral, erguia-a por cima da cabeça, e abençoava o povo presente. A emoção tomava conta dos devotos.
*Em 1950 quando Petrônio Barcelos assumiu o cargo de Governador do Território, a devoção do povo por Nossa Senhora de Nazaré deixou-o tão emocionado que por meio do Decreto nº 18, de 5 de abril de 1951, “considera monumentos do Território a imagem de sua Padroeira, Nossa Senhora de Nazaré e a Catedral de Porto Velho”. O governador Petrônio Barcelos entendeu a demonstraçao de fé, solidariedade, de fraternidade e determinação do povo à sua Padroeira.
*“Os tempos e os costumes mudaram, poucas pessoas no Estado de Rondônia sabem, hoje, que Nossa Senhora de Nazaré é a padroeira dos rondonienses, porém a fé dos paraenses residentes em Porto Velho, principalmente de seus descendentes, dos padres cambonianos da Paróquia de Nossa Senhora das Graças e dos organizadores e moradores do bairro Jardim Ipanema, subsiste, intangível, através dos anos, resistindo bravamente a todos que tentam esfacelar as tradições, a cultura e os costumes do nosso povo. Afinal, há coisas terrenas que exigem menos, mas, em contrapartida, não enobrecem tanto,” encerra a historiadora Yêdda Borzacov.
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*Antônio Fonseca, é jornalista, paraense/rondoniense, ex-aluno do Colégio Dom Bosco (Pvh) e Colégio Marista (Belém), devoto de Nossa Senhora de Nazaré. Minha homenagem à Colônia Paraense. E-mail: rondomarcas@gmail.com site www.rondomarcas.com