O início da mudança - por Amadeu Bocatios

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O início da mudança - por Amadeu Bocatios

Foto: Divulgação

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*Francisco Andreoli era uma pessoa normal. Mas já havia sido completamente anormal. Ortodontista dos mais competentes do Brasil, optou por Rondônia não se sabe por que, mas foi excelente pros dois lados. Prá ele, e prá aquela região. *Quando entrei no consultório, sentamos em um sofá e eu iniciei: *-- Dr. Andreoli, eu... *-- Amadeu, eu queria te mostrar uma coisa... Escuta essa música... *Ouvi. Falamos de amenidades, da Cássia, do meu trabalho. Quase uma hora depois, tentei de novo: *-- Eu estou precisando... *-- Você quer tomar alguma coisa? Um refresco, uma água? Café? Marlene, por favor, traga dois cafés e duas águas geladas prá gente aqui? Você gosta de cavalos, Amadeu? Eu tenho dois num sítio aqui perto, um casal. O Ventania e a Andorinha... O Ventania é negro... filho de... *E assim foi. Mais quase uma hora falando dos animais dele. Quando era meio dia, tentei de novo, e de novo fui cortado pela raiz: *-- Vamos almoçar, Amadeu. Minha esposa, Amélia, está esperando, e se eu atraso ela fica brava e quem pena depois sou eu depois... Vamos ali em casa. Descemos.* A casa dele era nos fundos do consultório, que ficava num prédio de dois andares. No primeiro andar, uma lojinha evangélica, também dele, onde podia- se comprar de um tudo, bíblias, discos, camisetas, caixinhas de promessas, adesivos, hinários... *Sentamos à mesa, junto com a Amélia e as 3 meninas deles: Angela, Anahy e Amanda. Uma oração e comemos. Me dei conta de que estava fazia muitas horas sem uma alimentação decente, e comi com gosto. Ao final, as meninas levantaram e foram cuidar dos afazeres, Amélia também levantou e ficamos só nós ali, sentados. Era a minha deixa: *-- Dr. eu queria conversar com o senhor sobre... *-- Amadeu... temos um problema aqui. Há vinte e tantos anos eu tenho o costume de dormir um pouco depois do almoço... Vamos fazer uma coisa? Vamos descansar. Quando levantarmos eu prometo que a gente conversa. *E me levou prá um quarto vago, me disse que deitasse um pouco que me chamaria em breve. Deitei e dormi. Mais ou menos umas 4 horas depois, acordei e estava o Chico sentado em uma cadeira próxima à cama, lendo ('Este Mundo Tenebroso'). Me viu, e disse: *-- Agora conversamos, se você quiser. *Claro que eu queria. Contei tudo. Do meu vício, do acontecido na noite anterior com o Álvaro, da minha busca por ajuda naquela noite inteira. Da minha necessidade de ajuda. Quando olhei prá ele, vi que ele chorava, uma mistura de choro de agonia, alegria e recordações do passado. Ele me disse que havia muito vinha orando prá que Deus me levasse até ali. E acrescentou: *-- Temos uma casa de recuperação mantida pela igreja, Amadeu. Se você quiser, você pode ficar lá. Tem uma família da igreja que cuida de lá. De interno, apenas o Zé Alberto que acabou de chegar. O que você acha? *Pensei e pesei prós e contras. Minha dívida com traficantes, a necessidade de recuperar um tanto da saúde, a vontade de sumir prá não fazer uma cagada. "Eu vou, Dr. Andreoli. Quero ir prá lá. Podemos ir amanhã?" *-- Não, Amadeu. Não podemos ir amanhã. Se quiser mesmo ir, terá que ser hoje. Apenas o tempo de você reunir as tuas roupas, e saímos. *E assim foi. No hotel, arrumando minhas coisas no quarto, chamei o Zé Luiz, que era o dono do hotel e expliquei a situação prá ele, dizendo que estava indo prá casa de recuperação, e que não tinha dinheiro prá acertar a minha dívida. Pedi que ele me permitisse pagar quando saísse de lá, e ele me avisou que o Andreoli havia acertado tudo. Me desejou sorte. *No carro, o Andreoli me perguntou com quem eu havia consultado no Nova Clínica e como havia sido. Eu disse que o Dr. Prieto havia me receitado uma injeção de vitaminas. Paramos numa farmácia, ele desceu, comprou a injeção e partimos rumo à minha nova vida. *Menos de meia hora depois, chegamos ao lugar. Pequeno. Uma estradinha de acesso com um laguinho e depois uma construção com uma varanda aberta no meio, com a cozinha nos fundos dela. À direita uma casa que era ocupada pelo caseiro e família.* Na esquerda ficava o alojamento dos 'alunos'. Um quarto grande, sem banheiro, ocupado por umas 10 ou 12 camas. Era ali que eu ia morar por um período indefinido. *Os banhos eram tomados em uma nascente que ficava mais ou menos uns 400 metros distante da casa. Dos animais que o Andreoli havia dito, ali não tinha nada. Uns poucos patos e galinhas, dois ou três marrecos e uma mula de carroça, que a familia usava prá ir prá igreja. Nossa rotina diária era: acordar, tomar café, lavar a louça, ler, esperar o almoço, lavar a louça e ler, esperar o jantar e lavar a louça. Eu e Zé Alberto conversávamos muito. Sobre a rotina também. E chegamos à conclusão de que não era aquilo que iria nos ajudar. Muito tempo ocioso, cabeça vazia.* Nas crises de falta de droga, eu tinha cólicas renais terríveis. Foi assim até a sexta feira Santa de 1989. *Naquele dia não haveria o culto normal da igreja. Os membros iriam prá chácara prá passar com a gente. O Andreoli, que eu já chamava de Chicão fez e pregação sobre o Livro de Atos dos Apóstolos, a conversão de Saulo.* Naquele período eu estava lendo um livro chamado 'Foge, Nick! Foge' e na noite anterior, eu havia chegado no ponto em que o personagem Nick Cruz - líder de uma gang infanto-juvenil e procurado por diversos crimes, inclusive alguns assassinatos - havia se convertido através de uma pregação de um pastor magricela, na rua. *-- Nick, Jesus te ama - disse o pregador. *-- Se o senhor disser mais uma vez que Jesus me ama, eu vou cortá-lo com uma faca em mil pedacinhos - retrucou Nick. -*- Pode fazê-lo. Serão mil pedacinhos de mim dizendo prá você que Jesus te ama! *Eu sabia que era infinitamente melhor do que Nick Cruz. E também nunca havia perseguido e assassinado os cristãos como Saulo. Então, tinha uma chance grande de conseguir mudar de vida. Na hora da fatídica pergunta 'alguém quer aceitar à Jesus como senhor e salvador' eu ergui a mão. *Meia hora depois estávamos nos encaminhando pro laguinho, onde eu seria batizado nas águas. Naquela tarde, pela primeira e única vez, ouvi um hino de igreja que nunca mais esqueci, nem letra e nem melodia. *O refrão dizia: *"A verdade vos libertará *Sereis em Cristo verdadeiramente livres *Vinde todos, sim, óh vinde já! *E celebrai com alegria a vossa libertação" *Ali, naquele lago sem peixe, naquela tarde de sexta feira santa de 1989 foi o início do nascimento de um homem diferente. *CONTINUA...
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