* “(...)O retrato, às oito e meia da noite daquela segunda-feira fatídica, era desolador. São Paulo, quarta maior metrópole do mundo, 20 milhões de moradores, estava vazia. Traumatizada. Acuada sob um toque de recolher informal. Debaixo das ordens do chamado Primeiro Comando da Capital, o PCC que controla os presídios e estende seu poder sobre o tráfico de drogas, de armas e o contrabando, nada menos que 36 policiais foram assassinados nas ruas da cidade durante o final de semana. Trinta ônibus arderam em chamas. Sucederam-se cenas prontas e acabadas de regiões em plena guerra civil, que ganharam ainda mais corpo na madrugada da terça-feira 16, quando a polícia, depois de sumir das ruas, revidou. Entre as matanças, amplificando a sensação de insegurança, o governador Cláudio Lembo garantia que a situação estava “sob controle”, recusando-se, por três vezes, a aceitar ajuda de tropas federais de elite. Errático, chegou a atribuir a culpa pela situação à “burguesia branca” e às “dondocas”, perdeu-se em querelas políticas, tergiversou. A verdade, no entanto, é que a vida real – a vida bandida – falou mais alto. Até a quinta-feira 18 contavam-se 293 atentados, com 161 mortes. (...)”