*A obediência a requerimento de autoria do vereador Mauro Bil (PT) pode trazer enorme dor de cabeça para o prefeito Marlon Donadon, ao mesmo tempo em que comprova a relação estreita entre parentes do ex-secretário de Coordenação Geral da Prefeitura de Vilhena, Melki Donadon, e os cofres públicos. Através do procedimento, Mauro Bil obteve cópia de contratos de locação de máquinas, veículos e equipamentos à administração vilhenense, e a análise preliminar dos documentos comprova a existência de negociações escusas entre familiares do ex-secretário e a prefeitura, a preços que não condizem com a realidade.
*Um sobrinho da esposa de Zacarias Donadon, por exemplo, recebe mais de R$ 50 mil ao ano para locação de uma caminhonete para transporte de merenda escolar. Já o filho do secretário de Obras e Serviços Públicos do município recebe R$ 80 mil pela locação de uma pá carregadeira para o organismo dirigido pelo próprio pai. Há algum tempo o vereador Nenzão (PDT), que assinou o requerimento junto com o petista, afirmou que tudo indicava que havia um “laranjal” enorme em Vilhena, usando termo popular para discriminar o uso de terceiros para disfarçar negociatas com o Poder Público.
*Com auxílio de técnicos, o vereador está avaliando a documentação e acredita existir elementos suficientes para que seja instaurado um procedimento de investigação mais consistente contra o Executivo. “Há várias situações que precisam ser esclarecidas, e vamos trabalhar no sentido de instaurar uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar a fundo os fatos. É inadmissível que se faça uso do dinheiro público desta forma, através do favorecimento aos familiares de Donadon, enquanto temos problemas graves em diversos setores da administração pública, como a saúde, cuja a má aplicação de verbas impede que a população de Vilhena receba tratamento digno”, argumenta. Em discurso proferido na sessão ordinária da terça-feira, Mauro Bil chamou a atenção dos colegas, pedindo responsabilidade e compromisso com a comunidade, “para evitar que os cofres públicos continuem sendo utilizados por essa família como se fossem de propriedade deles”.
*Entre os contratos já analisados, chama a atenção o de nº 028/2005, celebrado entre o Município e a empresa W. F. Transporte & Manutenção Ltda. O documento se refere a locação de uma caminhote com capacidade de carga de 4 mil quilos, que teria como finalidade atender as necessidades da Secretaria Municipal de Educação. De acordo com o contrato, a empresa, de propriedade de Valmir Pereira da Silva, que vem a ser sobrinho da esposa do secretário municipal de Saúde, Zacarias Donadon, recebeu R$ 51.360,00 pela locação do veículo, pelo período de 12 meses. A prefeitura ficou responsável pelo pagamento das despesas “com motorista, combustível, peças, pneus, licenciamento e quaisquer taxas referente à documentação” do veículo contratado. Ou seja, um negócio da China, que só mesmo um parente faz para o outro. “Acho que seria mais compensador para o município adquirir um veículo com este dinheiro”, comentou o vereador.
*Outro caso de relação no mínimo suspeita entre integrantes da família Donadon e o talão de cheques da administração municipal é a Carta Contrato nº 074/2005, firmado com a empresa Katar Construções Ltda. A empresa está representada no negócio por Jeverson Leandro Costa, que é filho de Paulo Pires, secretário municipal de Obras e Serviços Públicos e irmão de Rosane Donadon, esposa de Melki. Para alugar uma pá carregadeira ao órgão comandado pelo seu papai por oito meses, ele recebeu a bagatela de R$ 80 mil. Detalhe, a fiscalização do cumprimento do contrato fica por conta de Paulo Pires. “É uma situação ridícula que precisa ser averiguada com atenção”, disse o vereador.
*A análise da documentação deve mostrar outros casos semelhantes, na opinião do vereador. “Há muitos boatos sobre o uso de várias pessoas ou empresas de ‘pasta’ para prestar serviços ou alugar máquinas e equipamentos para o Executivo, e as informações que levantamos até o momento apontam para a comprovação dos rumores. A Câmara de Vereadores tem que cumprir com sua responsabilidade e apurar minuciosamente este e outros fatos obscuros, e no caso da confirmação das irregularidades exigir o ressarcimento aos cofres públicos e punição aos envolvidos”, encerrou Bil.