Em 2006 a cena e o pesadelo se repetem. Filas de caminhões e ônibus quebrados ou atolados
O sonho de integração das regiões norte e nordeste com o restante do país através da BR-230, a “rodovia da integração nacional”, bem como a ocupação e exploração da região norte, iniciada em meados da década de setenta, vem se tornando ano-após-ano, no pior pesadelo de quem acreditou na chamada Transamazônica, apelidada “carinhosamente” de “Transamargura”.
*Em 2006 a cena e o pesadelo se repetem. Filas de caminhões e ônibus quebrados ou atolados, pontes deterioradas e a necessidade de centenas de pessoas cuja sobrevivência depende do tráfego naquela rodovia federal. Caminhões quebrados há mais de uma semana e sem condições de receberem socorro, é uma cena comum, que apesar de trágica parece não incomodar autoridades e governos.
*Municípios como Apuí e Jacareacanga já começam a sofrer crises de desabastecimento, já que a Transamazônica é a única via de acesso a esses e outros municípios.
*Medicamentos, combustíveis, gêneros alimentícios, produtos agroflorestais, etc. já começam a faltar nas prateleiras do comércio local, e, os poucos produtos que conseguem chegar ao destino, têm sofrido considerável aumento de preço. A preocupação dos moradores é também com a remoção de doentes a Humaitá e Porto Velho.
*A reportagem de “O Curumim”, periódico de circulação no sul do Amazonas, esteve em vários pontos da BR-230, onde constatou a situação de calamidade vivida por quem depende dela. Caminhoneiros, passageiros e pessoas que residem às margens da BR-230 e vicinais, choram ao relatar o estado de penúria vivido a cada ano.
*Segundo o motorista de ônibus Erasmo de Freitas, da Amazônia Turismo a antiga Viação São Sebastião, que há mais de oito anos transporta passageiros ao município de Apuí, dentre outras localidades, “todos os anos a situação é a mesma e ninguém faz nada”.
*Inconformado, o caminhoneiro Gilberto Souza Ramos, quarenta e oito anos, que viajava com a esposa e dois filhos menores, estava há três dias parado em um atoleiro a menos de trezentos metros da balsa que da acesso ao Município de Humaitá. O curioso é que uma retro-escavadeira e três caminhões basculantes da empresa ETP Terraplanagem, uma das empresas contratadas para dar manutenção da rodovia, estavam parados às margens do rio Madeira.
*Nardelio Gomes é outro motorista que denuncia o que chamou de “má vontade” da empresa. Segundo ele, “trabalham apenas nos lugares sem atoleiros, ficam raspando o solo e colocando cascalho, porque não vêm fazer um trabalho sério onde realmente precisa”?
*De acordo com o depoimento de vários populares ouvidos por nossa reportagem, os primeiros quilômetros da rodovia saindo de Humaitá, são apenas uma amostra do que tem pela frente. Quem segue pela rodovia nos quilômetros noventa e cinco e cento e quatorze, depara-se com uma situação ainda pior. “Nem mesmo caminhonetes com tração nas quatro rodas conseguem romper os atoleiros”, reforça um dos passageiros de um ônibus que estava atolodado no local.
*A proprietária da Amazônia Turismo empresa de linha interestadual Rondônia-Amazonas, Neide Santos Loebrein e a agente de passagens Enedina Santos, reforçam o pedido de socorro. Neide Santos destaca que a má conservação da rodovia é responsável por prejuízos enormes, o que deixa as empresas de transporte de passageiros numa situação difícil.
*“Somente o compromisso social e moral que temos com esse povo tão sofrido é que nos anima a continuar nessa batalha”, finaliza.
*A reportagem do jornal “O Curumim” não conseguiu localizar os responsáveis pela Empresa ETP Terraplanagem para comentar o assunto.