*De cada 10 consumidores de drogas em Manaus sete são jovens. A afirmação é do titular da secretaria Municipal da Infância e da Juventude (Seminf), Jorge Trajano, que além das drogas classifica o trabalho infantil, a violência e o abuso sexual como os principais problemas de crianças e adolescentes da capital.
*Em uma amostragem realizada com 2.118 estudantes de escolas públicas cursando o ensino fundamental e médio o consumo de drogas, principalmente solventes, maconha e cocaína apresentou dados elevados de uso de entorpecentes. A droga mais freqüente entre crianças de 10 a 12 anos são os solventes com 12,6% de consumo.
*Dentre os maiores consumidores estão as meninas com 16,8%, contra o de meninos que apresentou média de 15,6%. O total estimado de estudantes das redes municipal e estadual de ensino de Manaus foi de 23,2%. A mesma pesquisa foi realizada em todos os municípios brasileiros.
*Em outro levantamento, este realizado pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) em parceria com o Conselho Municipal sobre Drogas (Comsod) em 2004, com 2.500 adolescentes demonstram que a média de crianças com idades entre 10 e 12 anos que fizeram uso de entorpecentes é de 88,25%.
*Deste total 68,2% já consumiram bebidas alcoólicas, 11% tabaco, 7,8% solventes, 2% ansiolíticos e 1,8% anfetamínicos. Os solventes estão entre as drogas ilícitas mais consumidas devido ao seu baixo custo e por inibir a fome, de acordo com o presidente do Comsod, Aluney Elferr.
*“Na maioria dos casos as crianças nessa faixa etária que consomem drogas nem são da capital, grande parte vem do interior do Estado. A família aqui chegando não tem como sobreviver e a criança acaba indo pedir esmola nas ruas. Só que os R$ 0,50 que você dá não são suficientes para comprar comida, enquanto dá para comprar dois dedos de cola de sapateiro. Então ele acaba comprando cola que é mais barato e faz passar a fome”, contou.
*Comsod
*Para tentar auxiliar na diminuição do número de crianças envolvidas com drogas do interior do Estado que vem para a capital e contribuem para o aumento de casos, o Comsod está formando consultores em referências químicas para atuarem nos municípios. A previsão é de que cada município forme 50 consultores. Manacapuru, Itacoatiara, Silves, Humaitá e Presidente Figueiredo são algumas das localidades que já estão recebendo a equipe do Comsod.
*Um exemplo desta realidade é o itacoatiarense D.M, 17, que começou a consumir drogas aos 13 anos no bairro Cidade de Deus, zona Leste, quando sua mãe mudou-se para Manaus. Segundo o adolescente, ele começou seu envolvimento com entorpecentes repassando droga no bairro e logo em seguida passou a consumi-las também.
*“Comecei porque os meus amigos ganhavam algum dinheiro repassando droga e logo em seguida já estava consumindo. Nesses quatro anos fiz uso de cola, maconha e cocaína, já fui até preso pela polícia, apanhei um pouco e fui solto”, falou.
*Para a mãe do jovem, Ângela, a maior influência para que seu filho se envolvesse com entorpecentes foram as más companhias. “Já até pensei em desistir de tentar ajudar meu filho, mas como poderia se ele é meu único filho. Desde quando descobri estou tentando fazer ele enxergar que isso não é vida para ninguém, só que até agora não consegui que ele entenda. Cansei, essa é a última vez que tento ajudá-lo”, desabafou.
*Em casos como o de D.M a Seminf dispõe do programa Agente Jovem em que adolescentes de 15 a 17 anos recebem uma bolsa auxílio de R$ 250,00 e participam de atividades desenvolvidas pela secretaria. Outros programas que também auxiliam na recuperação de crianças e adolescentes envolvidos com uso de drogas, exploração do trabalho infantil e abuso e exploração sexual são o Acolher (7 a 14 anos), Praça Viva e o Aprendiz (16 a 18 anos).
*No entanto, tendo em vista o uso cada vez mais precoce de entorpecentes foi criada a seção antidrogas da Seminf para atender, por meio de psicólogos, assistentes sociais, educadores e corpo jurídico as crianças menores de 12 anos encaminhadas pelos Conselhos Tutelares ou pela abordagem de rua da secretaria.
*Há ainda os Centros Integrados de Apoio a Crianças e Adolescentes (Ciaca’s) em que os jovens aprendem técnicas de pintura, grafite, artesanato, confecção de jóias, informática, hip hop, dança, entre outras. Existem três Ciaca’s, cada um atendendo a uma média de 300 crianças e adolescentes. Há previsão de que até no primeiro semestre três novos centros sejam inaugurados e que até o final do ano mais cinco sejam colocados em funcionamento.
*O secretário Jorge Trajano informou que como resultado das oficinas de jóias, uma parceria está sendo firmada entre a secretaria e a empresa Magia Amazônica, para dar emprego às jovens que concluíram o curso no ano passado.
*“A receptividade tem sido muito satisfatória. Este ano temos 300 crianças e adolescentes participando de nossas atividades e mais 380 na fila de espera somente no Ciaca da Darcy Vargas. Isso mostra que os trabalhos dos centros estão não só atraindo o jovem como servindo na retirada da ociosidade e na geração de emprego e renda”, disse.