Em sua nova coluna para a Vogue, a antropóloga Mirian Goldenberg conta como a escrita a ajudou a superar momentos difíceis
Foto: Divulgação
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Apesar de nunca ter dado um nome para o que faço – escrita criativa, escrita curativa, escrita catártica, escrita terapêutica ou escrita existencial? – tenho certeza de que só consegui sobreviver aos meus traumas de infância, e me sentir um pouco mais segura e protegida, porque sempre escrevi sobre meus sofrimentos, ansiedades, vergonhas, culpas, angústias, inseguranças e tristezas.
Posso ficar muitos dias sem comer ou sem dormir, mas desde os meus 16 anos não (sobre)vivi um só dia sem escrever. Minha caneta e meu caderno fazem parte do meu corpo, são uma extensão da minha mão, da minha alma e do meu coração. Não sei escrever ficção. Só sei escrever o que penso, o que sinto, o que observo, o que escuto.
Quando alguém me pergunta: “Você escreve para quem?”, não sei como responder, pois escrever não é um meio para conseguir algo ou conquistar alguém. É uma necessidade vital. Não vivo para escrever. Escrevo para (sobre)viver.
Na verdade, escrevo principalmente para mim mesma. Sempre que vivo algo muito feliz ou triste, preciso parar de viver para escrever o que estou vivendo. Caso contrário, sinto que não estou (sobre)vivendo. Como um roteiro de filme, parece que acabei encontrando tudo o que sempre quis desde criança na minha vida pessoal, profissional e acadêmica: a liberdade para construir o meu jeito mal comportado de ser antropóloga e a felicidade de escrever e, mais importante ainda, de saber que o que eu escrevo tem algum impacto, mesmo que mínimo, na vida das mulheres, e também dos homens, principalmente dos mais velhos. É querer muito?
Se me perguntam qual é a minha profissão, respondo: professora, antropóloga e pesquisadora. É verdade, sou tudo isso. Mas o que eu mais gostaria de responder é: eu sou uma escritora. Por que não me defino como escritora? Talvez porque escrever não é a minha profissão, é a minha salvação, minha essência, minha verdade mais profunda. Talvez porque eu acho que o que eu escrevo é tão íntimo, cotidiano, microscópico, que não pode ser lido por ninguém. Nem por mim mesma.
Muita gente não entende porque escrevo tantos cadernos se não são para serem lidos. Não preciso entender nem explicar porque escrevo. Seria como explicar porque estou viva e quero continuar vivendo. Preciso explicar isso? Escrever é, para mim, terapêutico, catártico e libertador.
Escrever é um processo de libertação dos meus pensamentos e sentimentos mais profundos, inconscientes e desconhecidos, processo que me ajuda a descobrir e aceitar meus limites e minhas potencialidades.
Escrever me permite ir além dos meus problemas, angústias, ansiedades e preocupações e encontrar um propósito para a minha vida. Escrever é a forma que encontrei de me curar de traumas que jamais consegui confessar a ninguém, nem mesmo para os meus analistas ou para mim mesma.
Escrever cura a minha ansiedade excessiva, meu pânico avassalador e minha tristeza insuportável. Escrever e viver são sinônimos para mim. Escrever não é o que eu faço. Escrever é o que eu sou. Escrever não é o meu trabalho. Escrever é a minha vida. Escrever é a única forma que eu encontrei para (sobre)viver. Escrever é ser eu mesma. Escrever é o que dá significado à minha vida.
Deixo, então, uma pergunta para cada uma de vocês: O que dá significado à sua vida?
Autor: Mirian Goldenberg (@miriangoldenberg) - Vogue
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