Canavarro: arte como vocação
Foto: Assessoria
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Arte plástica canavarresca desenvolvida em Rondônia é científica. Em outubro de 2013 a cidade de Porto Velho perdeu a presença física do artista plástico Raimundo Coutinho Canavarro1. Amazonense de nascimento, Rondoniense por opção, o pintor escolheu Porto Velho para viver na metade do século XX.
Canavarro iniciou seus desenhos artísticos na década de 1930. Pintou sua primeira obra - em óleo sobre tela - na década de 1940. Na década de 1950, o artista já estava elaborando sua produção plástico-imagética em Rondônia, sendo, até a presente data, o artista plástico que, por mais tempo, produziu obras de arte, ininterruptamente, em terras Rondonienses.
Dos 65 anos de produção do artista, Canavarro pintou por quase 60 em Rondônia. Porém, para uma análise técnico-científica, sob o crítico inspecionar vanguardista da História da Arte, os fatos relacionados ao próprio artista não têm relevância basilar. Suas obras são os verdadeiros objetos de estudo, provocando mudanças de paradigmas, amplitude de visão e colocando em discussão os próprios fundamentos da História da Arte.
Raimundo Coutinho Canavarro entre 1958 e 1998/ Fotografias: acervo família canavarro©
Com base nessas premissas, 2018, - marco temporal do 5º ano de falecimento de Canavarro -, é homenageado por um edificador estudo científico da produção pictórica desse artista. O MAV-BH (Memória das Artes Visuais), grupo de pesquisa em História da Arte, ligado ao CNPq, em conjunto com o Centro Cultural da Universidade Federal de Minas Gerais apresenta no livro Arte como vocação: Raimundo Coutinho Canavarro (ISNB 978-85-60928-18-7) uma face velada, e cientificamente legitimada, da arte plástica canavarresca produzida em Rondônia.
Com colaboração de pesquisa de Gisele Guedes, Mestre em História da Arte (UFMG), o autor, curador, crítico de arte e professor Rodrigo Vivas2, Doutor em História da Arte (UNICAMP) textualiza eruditamente, com entrelaçamento bibliográfico, esse trabalho “inaugural no contexto acadêmico”, referente à História da Arte em Rondônia. Segundo Vivas, a análise das obras de Canavarro “não só foi capaz de revelar analogias, como estabeleceu uma possibilidade de compreensão maior dentro de sua produção, atestada pela recorrência de procedimentos, visualidades, e representação de objetos e temáticas.
Em termos de procedimento, a referência é feita ao modo de aplicação da tinta, o emprego do pincel que toca de relance a superfície do quadro e constrói, como que por fragmentos, as vegetações que ocupam as cercanias da cena ou que conferem estatura às árvores. Se, de perto, parecem pontos de cor, à distância atestam a complexidade de sua presença. A reincidência de técnicas, por sua vez, oferece visualidades similares, repetidas em quadros, ainda que não compartilhem do mesmo assunto. Já os objetos e temáticas foram o que permitiu, em maior sentido, a apreensão da produção do artista em uma coerência interna”, tópico que é explorado posteriormente no livro. “A etapa seguinte, que envolveu a edificação de relações exteriores dentro do mundo dos objetos artísticos, é tão conflituosa quanto a anterior, pois depende da criação de um repertório pessoal e da aptidão em cruzar interpretações sem comprometer seus respectivos sentidos individuais.
No caso das pinturas de Canavarro consideradas, as correlações se voltaram não apenas às aparências finais das obras, mas buscou incorporar propósitos de realização – como o pressuposto didático reconhecido e os dados da realização em si, ou seja, o conhecimento e uso da paleta cromática”.
Fotografia: Dorys Heredes Marinho©
O tópico introdutório da obra literária acima descrita, intitulado Interferência e vazio: desafio da pesquisa em História da Arte aponta que “a pesquisa assume a condição de uma fissura que, gradativamente, traz à superfície aquilo que, até então, estava encoberto e, por isso, inexistente”. Em seguida, o autor cria um debate nomeado de Invisibilidade das lacunas, onde são apresentadas “construções teóricas e contradições referente à arte latino-americana”.
A narrativa prossegue traçando “eixos de compreensão que reúnem grupos de obras de Canavarro por meio de suas analogias”. Assim, Vivas registra, como “proposta, um núcleo” canavarresco científico e “básico, sendo: Pitoresco cromático, que surge acompanhado por duas divisões: O olhar ampliado: ver o invisível e Domínio da paisagem: ilusão e aparência da natureza. Esse último contém, ainda, duas outras ramificações: Paisagens artificiais e Cotidiano em pausa”.
O cientista ressalta ainda, dentro da narrativa, um “parêntese necessário, em consequência da grande participação da ideia de paisagem na produção de Canavarro”. Esse destaque “reside no capítulo Entre o quadro e a paisagem, espaço onde são resgatadas informações do início da paisagem enquanto termo e noção”.
A pesquisa, inédita no país, - além de ser apresentada em congressos científicos -, será desvelada oficialmente em sua totalidade, por meio do livro Arte como vocação: Raimundo Coutinho Canavarro, no dia 9 de outubro de 2018, às 19h30, no Centro Cultural UFMG, em Belo Horizonte, MG, Av. Santos Dumont, 174 - Centro, CEP 30110-002, telefone (31) 3409-8290, onde também será inaugurada – com classificação livre e entrada franca – uma exposição de obras originais canavarrescas, contendo exemplares da década de 1960.
A mostra, que vai até 25 de novembro de 2018, também intitulada Arte como vocação estará aberta a visitação do público das 10-21h de TER a SEX e de 10-18h, SAB e DOM. Chancelada em análise literária-imagética-científica, a arte plástica desse artista da Porto Velho de outrora, ainda tão atual no século XXI, continua a lançar questionamentos para o presente e futuro da História da Arte.
1-Raimundo Coutinho Canavarro
Artista plástico
Membro do Grupo Amazonas, o primeiro grupo leigo de artistas plásticos (óleo sobre tela) de Rondônia, que atuou isoladamente entre 1957 e 1977. O Grupo Amazonas era composto por: Raimundo Coutinho Canavarro (1934-2013), Afonso Ligório de Souza (1935-1980) e Raimundo Paraguassú de Oliveira (1935-2012).
2-Rodrigo Vivas
Doutor em História da Arte
Professor da Escola de Belas Artes UFMG
Diretor de Ação Cultural UFMG.
Membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte
Curador
Autor
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