ARTIGO – Se Rasgum no Rock - Por Ismael Machado

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Foto: Divulgação

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Finda a segunda edição do festival Se Rasgum no Rock umas percepções se instalam. Meio fluidas algumas, quase concretudes outras. Há uma sensação de que, se o festival tivesse se resumido apenas à versão de You Shook me All Night Long, do AC/DC, executado pela banda norte-americana Nashville Pussy e Choveu, da banda Cordel do Fogo Encantado, mesmo assim já teria valido a pena a realização de todo o evento. No cover do AC/DC, o Nashville Pussy resumiu uma das coisas essenciais do rock and roll para quem realmente ama o gênero. A atitude de plugar os instrumentos e simplesmente mandar ver. Iggy Pop, Ramones, Nirvana, Motorhead, enfim, algumas bandas encarnam essa atitude. Mas ninguém no universo do rock encarnou e encarna isso tão bem quanto o AC/DC. Perto deles, teorias se desfazem, maquiagens borram e atitudes blasés caem por terra. Porque o AC/DC é quem melhor sintetiza ser adolescente, chutar o balde e infinitamente fazer os solos fantasiosos em guitarras imaginárias. Fale de AC/DC para o jornalista Vladimir Cunha, ou para um dos organizadores do festival Marcelo Damaso, ou para o vocalista dos Delinqüentes Jaime Neto, ou para o coordenador do curso de Turismo do IESAM, Wilker Nóbrega, ou para o contador Valter Sampaio, ou para o vocalista do Stress Roosevelt Bala, ou para Sammliz, Ícaro Suzuki, ou para Marcelo Gomes na UEPA, ou para Gerson Nogueira, colunista esportivo e tantos etc. O sorriso se abrirá numa cumplicidade instantânea. A banda australiana é sempre uma das mais queridas lá no lado esquerdo do peito. Em Choveu, o Cordel do Fogo Encantado levou ao limite aquilo que sempre parece que vai ocorrer quando a banda toca. É uma sensação de que o mundo vai acabar a qualquer momento, que o apocalipse anunciado por um cego louco que vaga em uma rua meio deserta e empoeirada, está chegando naquele instante. Momento mais esperado pela maioria dos que foram ao festival – as pessoas não se perguntavam ‘vais ao festival?’ e sim ‘vais ao show do Cordel?’- o show da banda pernambucana atingiu em alguns momentos tudo o que se espera de um grupo no palco. Comunhão total com a platéia, sonzeira invadindo todos os poros, vocalista parecendo estar possuído por alguma entidade xamânica. À saída, era fácil ouvir gente dizendo: ‘estou de alma lavada’, ‘estou transfigurado’, ‘isso é mais do que um show, é uma experiência de vida’, ‘foi uma quebradeira só’, enfim, foi o momento em que, sem apelar para descidas de palco ou outros efeitos cênicos comuns (e muitas vezes necessários) em shows, o Cordel deu ao público aquilo que ele queria, mas em determinados momentos chegou a suplantar essa expectativa. E Choveu foi um desses momentos. Mas o Se Rasgum Festival também pode ser espaço para algumas conclusões inconclusas. Rascunhos de teorizações que se fazem necessárias enquanto se volta extenuado para casa. Atitude é a palavra que mais se faz presente. Atitude de palco, o que no fundo é o que parece ser ainda o calcanhar de Aquiles das bandas paraenses. A relação de uma banda com o palco é um dos momentos cruciais para a entronização de um grupo num patamar que o coloca acima dos demais. Nesse quesito, à exceção de Jaime, nos Delinqüentes e Sammliz, no Madame Saatan, ainda há um caminho longo a ser percorrido pela maioria dos grupos. Justiça seja feita ao I.O.N, distante anos-luz daquilo que se convencionou chamar de rock paraense. Só que, em grande parte das bandas, o que se vê são vocalistas sem domínio de palco, e bandas que não ultrapassam seus limites. Você as assiste, canta algumas músicas junto, pula em outras, mas em nenhum momento percebe estar diante de algo que pode te transformar. Sim, porque só os cínicos e céticos não crêem que um show de rock pode transformar alguém. Quem pensa assim deve assistir a Fim do Século, o documentário dos Ramones. A cada apresentação da banda em estados americanos uma nova banda surgia depois (Dead Kennedys, Circle Jerks, Black Flag são alguns dos exemplos). Ver no mesmo festival Cabaré, Cordel, Móveis Coloniais de Acaju e Nashville Pussy, ou Replicantes, Wander Wildner e Los Porongas em ocasiões anteriores, só reforça essa certeza de que palco é outra história e não é qualquer banda que nasceu para ele. Não basta colocar óculos escuros na cara e achar que a partida está ganha. O buraco é mais embaixo. Por fim, em cerca de três anos acompanhando festas, shows e festivais produzidos pelos heróicos meninos e meninas da Se Rasgum Produciones, meio que ficou patente uma coisa. Os que vem de lá nem sempre tem muito a mostrar também. É interessante notar que o vocalista do Lafusa canta igual ao Nervoso, que canta igual ao vocalista do Superguidis, que canta igual ao vocalista do Moptop, que canta igual ao...enfim, a lista poderia ser quase interminável. E ainda por cima pairando a sombra de Los Hermanos e Strokes em todos eles. Como bem disse a jornalista Márcia Carvalho: ‘tem que ter voz e presença de palco para cantar canções de amor piegas’. E os fãs dessas bandas ainda falam mal da Legião Urbana. No caso paraense, um Suzana Flag já é mais do que bastante para uma cidade tão pequena como a nossa. Há um predomínio atual de um rock que meio na brincadeira apelidei de ‘rock cremogema’, que seria mais ou menos o seguinte: pegue a melodia da maioria das músicas dessas e de algumas bandas paraenses e troque a letra delas pelo famoso single composto por Nilson Chaves no início dos anos 70. Está aí uma síntese desse rock que não é Jovem Guarda, que não é power pop, que não é engraçadinho, que é quase nada afinal. E com vocalistas que não sabem muito o que dizer e fazer no palco. Por isso ficamos tão impressionados quando assistimos a bandas com atitude no palco. Mesmo assim, pouco aprendemos ainda com esse intercâmbio. Que a Se Rasgum Produciones continue com essa ‘alfabetização’. Para o bem e para o mal. Ismael Machado é jornalista, mora em Belém (PA), e durante os anos de 1994 a 1996 foi editor de cultura do jornal Alto Madeira
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