Momento Lítero Cultural – XLVII - Por: Selmo Vasconcellos

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*SELMO VASCONCELLOS - Porto Velho, RO. Poeta, cronista, contista, antologista, divulgador cultural e editor da página literária impressa semanal “LÍTERO CULTURAL”, desde 15.agosto.1991, em parceria com o saudoso amigo/irmão/escritor José Ailton Ferreira “Bahia”, falecido em 21 de setembro de 2005, no jornal Alto Madeira.Com cerca de 1450 colaboradores no Brasil e mais em 35 países. Obras publicadas (poesia e prosa): REVER VERSO INVERSO (1991), NICTÊMERO (1993), POMO DE DISCÓRDIA (1994), RESQUÍCIOS PONDERADOS (1996) e LEONARDO, MEU NETO (antologia,2004). Livretos independentes (poesia): MORDE & ASSOPRA e suas causas internas e externas (1999), DESABAFOS em memória de ROY ORBISON (2003), Revista Antológica “Membros da Galeria dos Amigos do Lítero Cultural” (2004) e poesias traduzidas para o francês, inglês, alemão, italiano, japonês, russo, grego chinês, polonês e espanhol. www.selmovasconcellos.zip.net. *- *MÁRIO QUINTANA *O LEITOR IDEAL *- *O leitor ideal seria aquele a quem bastasse uma frase. *Uma frase ? Que digo ? Uma palavra. *O cronista escolheria a palavra do dia : “Árvore”, por exemplo, ou “Menina” *Escreveria essa palavra bem no meio da página, com espaço em branco para todos os lados. *- *Como um campo aberto aos devaneios do leitor. *Imaginem só uma meninazinha solta no meio da página *Sem mais nada. *Até sem nome. *Sem cor de vestido nem de olhos. *Sem saber para onde ia... *Que mundo de sugestões e de poesia para o leitor ! *E que cúmulo de arte a crônica ! Pois bem sabeis que a arte é sugestão... *E se o leitor nada conseguisse tirar dessa obra-prima, poderia o autor alegar, cavilosamente, que a culpa não era do cronista. *Mas nem tudo estaria perdido para esse hipotético leitor fracassado, porque ele teria sempre à sua disposição, na página, um considerável espaço em branco para tomar os seus apontamentos, fazer seus cálculos ou a sua fezinha... *Em todo caso, eu lhe dou de presente, hoje, a palavra “Ventania”. Serve ? *##### *MARCELINO RODRIGUES DE PONTES *IN MEMORIAM *- *O Pássaro chega *pra última refeição. *Arapuca farta. *##### *LUIZ FERNANDO PROA *www.almadepoeta.com *Heróis de espelho *- *somos feitos *de tudo que nos cerca *de argila, madeira *poeira e pedra *- *somos palco *de uma peça *normais, humanos *loucos ou feras *- *somos aquilo *que não somos *artistas, retratos *heróis de espelho *- *somos nosso *maior receio *pior do que tudo *contágio do meio *- *mesmo que loucos *perdidos no verso *feiticeiros da vida *poema incerto *- *somos parte do todo *grãos de mistério *construtores do sonho *em busca do eterno *##### *ASTRID CABRAL *PORTAL DO DIA *- *Trapos da noite nas pálpebras *levo à mesa do café *a ressaca da insônia *e apática me defronto *com a ágil apressada manhã *de xícaras tilintantes. *Que fazem aqui as laranjas *emigradas das árvores? *Bem estariam nos galhos *escuros da madrugada *em vez do agressivo prato *de onde me encaram furtivas. *O cheiro do café chega *saudando-me sem palavras. *Que dia pois será esse *chamando-me implacável *a cumprir seu torvelinho *quando a noite ainda me cobra *altos tributos de sombra? *Azul, no bule de louça *o pássaro imóvel e mudo *revela-me a ironia *do ser exilado do real *enquanto ébria da véspera *vacilo ao portal do dia. *##### *TONHO FRANÇA *Cores...(dores) *- *A tarde repousa no quintal *Púrpuros tons de anjos *Folhas e flores brincam ao vento *Como a se recolher da noite *Fecho as janelas, *(protejo-me de mim mesmo) *Vinho e cigarro e a mesma tosse, *A mesma música e os olhos fixos *Na tela que descansa em tons claros *Tua imagem, *O tempo não tira isso de mim, *Éramos azuis, e tínhamos a profundidade do mar. *Éramos rosa, e tínhamos o mesmo olhar, *Éramos lilás e sabíamos dançar *(vinho, cigarro e a tosse que insiste). *Éramos furta-cores, todas as cores, aquarela. *Hoje lembranças, onde sangro, sagradamente, *Tua imagem em tons claros na mesma tela. *##### *ISABELA FIGUEIREDO *Todas As Lua *- *Lua-Cheia: *Meio lua *Meio estrela *Lua-Nova: *Meio nua *Meio prosa *Lua-Minguante: *O sorriso flutua *o olhar fulminante *Lua-Crescente: *A lua adolesce *no céu permanente *Todas as luas são belas *Todas são nuas e suas *Todas são puras e novas *Mesmo que sejam velhas *##### *CLÁUDIA GONÇALVES *Alma de Poeta *- *Carrega sonho *em metáforas... *atenta, aos *amores, as partidas, *o som, o silêncio... *o pensamento navega *no subterrâneo *da emoção *magia que pulsa *nas entrelinhas *do que projeta, *e no delírio *da inquietude *está a alma do poeta. *##### *JORGE VENTURA *Noite Muda *- *De um silêncio de lua *na calada da noite *a súbita lágrima eleva-se ao céu *- *Sozinho *no espaço *à tua espera – o infinito *- *É vasto o pensar *no vazio breu *Passo o tempo a molhar estrelas *##### *ANDRÉA PAOLA *Raízes *para Clower Curtis *- *Associar um sentimento ao amor ... *é pô-lo em prática. *- *Se um homem me beijar a boca *e disser que me ama, *vou sempre esperar que cuide bem de mim, *com atenção, amizade, muito carinho, sexo ... *tudo de bom. *- *Minha natureza vai se entrelaçar a dele *em harmônica orgânica... *como fazem as raízes *sob as flores dos jardins. *- *E, se um dia um de nós for ceifado... *- *vamos desesperar de amor partido !!!! *- *E é natural que seja assim, *por amor *- *à vida. *#### *JOÃO PEDRO RORIZ *A divina comédia *- *Nossos olhos repousam após a divina tormenta do tempo; *Nossos sonhos dançam constrangidos sob a chancela de acordes viscerais; *Os quebrantos colossais se abraçam sofridos... *E despertamos num sórdido momento de ilusão. *- *Nos amamos, escondidos... *Com os olhos lançados no abismo que separa o inferno do paraíso; *E nesse furto solitário das emoções tempestivas, nos consumimos, *Pois o mistério contradiz o tempo quando somos bandidos. *##### *ELAINE PAUVOLID *DESALENTO *- *Trago a luz *que escolhe confusa, *a dor-memória desconhecida. *Tento alcançá-la, *mas nunca está onde meus dedos chegam. *Sigo triste e dói-me o corpo todo. *##### *ANA PAULA PEDRO *Santa *- *Afundar sobre a quente névoa de tuas ruas *Soprar como vento em constante persistência das horas *Lambuzar-me em tuas densas águas agridoces *Escalar as falésias de tua incoerente geografia *Renascer como oásis de teus secretos redutos *Esquecer de vez o deserto que há em mim *Cobrir a memória com o tênue lençol de algodão *##### *ANNA D’CASTRO *INJUSTIÇA *- *Quando o Amor é demais *não é justo dizer. *Quando a dor é demais *não é justo gritar. *Quando o horror é demais *não é justo sofrer. *Quando a guerra ataca *não é justo morrer. *Quando a criança chora *não é justo deixar. *Quando o pai não tem pão *não é justo acontecer... *E vem o pranto, sem lágrimas *O grito sem razão *A palavra trancada *Dentro do coração *E a injustiça dos homens *Que nunca pede perdão *A todos os inocentes *Que sangram descompaixão. *##### *GRAÇA CARPES *Degraus de sombras *- *porque você morreu *e um sentimento ver sobe-me *à garganta *- *ouço o bater de minhas botas *adentrarem noites *- *porque não saberei do calor de *tua pele *olho para o céu e Shakespeare *espiona-me *e sussurra ao meu ouvido *- *- Julieta... *- *corro pelas ruas *frias *vazias *e a luz de tua lanterna *noturna. *##### *AUGUSTO SÉRGIO BASTOS *- *O milagre do pão ou *Receita para fazer poema *- *Para fazer o poema *é preciso pôr a mão na massa. *- *Escolher os ingredientes: *as palavras na medida certa *- trigo e fermento *para o poema crescer. *Uma pitada de sal não pode faltar. *Açúcar, um pouquinho só: *dos açucarados devemos ficar longe. *Mas há poema doce e de sal, *sovado, light, integral. *Capriche na forma e evite as formas. *Não enfeite demais, *no miolo está o valor do poema. *Mexa, remexa, *trabalhe bastante. *É preciso comer o pão que o diabo amassou, *mas não deixe o suor à vista. *Pequenos cortes darão vida *e consistência. *Quando estiver pronto, *deixe-o descansar *- na gaveta. *Não há forno para poema. *É no calor do leitor que crescerá. *- *Muitos dizem que ele não é necessário, *mas a alma precisa comungar com a poesia. *No poema a hóstia será consagrada *e o pão nosso virá a cada dia. *##### *LAU SIQUEIRA laranja mecânica *- *às vezes me desespero *e cometo absurdos *- *às vezes simplesmente *fico mudo *- *não sei de onde vim *nem porque assim *me desnudo *##### *VÂNIA MORAES *Anjo, Lilith, mulher... *- *Benção divina e tentadora. *- *Não existem fórmulas *ou regras em meu palavreado... *- *Meu versejar é livre da métrica *que aprisiona as idéias. *- *Sutileza sim, *faz parte desse quadro *onde esquadro as sensações *que brotam como olho d'água *em terra árida. *- *Não quero uma silhueta virtual, *não sou rascunho... *sou original. *- *Mistério,feitiço... *- *Anjo, Lilith, *senhora das trevas, *todos abrigam *a essência de luz *da mulher simples *no seu imaginário. *##### *SELMO VASCONCELLOS *- *Tibete *Mundo longe *Mudo monge. *##### *BENVINDA PALMA *Conversa Saborosa *- *Chocolate *Ao leite, *Deleite, *Amargo... *Fondue *Frutas frescas... *Uma idéia na cabeça. *O bolo de cenoura e maçã... *Delícia *Malícia... *No forno... *Pode queimar. *Suco de hortelã *Desejos... *Lampejos... *Nossa conversa saborosa *Essência de Rosa *Devaneio... *E por que você não veio? *Fiquei a esperar... *Esperaria séculos... *Meu tempo a você pertence! *Venha depressa... *A sirene soou *Você ouviu? *A ligação caiu! *Amanhã voltamos a nos falar! *- *Poesias acima extraídas do *www.almadepoeta.com *do amigo Luiz Fernando Proa *##### *MARISA ZANIRATO *- *Quero falar de poesia, *quero dizer bom dia, *jogar uma flor no ar, *vasculhar minha gaveta, *fazer malas, viajar... *Quero me olhar no espelho, *riscar com batom vermelho *rosto, pulsos e joelhos, *e ir pro mato guerrear; *Quero transpor fronteiras, *quero arriar bandeiras, *quero quebrar barreiras... *Quero chorar nas nascentes, *nas margens no sol poente *beber litros de beleza, *vestir o branco da pureza *e ir... sem ter que voltar... *Mas, onde começa o horizonte? *Numa esquina, numa ponte, *num amor que já morreu? *Já nem lembro dos espaços, *pois meus passos de compasso *giram ciranda louca, *fazem círculos, traçam sulcos *e não saem do lugar. *##### *NEUSA ZANIRATO *O RUMO DA ROSA *- *A rosa *Arrasou a roseira: *Rompeu faceira *O rumo reto do muro *Rasgou, num rito, *O rigor do escuro *Raiando em brilho *Reinando em cores *(O)dores de amores *- *A rosa *(o que restou do jardim) *Riscou os rios de erros *Refez o raiar do dia *Renasceu na poesia *E ressurgiu em mim *##### *Republicação *LUCIANO DIAS ROSA *MUTILADO *- *Do meu corpo mutilado *Dou um pedaço a você. *Meu coração explode *No pulso, *Doce impulso, *Leve fantasia. *Leve-me! *O pedaço do meu corpo, *Dilacerado que te dou *É uma poesia! *##### *DORA ALVARENGA *DIABRURA *- *Entre nessa lama *saia dessa dança *espectral *translúcido-mal *verso imerso sem sal *que à parte implora *um aparte igual *desafinado *indefinido *sobrenatural *- *Saia dessa lama *vem jantar comigo *como coisa farta *fundo prato roxo *iguaria fatal *limão e fel *alga e sal *coisa banal, fácil doce, *vem brincar comigo *não faz mal... *##### *MARINÊS BONACINA *Grito da Vida *- *No universo, *somos viajantes interplanetários. *Busco o mistério do espaço cósmico, *O alerta da natureza, *no cenário azul do infinito. *O fio de sol queima . . . *Sinfonia universal, *no grito do planeta terra, *que repudia a poluição. *Testemunha o vento *no coração de Gaia. *O mundo dos produtos químicos: *o homem de máscara afivelada! *Chora a mata em destruição, *o rio sangra . . . Beijando o mar. *Assim, a espessura dos sonhos, *a intocável atmosfera, *entre as camadas *da consciência, apaga-se. *Talvez, um dia . . . *o homem registre no laboratório central. *#####
Direito ao esquecimento

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