O Documentário "O Massacre de Alto Alegre", de Murilo Santos, representante do Maranhão no projeto DOC TV II, será exibido neste domingo, às 17 horas no audicine do Sesc Esplanada, em mais uma sessão do Cineoca.
*Sinopse
*O dia amanhece em Alto Alegre e o sino da capela anuncia a missa das seis horas. Na igreja estão reunidos os frades, as freiras, famílias de trabalhadores da Missão Capuchinha e as meninas do internato, a maioria índias. No instante em que o padre que conduz a celebração ergue a hóstia, uma flecha lhe atravessa o corpo. Dezenas de índios, armados de espingardas, flechas e facões, assaltam a igreja e, logo depois, as residências do povoado, matando cerca de 200 pessoas.
*O incidente em Alto Alegre ficou conhecido como o maior massacre de brancos praticado por índios em toda a história do Brasil, muito embora, na represália que se seguiu, os brancos tenham exterminado aproximadamente 400 índios.
*Este documentário procura refletir sobre a violência física e simbólica contra o povo Tentehar/Guajajara, perpetrada pelo estado brasileiro, que acreditava na ação civilizatória da Igreja Católica para integrar os chamados selvagens à vida nacional. Um massacre que se origina na intolerância cultural e religiosa, no etnocentrismo, na suposta superioridade da cultura branco-cristã. Um massacre decorrente do desrespeito à diversidade cultural, em um momento em que o estado brasileiro se consolida, ancorado nas idéias de ordem e de progresso.
*Embora as conjunturas históricas tenham variado, nas relações entre brancos e Tentehar/Guajajara permanecem os fundamentos da intolerância, fazendo com que as marcas do conflito de alto Alegre se façam sentir até hoje na região de Barra do Corda, no Estado do Maranhão.
*As práticas utilizadas pelos frades refletiam as orientações da Igreja naquele momento, correspondendo a um projeto "condicionado pela mentalidade do tempo, não suficientemente atenta - dizemos hoje - e respeitosa da diversidade cultural e da originalidade dos valores e das indiscutíveis características humanas da etnia índia (...)", conforme apontam os frades em publicação comemorativa do centenário da presença dos missionários lombardos Capuchinhos no Norte e Nordeste do Brasil. O sistema de internato, como medida para impedir o contato das crianças com sua cultura, a adoção de punições à desobediência às normas da Missão eram práticas recomendadas para o êxito do processo de catequese.
*Na década de 50 os frades reconstroem a Missão no mesmo local para colonos não índios. A missão funciona até 1983, quando os índios expulsam os religiosos e moradores de seu território. As famílias camponesas e outros moradores expulsos referem-se a esse período como o segundo Massacre de Alto Alegre.
*O chamado massacre, ao qual os índios se referem como "o tempo de Alto Alegre" é freqüentemente chamado pelos religiosos como "o martírio de Alto Alegre". As circunstâncias em que os religiosos foram mortos preencheriam, na época, as condições para desencadear um processo de canonização, mas o entendimento atual da Igreja Católica, considerando o respeito à diversidade cultural, desestimula essa expectativa. Esse aspecto, ainda hoje polêmico, é abordado no documentário a partir de gravações realizadas na Itália.
*A história é contada a partir do recurso a documentos e à memória oral de índios Tentehar/Guajajara, de religiosos e de outros envolvidos, além do depoimento de antropólogos.
O documentário utiliza, também, como forma de representação dos acontecimentos, cenas dramatizadas, com a participação de atores e figurantes. Essas cenas foram roteirizadas a partir das versões sobre o conflito encontradas em documentos, jornais e em cartas de religiosos.