Está circulando desde a semana passada uma informação que, caso venha a ser confirmada, poderá significar uma mudança profunda no mercado brasileiro de comunicação. De acordo com uma nota publicada pelo jornalista Cláudio Magnavitta, do jornal Correio da Manhã, o BTG Pactual, maior banco de investimentos da América Latina, do banqueiro André Esteves, estaria intermediando a compra do grupo Globo pela holding J&F , da família Batista. A notícia foi repercutida no mesmo dia pela colunista Hildegard Angel em suas redes sociais.
Caso avance, a operação envolverá cifras bilionárias. Oficialmente, a Globo, a J&F e o banco BTG negam a informação. No sábado, em comunicados curtos e diretos, todos desmentiram o envolvimento na transação.
A J&F é controladora do Frigorífico JBS — empresa de capital aberto com ações negociadas em bolsa. Para evitar sanções administrativas e, eventualmente, multas milionárias, um negócio desse porte precisa obedecer a alguns procedimentos padronizados antes de se tornar público.
Deve, inicialmente, ser comunicado com antecedência à Comissão de Valores Mobiliários e gerar uma informação de “Fato Relevante” ao mercado. Além disso, o fato de alguns negócios estarem ligados a concessões públicas exigiria uma aprovação prévia do governo federal antes da venda ser concluída.
Interesse antigo
Informações não oficiais, no entanto, dão como certo o interesse da J&F, que estaria disposta a pagar R$ 25 bilhões pela emissoras de TV, jornais, emissoras de rádio e plataformas de streaming do grupo Globo. A cifra não espanta e poderia até crescer em “alguns bilhões” caso o preço venha a ser um empecilho para a conclusão do negócio.
Líder mundial em produção de proteína animal, a J&S tem um faturamento anual superior a R$ 200 bilhões. Uma das razões pelas quais o martelo não teria sido batido, pelo menos por enquanto, seria o interesse da família Marinho, controladora da Globo , em manter sua autoridade sobre a área de jornalismo do grupo. Pelo menos até o desfecho das eleições de 2022.
O interesse da família Batista por uma posição que lhe garanta influência na mídia não é uma novidade. Em 2014, Joesley Batista , um dos donos do J&S , chegou a avançar nas negociações para a compra do jornal O Estado de S. Paulo e dos Diários Associados.
Na época ele fez, também, uma proposta formal para compra do SBT, do empresário Sílvio Santos. Nenhuma das tentativas foi adiante. A possível presença no negócio do BTG Pactual, de André Esteves, a princípio apenas como intermediário da transação, também reforça a possibilidade do negócio.
André Esteves, do BTG
Interesse especial
Ousado, impetuoso e sempre atento às chances de expansão de seus empreendimentos, Esteves tem interesse especial pela comunicação e pelo prestígio e poder de influência que, em sua visão, a mídia confere aos empresários do setor. Esse interesse teria aumentado depois de janeiro de 2015, quando o banqueiro foi preso, acusado de tentar obstruir a Operação Lava Jato.
Nenhuma das acusações contra ele se mostrou verdadeira e o caso, inclusive, chegou a ser mencionado pelo ministro Gilmar Mendes no plenário do STF como uma injustiça cometida contra Esteves e seus negócios.
Em março de 2019, livre de todas as acusações, Esteves adquiriu a revista Exame, título de economia e negócios da Editora Abril. O banco também financiou a compra da Veja e de outras revistas da Abril, que entrou em declínio depois da morte de seu presidente, Roberto Civita, pelo empresário Fábio Carvalho. No mercado, é voz corrente que Carvalho agiu em nome de Esteves — idealizador da operação.
Outro aspecto chama atenção nesse episódio. Habituado no passado a intermediar operações financeiras vultosas, o BTG Pactual sempre teve os olhos voltados para a área de mídia eletrônica.
No mês passado, a operadora Oi assinou com o banco de Esteves e com a Globonet um acordo que lhes assegura exclusividade na condução da venda de suas operações de fibra óptica, reunidas na empresa InfraCo . O valor mínimo do negócio seria de R$ 20 bilhões.
Caso se confirme, a compra da Globo pela J&S representaria o retorno triunfal do BTG Pactual ao mercado de fusões e aquisições, no qual ele foi especialmente ativo entre 2009 e 2017. Naquele período, a área estava sob responsabilidade do banqueiro Marco Gonçalves. Homem de confiança de Esteves, Marcão, como é conhecido, foi sócio do BTG Pactual depois de ter acumulado prestígio como “head” da área de Fusões e Aquisições do banco Crédit Suisse.
Considerado um dos maiores especialistas brasileiros em M&A (sigla em inglês para Fusões e Aquisições), foi ele quem assessorou a Oi e seus acionistas controladores nas grandes operações que realizaram no Brasil no período em que ele era o braço-direito de Esteves. Dono de uma personalidade polêmica, mas muito bem relacionado e bem sucedido em suas operações, foi ele quem negociou, por exemplo, a entrada da Portugal Telecom na Oi e, depois, a venda das operações da empresa em Portugal para a europeia Altice.
Depois de deixar o BTG no rastro de um episódio rumoroso, Marcão fundou a Riza, que atuava na área de fusões e aquisições. Em dezembro passado, a XP adquiriu a Riza e ele tornou-se o responsável pela área de M&A da empresa de investimentos.