LAVA JATO: Delegada da PF que levou reitor da UFSC a suicídio teria falsificado depoimento

Os procuradores contatam que, claramente, houve uma fraude

LAVA JATO: Delegada da PF que levou reitor da UFSC a suicídio teria falsificado depoimento

Foto: Divulgação

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A delegada Erika Merena, da Polícia Federal, responsável por uma operação na Universidade Federal de Santa Catarina, que culminou com o suicídio do reitor Luiz Carlos Cancellier, falsificou um depoimento de uma testemunha que sequer foi ouvida.
 
A revelação foi feita nesta segunda-feira pela jornalista Mônica Bergamo da Folha de São Paulo, e foi obtida através das conversas entre procuradores da Lava Jato que foram hackeados.
 
“Como expõe a Erika: ela entendeu que era pedido nosso e lavrou termo de depoimento como se tivesse ouvido o cara, com escrivão e tudo, quando não ouviu nada… DPFs [delegado da polícia federal] são facilmente expostos a problemas administrativos”, afirmou Deltan Dallagnol em uma conversa por mensagens com o procurador Orlando Martello Júnior.
 
A delegada transformou uma mera questão de problemas administrativos, de um convênio entre a Universidade federal de Santa Catarina (UFSC) com o MInistério da Educação, para organizar a mais infame operação de todo o período da Lava Jato: a invasão do campus da UFSC, prisão e humilhação dos professores, até levar o reitor ao suicidio, em 2 de outubro de 2017.
 
Para a operação, convocou mais de uma centena de policiais de todo o país, repetindo a encenação de seu colega Mauricio Moscardi Grillo, que convocou também mais de uma centena de policiais de todo o país para uma mera operação contra corrupção na vigilância animal.
 
Nos diálogos, os procuradores da Lava Jato revelam que Erika praticou uma falsificação. Pensando atender a pedidos dos procuradores, Erika criou um falso termo de depoimento, simulando ter ouvido a testemunha com escrivão e tudo, “quando não ouviu nada”. Os procuradores contatam que, claramente, houve uma fraude. Mas sua reação consiste em encontrar saídas para ocultar o crime cometido.
 
Caracterizam-se, aí, dois crimes. Um, das própria Erika, cometendo uma falsificação. Outro, dos procuradores procurando esconder o mal feito.
 
 
 
Reitor
 
Cancellier foi escolhido novo reitor da UFSC em 2015. A gestão começou em 2016, com duração até 2020. Cancellier era diretor do Centro de Ciências Jurídicas desde 2012. Tinha graduação, mestrado e doutorado em Direito, pela UFSC, além de especialização em gestão universitária e direito tributário.
 
Também foi membro do Conselho Editorial da EdUFSC de 2009 a 2013, chefiou o departamento de Direito da UFSC de 2009 a 2011 e presidiu a Fundação José Arthur Boiteux entre 2009 e 2010.
 
 
115 policiais mobilizados para prender o reitor
 
A prisão foi desnecessariamente espetaculosa. Segundo a própria PF, 115 policiais foram mobilizados para prender Cancellier e outros seis professores da UFSC. No dia da prisão, a PF manchetou, em seu site, em um erro cavalar, que a Ouvidos Moucos combatia “desvio de mais de R$ 80 milhões”.
 
Esse valor, como depois explicou a delegada Érika, sem mais aquela, era o total de repasses do Ministério da Educação para o programa de ensino a distância ao longo de dez anos, 2005 a 2015, quando Cancellier não era o reitor (só o foi a partir de maio de 2016).
 
 
No mesmo dia 14 de setembro, depois de depor na PF, o reitor, sem que até agora ninguém tenha explicado o motivo, foi levado, como se condenado, para a penitenciária de Florianópolis.
 
Teve os pés acorrentados, as mãos algemadas, foi submetido, nu, à revista íntima, vestiu o uniforme de presidiário e ficou em uma cela na ala de segurança máxima. Cardiopata, passou mal, e foi examinado e medicado por seu cardiologista.
 
Trinta horas depois, a pedido do advogado Hélio Rubens Brasil, uma juíza federal relaxou a prisão.
 
Sem provas PF encerra inquérito que levou Reitor Cancellier ao suicídio
 
À época da prisão, a delegada Erika afirmou que a Polícia Federal agia com responsabilidade e que não faria um pedido desses se não tivesse “convicção da sua necessidade”. A responsabilidade era tanta, que, mais tarde, a própria polícia desmentiu a informação que havia dado: não houve desvio de R$ 80 milhões. Este valor se referia ao total dos repasses entre 2008 e 2016 para o programa de ensino a distância, alvo da investigação. A PF, aliás, até hoje não foi capaz de informar qual é o valor total dos desvios. Mas já era tarde demais, o reitor já havia sido condenado no noticiário como chefe desse milionário esquema de corrupção. Seu irmão revelou que ele “tinha medo de sair à rua e alguém lhe dizer: ‘O senhor não é o reitor dos 80 milhões?’”
 
O relatório final da polícia afirma que Cancellier é chefe de uma organização criminosa pelo simples fato de ter nomeado alguns professores que praticavam uma “política de desvios e direcionamento nos pagamentos das bolsas” do programa de ensino a distância. Não há um documento, uma testemunha ou qualquer outro fato que incrimine o professor. Outras 23 pessoas da universidade foram indiciadas por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e peculato. Mas mesmo esses crimes não ficaram comprovados e estão sustentados apenas por indícios extremamente frágeis.
 
A quadrilha supostamente teria agido entre 2008 e 2017 –Cancellier só assumiu o cargo em 2016. Apesar de afirmar que a quadrilha só “se manteve em funcionamento naqueles moldes” graças à sustentação política do reitor, o relatório não explica quem comandou o suposto esquema durante os seus 8 anos iniciais. Os reitores anteriores nunca foram sequer investigados. Perceba como nada faz sentido.
 
Os indícios apurados pela investigação revelam algumas pequenas falcatruas isoladas dentro da universidade, e não um grande esquema de corrupção planejado por uma quadrilha chefiada pelo reitor. Professores da UFSC acreditam que os desvios não tenham passado de R$ 500 mil. A delegada montou um quebra-cabeça errado, baseado em suspeitas e convicções.
 
Após a morte de Cancellier, sua família denunciou no Ministério da Justiça os abusos e irregularidades cometidos pela operação, o que levou à instauração de uma sindicância contra a delegada Erika Marena. Ela foi inocentada pela corregedoria num processo bastante suspeito e transferida para Sergipe. Não ganhou nenhum gancho, nenhuma advertência, nada. A corporação entende que os métodos adotados pela delegada foram corretos.
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