Favela vizinha ao centro olímpico não recebeu investimentos
Foto: Divulgação
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Na realidade, mesmo com a proximidade, de cerca de 500 metros em linha reta, não há traços das Olimpíadas no "bairro de Deus". Não há uma indicação, nenhuma faixa e nenhum gadget ou aplicativo de buscas que informem sobre o evento no local.
No entanto, isso é o menor dos problemas, contou ao enviado especial da ANSA no Rio de Janeiro José Carlos de Paula, conhecido na comunidade como Zezé, um homem com o passado de goleiro do Fluminense e o presente de educador de uma ONG.
Trabalhando na Action Aid, organização internacional empenhada na luta de causas como pobreza e exclusão social, o morador da favela tenta tirar crianças da mira dos narcotraficantes que, nas mãos deles, poderiam ter uma expectativa de vida inferior a 25 anos.
"A coisa mais grave não é na falta do espírito olímpico por essas estradas miseráveis: é a total falta de retorno social e econômico de certos grandes eventos esportivos para a população pobre brasileira", disse Zezé mostrando a comunidade para a nossa equipe.
"Nenhum posto de trabalho foi aberto para os habitantes da favela, nenhuma infraestrutura, nenhum ingresso para as competições [nos foi dado] e nem mesmo um bilhete gratuito para as várias provas da cerimônia: ele foram todos aos ricos e aos políticos. Foi assim nos anos passados com os Jogos Panamericanos e com a Copa do Mundo", continuou o carioca.
O governo colocou policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), força de ordem criada em 2006, para "tomar conta" das favelas, procurando uma pacificação "temporária" entre as facções criminosas para que a real violência da Cidade de Deus, bem retratada no aclamado filme de mesmo nome, fique fora das manchetes internacionais durante os Jogos.
"[Essa é uma] operação que não age ao fundo na verdadeira questão: a de criar nas novas gerações uma consciência dos próprios direitos civis, incutir nelas valores que as levarão para longe de qualquer ilegalidade", afirmou o secretário-geral da Action Aid Itália, Marco De Ponte.
Para conseguir seu objetivo, em 15 anos a organização esteve presente na Cidade de Deus criando centros sociais e esportivos que influenciam cerca de 5 mil crianças e suas famílias.
"A [minha] maior satisfação foi Danielle, uma menina que não sorria e nem brincava com ninguém. Uma vez, ela devia ter entre 7 e 8 anos, eu a coloquei no gol em um campo de cimento. Ela se jogava no chão, não tinha medo. Depois eu a treinei e ela ficou boa tanto no futebol quanto no handebol. Ela escolheu o segundo esporte e acabou indo para a seleção", comentou o Zezé, que tem como seu maior sonho abrir uma escola para goleiros.
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As 65 mil pessoas da comunidade vivem em ruas e passagens estreitas e sujas, cujos limites são delimitados por uma estrada com um tráfego intenso que desanima qualquer um que pretende sair dessa região da cidade.
Em relação às crianças, elas abrem sorrisos enquanto fazem pipas de cores vibrantes e alegres para vender pelas ruas da capital carioca e parecem não ligar para as dificuldades que enfrentam.
É o exemplo de Cain, de sete anos, que, com ajuda de Zezé e de outras três agentes brasileiras da Action Aid, Julianne, Gabriela e Adeli, virou um guia-turístico e fez um tour meio improvisado entre casas simples, um mar de antenas parabólicas e um número surpreendente de gaiolas com passarinhos.
Zezé decidiu então acelerar a nossa visita. Só se teve tempo de registrar o pedido de Natália, pequena atleta de Tae Kwon Do que gostaria que o vencedor da medalha de ouro do esporte nas Olimpíadas visitasse a favela.
Durante a conversa também se pôde ver a frase "os humilhados serão exaltados" em um muro, que parece não coincidir com o lema dos Jogos.
* O resultado da enquete não tem caráter científico, é apenas uma pesquisa de opinião pública!