Governo teme que Cunha queime etapas e acelere impeachment

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Foto: Divulgação

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Recomendação do TCU para rejeitar contas de 2014 de Dilma daria justificativa

O governo imaginou que a reforma ministerial na qual fez mais concessões ao PMDB e trocou o núcleo de ministros do Palácio do Planalto traria um tempo de paz política. No entanto, isso não aconteceu.

Foram abertas muitas frentes de batalha, começando pela continuidade de dificuldades no Congresso. O governo tentou votar vetos presidenciais à chamada “pauta-bomba” e fracassou, na terça-feira, porque se organizou mal e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deu uma demonstração de força.

Cunha conseguiu desmanchar o maior bloco da Câmara, que tinha 149 deputados e era comandado pelo líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani. Foi uma forma de evidenciar que a aposta do governo em Picciani resultará em menos votos do que desejava.

Hoje, quarta-feira, haverá nova tentativa de votar os vetos. Se houver outro fracasso, será um desastre ainda maior do que o de ontem. O governo tem a obrigação de vencer hoje, sob pena de deixar claro que fez uma reforma ministerial que não surtiu efeito positivo.

Outra preocupação importante do governo são duas frentes de batalhas que misturam política e Justiça. O Palácio do Planalto recorreu ao Supremo Tribunal Federal para tentar adiar o julgamento das contas de 2014 previsto para acontecer hoje no Tribunal de Contas da União.

O governo atira no ministro Augusto Nardes, que responde a suspeita de corrupção de lobby e fraude fiscal junto ao Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais). Nardes é o relator da esperada recomendação do TCU (Tribunal de Contas da União) ao Congresso para rejeição das contas do ano passado do governo Dilma.

O governo teme que essa recomendação do TCU leve Eduardo Cunha, que até hoje disse não ver motivo para abrir processo de impeachment, a mudar de opinião. Há em Brasília um acordo de bastidor entre Cunha e o PSDB, segundo o qual o presidente da Câmara rejeitaria os pedidos de impeachment, mas um deputado tucano apresentaria um recurso para que o plenário reconsiderasse a decisão.

No governo, há quem tema que Cunha, acuado por revelações de contas na Suíça, queime etapas. Isso ajuda a explicar a judicialização do julgamento do TCU sobre as pedaladas fiscais e a torcida do Palácio do Planalto para que a crise de Eduardo Cunha se agrave.

Outra má notícia para o governo surgiu na terça: o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) abriu uma ação pedida pelo PSDB para cassar os mandatos da presidente Dilma Rousseff e do vice-presidente Michel Temer. Há um longo caminho a percorrer, mas é um fato negativo, que só aumenta o desgaste do governo.

A única boa notícia para o Palácio do Planalto nesta semana veio do ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa, que criticou a proteção política que o PSDB dá a Eduardo Cunha. Numa rede social, Barbosa disse que os tucanos não poderiam ser levados a sério em sua pregação ética ao defender Cunha e ao lutar para reinstaurar o financiamento empresarial de campanhas políticas.

O PSDB sentiu o golpe e mudou um pouco o discurso em relação a Cunha. Agora, o PSDB diz que, se vierem a público mais provas de contas na Suíça, o partido recomendaria a renúncia em relação à presidência da Câmara.

Em resumo, a classe política continua a apostar numa escalada da guerra sobre impeachment enquanto a economia do país vai piorando, como mostraram novas previsões pessimistas do Fundo Monetário Internacional sobre o Brasil. É necessário maior responsabilidade e equilíbrio de todos os políticos, tanto do governo quanto da oposição.

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