Após servidores estaduais do Paraná tentarem romper o cerco da Polícia Militar na Assembleia Legislativa e a corporação reagir com bombas de gás e balas de borracha, manifestantes e PMs entraram em confronto na tarde desta quarta-feira (29) em frente à Casa. O local virou uma praça de guerra onde ao menos 170 pessoas se feriram.
Os protestos ocorreram no Legislativo porque os deputados votaram, a portas fechadas, o projeto do governo Beto Richa (PSDB) que modifica a previdência dos funcionários públicos estaduais. De acordo com o sindicato servidores, foram à manifestação 15 mil pessoas –a PM não fez estimativa.
Apesar da confusão e dos protestos, o projeto da administração tucano acabou sendo aprovado pela Assembleia, onde Richa tem maioria. A proposta reduz a contribuição do governo –em crise financeira desde o ano passado– sobre as pensões pagas pelo Estado no PR. Os manifestantes reclamam que perderam benefícios.
Desde o início desta semana, a Assembleia foi cercada por PMs a pedido do governador tucano, que se baseou numa ordem judicial para fazer a votação sem a presença de manifestantes.
A polícia jogou também jatos de água contra os ativistas. Já os manifestantes atiraram pedaços de pau e pedras. Parte deles são professores, que entraram em greve na última segunda (27) contra o projeto.
O prédio da prefeitura, que fica em frente à Assembleia, foi transformada em uma espécie de enfermaria para agilizar o atendimento dos feridos.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, 20 dos feridos são policiais. A polícia prendeu seis pessoas –entre eles, há professores e black-blocks, segundo a pasta.
O confronto durou pelo menos duas horas. Após o ataque da PM, os manifestantes –entre eles também alunos da rede pública–, recuaram, mas continuaram ocupando as ruas ao redor do Legislativo.
'REFÚGIO'
Dos 170 feridos, 35 foram socorridos por ambulâncias do Samu e por guardas civis municipais. Eles foram levados para hospitais e para a UPA matriz. Havia também entre eles pessoas que passaram mal com o gás usado pela PM.
Segundo a assessoria da prefeitura, diante do tumulto, as pessoas se refugiaram na prefeitura. O saguão principal ficou lotado de pessoas ensanguentadas, ainda sob efeito de crise nervosa ou que tiveram algum tipo de ferimento.
Funcionários tentaram acalmar manifestantes, distribuindo água.
Enquanto isso, a sessão foi realizada na Assembleia. Foi interrompida por cerca de dez minutos, já que o gás chegou a atingir o plenário da Casa, mas foi retomada, mesmo com o barulho de bombas e gritos do lado de fora.
Também houve confronto nesta terça-feira (28), quando um caminhão de som tentou se aproximar do Legislativo. Na ocasião, a PM reagiu com bombas de gás e spray de pimenta.
A expectativa dos servidores era evitar a aprovação da proposta de Richa.
Com medo de que o prédio do Legislativo fosse invadido, a exemplo do que ocorreu em fevereiro, a gestão Richa montou uma operação de guerra ao redor da Assembleia Legislativa do Paraná para garantir a votação.
Diante da fumaça, foram suspensas as aulas na CMEI Centro Cívico, uma creche infantil para filhos de funcionários, que também fica perto da Assembleia.
Os pais foram convocados a buscar às pressas as crianças. Assustadas, algumas passaram mal e começaram a tossir diante do desconforto com o gás.
SEGURANÇA
Quase 2.000 policiais, segundo apurou a Folha, participaram da operação. Ônibus do batalhão de choque, caminhões dos Bombeiros e até a cavalaria foram convocados para fazer a segurança do prédio.
Do lado de fora, manifestantes carregaram cartazes e gritaram "retira, retira" e "eu estou na luta".
Todas as entradas do Legislativo ficaram cercadas. Os manifestantes foram concentrados em apenas um dos lados do prédio. Entre eles e a entrada da Assembleia, há cerca de 30 metros e duas fileiras de grades.
No início da tarde, comandantes davam ordens à seus batalhões. Em caso de invasão do perímetro, homens da Rotam e do Bope agirão para dispersar os manifestantes, com escudos, bombas de gás e spray de pimenta.
"É tipo aquele filme 300", explicou um policial, em referência ao filme em que 300 soldados de Esparta enfrentam um exército persa com milhares de integrantes.
O batalhão de choque teve dezenas de homens dentro do prédio, preparados para o avanço do grupo, com balas de borracha e escudos.
"Se precisar usar a tonfa [cassetete], é por baixo! Nada de sair girando por cima", orientou um dos comandantes à tropa de policiais.
PREVIDÊNCIA
O projeto que pretende alterar a previdência estadual alivia, nas contas dos tucanos, o caixa do governo em R$ 1,7 bilhão ao ano.
Em protesto, professores e outras categorias, como agentes penitenciários e servidores da saúde, entraram em greve e têm organizado manifestações em frente à Assembleia desde segunda (27).
A direção da Casa conseguiu uma ordem judicial que proíbe a invasão do plenário, como já ocorreu em fevereiro. A PM diz que está agindo para cumprir a decisão.