*O Rondoniaovivo.com, publica com exclusividade a versão da Jocum "Jovens com uma missão", que é uma Missão internacional e interdenominacional de caráter filantrópico, empenhada na mobilização de jovens de todas as nações para a obra missionária.
*A Jocum foi fundada em 1960, por Loren Cunningham e seu lema é "Ide por todo mundo e pregai o evangelho a toda criatura" (Marcos 16:15)
* No Brasil,a Jocum iniciou as atividades em 1975 através do casal Jim e Pamela Stier, em Contagem-MG. Hoje existem Centros de Treinamento Missionário espalhados em todas as regiões do Brasil.
*Jovens Com Uma Missão reúne pessoas diferentes para trabalhar nas mais diferentes atividades evangelísticas. Entre seus missionários podem ser encontrados, jovens, famílias, aposentados, universitários recém-formados e pós-graduados, pessoas vindas de mais de 100 países e denominações evangélicas diferentes, novos crentes, pastores e líderes de igrejas com muitos anos de experiência.
*Reinaldo Cazão Ribeiro, diretor de JOCUM de Porto Velho, contesta à mudança de tema da reportagem inicial do programa Fantástico, que de uma semana para outra, mudou o direcionamento da matéria, passando da pauta de defesa dos direitos humanos das famílias indígenas para um denuncismo religioso preconceituoso.
*A seguir as explicações de Reinaldo Ribeiro:
*O rumo que a reportagem do Fantástico no domingo dia 25 de Setembro deu para a investigação sobre o caso das meninas indígenas nos chocou e surpreendeu a todos, missionários, a comunidade evangélica brasileira e a comunidade indígena.
*O trabalho investigativo e honesto iniciado no domingo anterior, desaguou no desatino que foi ao ar dia 25. Gostaria de manifestar aqui o meu protesto em relação à mudança de tema da reportagem, de defesa dos direitos humanos das famílias indígenas para um denuncismo religioso preconceituoso.
*Quanto ao nosso trabalho com os Suruwahá, quero dizer que:
*- As bebês indígenas foram retiradas sim com autorização por escrito da FUNAI e da Funasa. Depois de sofrer pressão da parte de alguns antropólogos eles mudaram de idéia. *Não fora pela pressão sofrida o caso seria tratado como tantos outros, um caso necessário de atendimento a crianças que precisavam.
*- Ainda que a autorização não houvesse sido emitida, os pais da bebê estão conosco. Para qualquer outro brasileiro, o consentimento deles seria o suficiente para que operação fosse feita. Eles são adultos e plenamente conscientes da necessidade de sua filha. A alternativa ao tratamento é o infanticídio. Desde as primeiros horas do nascimento da bebê eles decidiram que não seguiriam este caminho mas que procurariam nossa ajuda para salvar a criança. Nós cremos que eles tem direito a salvá-la. A constituição brasileira lhes garante este direito. A Declaração Universal dos Direitos Humanos também. No entanto, algumas idéias antropológicas falaciosas professadas no Brasil lhes negam este direito, por serem índios. Por esta razão cremos que esta luta não se limita aos interesses da JOCUM, nem apenas à situação atual das bebês. A maneira sub-humana com que os índios são tratados e vistos tem que mudar...
*- O trabalho da JOCUM com esta tribo tem 21 anos de idade. Não somos aproveitadores chegados ontem na aldeia para "barganhar" com a saúde. Temos documentação e depoimentos que provam que se não fosse a presença da JOCUM nesta área os índios já teriam sucumbido. Neste 21 anos não houve outra intervenção além de nossa amizade com eles e das consequências práticas desta amizade.
*- Em cada entrada em área os indigenistas da JOCUM respeitam uma quarentena na ida e na reentrada de indígenas para evitar a transmissão de vírus externos. A mesma prática não é observada por outros agentes e em várias ocasiões tivemos que lutar contra epidemias de gripe introduzidas na tribo por agentes de saúde que entram e saem da tribo de helicóptero, como foi o caso da reportagem da rede Globo que entrou na aldeia com a autorização da Funasa em maio deste ano.
*- Em nosso trabalho, a cultura material, e estrutura sócio-econômica foi sempre respeitada, ao ponto de nós quando na aldeia, andarmos nus, ou melhor usarmos a indumentária indígena. Diferentemente do que acontece com contatos feitos pela FUNAI, nenhum hábito de comida, ou necessidade externa foi introduzida. Compare o grau de aculturação dos Suruwahá (chegamos lá em 1984- os contatos iniciais foram feitos em 1980 pelo Padre Gunter Kroemer do Conselho Indigenista Missionário, CIMI) com o dos Uurueu-wau-wau em Rondônia, contactados em 1983. Os urueu são doentes, dependentes da sociedade envolvente para se alimentar, e se vestir, em suma tem o espírito e a coragem quebrada, e estão caminhando para perder a língua. Os suruwahá são totalmente autônomos a não ser pela questão da saúde, e já viviam um quadro crítico nesta área na época do contato. Não precisam de nós nem da Funai para nada, e tem coragem de lutar por si. Neste episódio os grandes heróis são os jovens Xagani e Naru, enfrentando de peito aberto o mundo enorme e desconhecido, chefes brancos que eles não entendem, procedimentos burocráticos absurdos que eles não entendem, para salvar a vida das duas crianças.
*- Ao contrário de alguns antropólogos e burocratas, entendemos as cultura humanas como sendo dinâmicas sempre em constante mudança. O mesmo ocorre com a cultura indígena. Tribos como os Suruwahá nunca estiveram isoladas em sua história. Seu contato com o ferro (machados e facões) é muito anterior à década de oitenta. Em várias ocasiões houveram confrontos bélicos entre Suruwahá e outras tribos da região, seringueiros, sorveiros e madeireiros que durante muitas décadas povoaram os rios por onde andam os índios. Hoje a ausência de intercâmbio com outros povos está levando o povo Suruwahá a uma endogamia genética que está produzindo cada vez mais crianças deficientes.
*- A identidade cultural de um povo não está centralizada apenas em suas crenças religiosas mas em todo um conjunto de relações dinâmicas entre os vários elementos da cultura. Não trabalhamos de maneira nenhuma de forma proselitista, discriminatória ou ocidentalizante ao compartilharmos nossa fé.
*- Nossos missionários tem qualificação acadêmica para fazer o que fazem. Márcia e Edson Suzuki tem mestrado em etno-linguísitca (UNIR e UNICAMP respectivamente) conhecimento antropológico e respaldo documental para tudo o que fazem. Marcia já publicou trabalhos linguisticos sobre o Suruwahá. A primeira análise e classificação da língua foi feita em 1984, quando da entrada de nossa primeira equipe na área. Os índios até então eram chamados de Sem nome, ou Cochodo-asenses em referência ao riacho onde viviam. Estes antropólogos entrevistados pela Globo com especialistas na cultura não falam nem a língua! Um dos "especialistas" domingo esteve por 4 meses na aldeia somente. Num povo monolíngue isto não é tempo suficiente para se conhecer nem os termos básicos de tratamento entre as pessoas, substantivos, e gramática simples, quanto mais para se escrever um tratado cultural à respeito da vida e como visão do povo.
*- O fato é que ainda até este dia a menina ainda não foi operada. Para ela continua sendo uma luta contra o tempo.
*Reinaldo Cazão Ribeiro
*Diretor de JOCUM -Porto Velho
*Saiba mais
* Leia a seguir as duas matérias do Programa Fantástico
*O drama de duas indiazinhas Zuruahã
*Nossos repórteres acompanham a aventura de duas índias recém-nascidas que foram abandonadas para morrer no meio da floresta. As duas bebês índias foram levadas da Amazônia para São Paulo por um grupo de missionários.
*Nossos repórteres acompanham a aventura de duas índias recém-nascidas que foram abandonadas para morrer no meio da floresta. As duas bebês índias foram levadas da Amazônia para São Paulo por um grupo de missionários. Se ficassem na mata, os bebês teriam outro destino: a cultura da tribo determina que elas deveriam morrer porque nasceram doentes. Agora, para receber tratamento médico, elas precisam vencer uma nova batalha - contra a burocracia.
*Sumawani tem apenas seis meses. Quase nada diante de uma vida inteira. Mas, no caso dela, ter chegado até aqui pode ser considerado um milagre.
*A indiazinha é uma Zuruahã - tribo do Amazonas que vive praticamente isolada. Nasceu hermafrodita: o órgão genital dela tem características dos dois sexos. Os índios não aceitam quem nasce com deficiência física. Para eles, são crianças incapazes de sobreviver na floresta.
*Na hora que nasceu e ela a pegou, ela viu que era diferente. E viu que teria que matar, traduz Márcia Suzuki, missionária da Jocum.
*Em casos como o de Sumawani, não costuma haver perdão. Os índios cometem o infanticídio: matam os bebês recém-nascidos. A mãe, Kusiama, não fugiu à regra. A avó foi quem mudou de idéia e recolheu a criança.
*Aí foi a vez de o pai tentar matar a menina.
*Eu mesmo peguei a criança e falei que ia matar. Mas as pessoas da aldeia pediram para que eu a levasse aos médicos do branco, que eles talvez pudessem resolver o problema, revela Naru, pai de Sumawani.
*A situação da pequena Iganani, de um ano e meio, é mais dramática. Ela nasceu com paralisia cerebral e não move as pernas. Precisa de tratamento diário para conseguir algum progresso.
*A mãe, Muwaji, abandonou a filha, e também neste caso, foi a avó quem salvou a menina. Então, o instinto materno falou mais alto: Muwaji mudou de idéia.
*Se eu levá-la para a casa dos Zuruahã e ela não andar, vou ter que dar veneno pra ela. O meu coração não está nem pensando em voltar para os Zuruahã por causa da minha filha. Eu ficaria muito tempo com os brancos para ela melhorar, lembra a mãe de Iganani.
*As duas famílias pediram ajuda a um grupo de missionários evangélicos que freqüenta a aldeia. Oito índios foram levados para um sítio perto de São Paulo, onde já estão há dois meses.
*Os exames de sangue do bebê hermafrodita comprovaram que é uma menina. O Hospital das Clínicas de São Paulo se dispôs a fazer de graça uma cirurgia de correção.
*?Se adequadamente indicar a cirurgia, no momento oportuno, tratada e tomando remédio, será uma mulher perfeita. Deverá tomar remédio a vida inteira e está permanência é que é uma situação muito delicada, principalmente em se tratando de indígena, que deve voltar a sua comunidade, no meio do Amazonas?, explica o doutor Zan Mustacchi, pediatra e geneticista.
*Mas uma denúncia no Ministério Público está impedindo a cirurgia. Missionários católicos, questionaram a retirada dos índios da aldeia, porque agora estariam expostos a doenças e ao choque cultural de uma cidade grande como São Paulo.
*Com isso, a Funai (Fundação Nacional do Índio) e a Funasa (Fundação Nacional de Saúde) ainda não liberaram os documentos necessários para que o hospital possa operar a bebê índia.
*?A Funasa é que cuida da saúde. Ela deveria estar acompanhando estes casos e se tivesse achado que merecia um transporte de fora da área para um hospital, ela mesmo é que deveria ter feito isso?, observa o presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes.
*?Se tem um problema da cirurgia que tem de ser feita, gastos de manutenção dos índios durante esse período, a Funasa se compromete a bancar tudo isso, mas sob a orientação, nesse caso, da Funai?, comenta o presidente da Funasa, Paulo Lustosa.
*?Há uma falha da Funai de ver pessoas saindo sem ter conhecimento. Uma falha, enfim, do estado brasileiro, Funai e Funasa juntos, nós assumimos isso?, diz Mércio.
*?Acima de pensar em mudança cultural, acho que é mais importante a vida dessa criança, mesmo que a vinda para São Paulo possa acarretar alguma mudança cultural para eles?, opina o missionário Edson Suzuki.
*?Por todo esse conjunto de ações que essa missão fez, nós vamos exigir a retirada dela, nós vamos pedir à Funasa que encaminhe a médicos para avaliar a saúde desses índios?, adianta Mércio.
*Sumawani driblou o destino de morte, no momento em que os pais desistiram de matá-la. Venceu, sem saber, uma grande batalha - talvez a mais difícil. Mas o bebê ainda não tem garantia de vida na aldeia. Sem a operação, desta vez, Sumawani poderá não escapar do sacrifício.
*Se o médico não operar, eu vou ter que dar veneno para ela, ela vai morrer. Eu também acabaria tomando veneno, eu ia me matar. Não temos medo de se matar, declara Naru, pai de Sumawani.
*O que o Ministério Público federal gostaria de acrescentar é que não veio para São Paulo, de forma alguma para proibir a cirurgia dessa criança no âmbito do Hospital das Clínicas, diz o procurador da República no Amazonas, André Lasmar.
*Mas o Ministério Público só vai decidir o destino das duas indiazinhas depois que ouvir a opinião de uma equipe de especialistas que acaba de ser formada para estudar o caso.
*Se o médico não operar, meu coração é tristeza. Se o médico operar, meu coração é sorriso, diz Naru.
*A tribo Zuruahã vive há cem anos perto do Rio Purus, na Amazônia. São pouco mais de 130 índios e estão numa reserva pouco maior do que a região metropolitana de São Paulo.
*Zuruahã era o nome de um índio que vagava sozinho nesta região e era conhecido dos brancos. Até o primeiro contato, há 20 anos, a tribo não tinha nome. Quando a equipe de antropólogos perguntou que tribo era aquela, um dos índios respondeu, "Zuruahã" em homenagem àquele índio solitário.
*Os Zuruahã cultuam a natureza. Para eles, tudo tem espírito, a essência de vida; desde uma pequena pedra, até as árvores frutíferas. Só o pajé consegue ver esses espíritos.
*Esta tribo é remanescente de um massacre promovido por seringueiros no início do século passado. Os guerreiros e os chefes espirituais morreram.
* Confira a reportagem que gerou a polêmica
*O destino das indiazinhas
*Você viu, no Fantástico, a história de duas indiazinhas: Sumawani e Iganani. Elas foram retiradas da tribo dos zuruahã, na Amazônia, por uma missão evangélica, para tratamento médico em São Paulo. O que aconteceu com elas?
*Sumawani e Iganani estão bem. Sumawani, de seis meses, tem pseudo-hermafroditismo: seu órgão genital tem características dos dois sexos. Esta semana, um diretor da Funasa, a Fundação Nacional de Saúde, levou a São Paulo a documentação necessária para que Sumawani seja operada no Hospital das Clínicas, e a operação deve ocorrer nas próximas semanas.
*Iganani, um ano e meio, nasceu com paralisia cerebral e não move as pernas. A Funasa informou que a menina está fazendo fisioterapia e os médicos avaliam que ela pode vir a andar.
*De imediato, a Funai não vai tirar as crianças das mãos dos missionários evangélicos, porque isso poderia prejudicar as indiazinhas, mas em nota enviada ao Fantástico afirma: a intervenção dos evangélicos do Grupo Jocum, Jovens com uma missão, viola a constituição e o estatuto do índio.
*Ao todo, o grupo evangélico levou a São Paulo oito índios zuruahã, inclusive um grande caçador e isso, segundo os especialistas, pode ter conseqüências desastrosas para a sobrevivência da tribo.
*Para você entender o problema: os suruahã são índios totalmente isolados e tutelados pela lei brasileira; só a Funai pode ter acesso à aldeia, que fica na região do Médio Purus, Amazonas. São cerca de 140 indivíduos e entre eles é grande o número de suicídios, a chamada morte ritual: o índio se envenena para chegar à mítica "terra ideal". Também as crianças que nascem com alguma deficiência física são abandonadas para morrer, porque os índios julgam que elas não têm condições de sobreviver na selva.
*A política de estado brasileira é preservar o isolamento para evitar danos ao equilíbrio cultural da etnia, especialmente num povo tão fragilizado pelo alto número de suicídios. Mas as deficiências do estado favorecem a ação dos missionários religiosos, como explica o antropólogo, João Dal Poz, da Universidade Federal do Mato Grosso, que viveu por quatro meses na aldeia.
*Como a Funai, que seria a responsável pela assistência aos índios, e a Funasa, que é a responsável pela saúde dos índios, não dão a atenção necessária, devido à distância, aos recursos parcos, a missão se aproveita e eles ficam barganhando, fazendo da atenção à saúde uma moeda de troca para a conversão dos índios, conta Dal Poz.
*Uma frase escrita no site da Jocum por uma das missionárias que levaram os índios zuruahã a São Paulo, Márcia Susuki, comprova a motivação de catequizar:
*"Nossos olhos foram abertos para entender a maneira maravilhosa como Deus preparou esse povo para receber o amor de Jesus"
*Mas, quando entrevistada pelos repórteres do Fantástico, a missionária evita falar sobre religião.
*"Nós acreditamos que.... tira aí, por favor. Não queremos entrar... na realidade nossa motivação é religiosa, diz Márcia.
*Leia o que disse, num congresso missionário, a presidente do grupo "Jocum", Bráulia Ribeiro, sobre o contato com os zuruahã:
*Era uma tribo intacta. Eu falei: essa tribo é um tesouro, a gente tem que chegar lá antes que os exploradores, antes que os emissários do diabo cheguem para destruir, disse Bráulia.
*Os missionários dizem que receberam documentos da Funasa e da Funai que os autorizavam a sair da aldeia com os índios. Em nota ao Fantástico, a Funasa afirma que, se isso for comprovado, vai punir os responsáveis.
*A Funai alega que o chefe do núcleo de apoio de Lábrea, que assinou a permissão para que os índios saíssem, "não tem prerrogativa para autorizar o transporte de índios para tratamento de saúde". E mais: "qualquer documento que venha a ser apresentado pelos missionários não invalida o mérito das denúncias contra a Jocum.
*O procurador da República no Amazonas, André Lasmar, disse que desde 2000 vem investigando a ação dos missionários e que, em 2003, o Ministério Público Federal recomendou à Funai a retirada imediata dos integrantes da Jocum das terras dos zuruahã, mas que a recomendação não foi cumprida.
*Agora, a Funai anuncia que vai expulsar os missionários e, junto com a Funasa, vai enviar à aldeia um grupo de indigenistas, antropólogos e médicos. E ainda:
*Vamos pedir, por portaria, que todas as missões religiosas venham à Funai e se recadastrem, apresentem seus programas de trabalho, para que a gente possa ter clareza sobre esse trabalho, prometeu o presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes.
*Cabe à nossa sociedade respeitar essa diversidade cultural e religiosa e não impor uma outra religião a qualquer preço, acredita o antropólogo Dal Poz.