Momento Lítero Cultural - Por Selmo Vasconcellos

Momento Lítero Cultural - Por Selmo Vasconcellos

Foto: Divulgação

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LEANDRO  CAMARGO  DE  OLIVEIRA (LÊ PINGO) – Itapetininga, SP – ENTREVISTA HISTÓRICA, realizada em 2019.

 

 

Artista Plástico, Poeta e Contista

Leandro, Lê ou Pingo, como é conhecido, poderia ser mais um a ter se isolado, sem perspectiva na vida, depois de um acidente de moto que o imobilizou. No entanto, superou os traumas, as transformações com o apoio dos pais, avó, irmã, descobrindo o seu talento e externando através da arte de pintar e escrever. Assim, renasceu como pintor, escritor e poeta. Paulistano de Itapetininga, o artista segurando com a boca o pincel, pinta belas telas, escreve com muito romantismo, além de narrar sua história de superação de vida no site virtual.

 

 

 

BIOGRAFIA

Meu nome: Leandro Camargo de Oliveira ( Lê Pingo ), sou de Itapetininga-SP, nasci em 25 de maio de 1980. Tive uma infância maravilhosa, nunca fui de ficar quieto, somos dois irmãos, um casal. Como sou o mais novo, sempre aprontava muito com minha irmã Danusa. Adorava quando chovia para sair correndo pelas ruas de terra, tomar banho de lama, quando voltava era 'Leandro Barrento' e como não poderia deixar de ser, era só bronca da minha mãe, mas que de nada adiantavam, pois na próxima chuva tudo se repetia... Talvez tenha vivido uma das últimas épocas em que a infância era cheia de brincadeiras: gostava de jogar peão, de empinar pipas, brincar de bucá (brincadeira que consistia em ter vários buracos, um atrás do outro, e aquele que jogasse a bola feita de meias e caísse no buraco, a pessoa que fosse a dona daquele buraco tinha que pegar a bola de meias e tentar acertar (queimar) alguém, assim a pessoa que fosse queimada saia da brincadeira), de polícia e ladrão entre outras. As crianças de hoje nem imaginam o que sejam essas brincadeiras e este tempo saudoso, onde todos podiam ficar na rua até tarde com as casas abertas sem medo de nada. Assim que comecei a ir à escola cursar o 'prézinho', conhecido como pré-primário, aos seis anos de idade, descobri um mundo novo, cheio de letras e cores novas, quantas descobertas. Tive a sorte de ter tido professoras maravilhosas e de estar em uma época em que o respeito era fundamental, tão diferente de hoje onde os alunos podem tudo, fazem o que querem, falam e insultam sem ter um castigo. Sofri um acidente de trânsito em 06 de fevereiro de 2000, estava de moto e um carro entrou na contra mão e me acertou, quebrei o pescoço e tive uma lesão na medula completa, onde fiquei tetraplégico. A pintura começou em minha vida depois de ter procurado alguns prof. de pintura e quando sabiam que eu era tetraplégico davam uma desculpa para não darem aula. Tomei isso como incentivo e comecei a pintar em guardanapos, em segui passei para tela. Em fevereiro de 2014, comecei a pintar com a boca afim de conseguir realizar um sonho e entrar na APB (Assoc de Pintores Boca e Pés). Depois de algumas telas pintadas entrei em contato com a Luciana da APBP, e a mesma marcou um dia e veio em minha casa onde viu meus trabalhos, e com todos documentos e algumas telas, enviou para sede da APBP na Su seis meses depois recebi uma carta dizendo que tinha sido aceito na Associação, desde então pinto todos os dias afim de melhorar e um dia pintar como sonho. Gostaria de deixar meus agradecimentos a minha Família e as todas as pessoas que me ajudaram e incentivaram a pintar, meu muito obrigado! Em especial a minha mãe Neusa e pai Jonas, sem eles eu não seria nada, AMO VOCÊS! Nunca desistam da vida, ela pode sempre nos surpreender.

 

 

 

 

ENTREVISTA

 

SELMO VASCONCELLOS - Quais as suas outras atividades, além de artista plástico? LEANDRO CAMARGO DE OLIVEIRA – Gosto de escrever versos, poemas, apesar de não ser um poeta, escrevi um livro sobre o meu acidente, tenho alguns contos escritos, gosto de fazer exercícios, inventar aparelhos adaptados, conversar na internet, e faço parte a 4 anos da APBP ( Associação de Pintores com a Boca e os Pés).

 

SELMO VASCONCELLOS - Como surgiu seu interesse pela pintura?

LEANDRO CAMARGO DE OLIVEIRA - No começo de 2006, uma amiga de trabalho da irmã chegou até ela e perguntou o que eu fazia para ocupar minha cabeça e distrair para passar o tempo, e ela respondeu: - Meu irmão não faz nada além dos exercícios de fisioterapia, conversar e ficar na internet. Logo amiga disse à minha irmã: - Danusa, porque teu irmão não tenta fazer aulas de pintura? É uma boa terapia, tanto para cabeça, como para o corpo. Pergunte ao seu irmão se tem vontade de aprender pintura, e se ele quiser, vejo com alguns professores se podem ensiná-lo. Quando minha irmã chegou e falou da ideia, falei que iria pensar sobre essa proposta. Mas depois de dois dias concordei, e disse que iria tentar. Sabendo que topei, a amiga da minha irmã se prontificou em conversar com alguns professores de pintura aonde teve uma surpresa. Por eu ser tetraplégico alegaram que não teriam paciência para ensinar, ou que eu poderia ser revoltado ou desanimado, ou seja, julgaram antes mesmo de conhecer ou tentar. Mal sabiam essas pessoas que estavam dando uma injeção de incentivo e desafio ao mesmo tempo. Minha família, como sempre incentivou, e no começo tive ajuda de primos, primas, e depois tive ajuda de vários prof. de pintura Antonio Mauricio Bonati, Bia-moreira, Maneco Araujo, Rico Ribeiro, Eianni Nanni. Em fevereiro de 2014, chamei meu pai e já decidido a tentar começar a pintar com a boca, pedi a ele para cortar umas madeiras e dali nasceu o primeiro cavalete para por sobre a mesa e assim poder pintar. Pintei cerca de 10 telas com a boca, e em maio de 2015 entrei em contato com a Luciana Muniz que faz parte da APBP de São Paulo, onde prontamente respondeu e marcou um dia para vir em minha casa explicar como funcionava a Associação. Chegado o tão esperado dia a ansiedade já era grande, Quando vejo o carro parar em frente a minha casa, senti um frio na barriga. Assim que entraram vieram até onde eu estava se apresentaram e foram logo explicando tudo sobre a Associação, e ao terminar pediram para fazer uma demonstração pintando, tiraram algumas fotos para enviar juntamente com os meus dados, documentos e seis telas que escolheram entre as telas que já tinha pintado com a Boca para a sede da APBP que fica na Suíça, e lá iriam analisar tudo e decidirem se poderia ou não fazer parte da Associação, mas a resposta poderia demorar de seis meses a um ano. Desde o dia que nasceu a possibilidade de conseguir entrar na APBP, a ansiedade só aumentava e a dúvida se seria ou não aceito era grande. Dezembro, final de 2015, o natal se aproximava e a esperança de receber ligação da APBP diminuía, quando em uma manhã o telefone toca e minha mãe atende e escuto: - Serio! Conseguiu, não acredito, nossa até me arrepie agora, vou falar para ele e com certeza ficará muito feliz. Assim que desligou o telefone correu até meu quarto e disse: - Leandro, sabe quem era no telefone? Era da APBP para falar que você foi aceito e que em breve chegaria uma carta explicando tudo que precisará fazer e junto um contrato para assinar. Confesso que fiquei sem reação foi uma mistura de realização pessoal e felicidade, agradecendo sempre a Deus pela nova oportunidade. Logo chegou a carta com o contrato explicando tudo, preenchi e assinei, enviei de volta para sede na Suíça. E em março de 2016, tornei-me oficialmente mais um pintor da APBP juntamente com muitos outros grandes pintores de boca e pés, que moram no Brasil e em muitos outros países pelo o mundo. Agora é pintar, pintar e pintar para estar sempre evoluindo, agradeço a APBP pela oportunidade.

 

SELMO VASCONCELLOS - Quantas e quais exposições já participou? 

LEANDRO CAMARGO DE OLIVEIRA – Participei de duas exposições no centro cultural na cidade onde moro, e no shopping da cidade.

 

SELMO VASCONCELLOS - Quais dificuldades contornou para recomeçar? LEANDRO CAMARGO DE OLIVEIRA – Acordar sem sentir, mexer nada, nem a cabeça é muito louco, mas assim que sai do hospital de São Paulo, também decide deixar a vida que levava, e tentar recomeçar e me adaptar com o fato que tinha ficado tetraplégico. No começo foi muito difícil, mas quando fiquei internado na AACD em 2002 por três meses foi divisor de aguas na minha vida, apreendi muitas coisas, e o principal que não era único tetraplégico, e existia pessoas piores e estavam lutando vivendo. E desde então todo dia durmo na certeza que amanhã sera melhor que hoje, E agradeço a Deus por ter me dado uma segunda chance, muitos não tiveram.

 

SELMO VASCONCELLOS - Ao longo do tempo, você se superou, conte-nos sobre esse processo de determinação. 

LEANDRO CAMARGO DE OLIVEIRA – Complicado essa palavra superação, exemplo, costumo dizer que decide viver, e mudaram só os tipos de problemas, aumentaram limitações claro, mas em contra partida deixei de ter rotina de uma pessoas que se dizem “ normais “, penso que estar vivo é um milagre e superação todo dia, independente se é deficiente ou não.

 

SELMO VASCONCELLOS - As pessoas acreditavam no seu potencial?

LEANDRO CAMARGO DE OLIVEIRA – Não, pelo contrario, quando sabem que sou tetraplégico, primeira coisa que falam é: Nossa tão novinho, o dó! As pessoas esquecem que eu perdi os movimentos, mas por dentro continuo o mesmo, minha alma não foi afetada, brinco que sou uma alma cheia de sonhos preso num corpo paralisado. Mas não ligo se acreditam ou não no meu potencial, apenas tento sempre desafiar eu mesmo, e as vezes faço coisas que muitos se surpreendem, na verdade o preconceito é muito por falta de informação, convivência com um deficiente físico.

 

SELMO VASCONCELLOS - Você continua fazendo cursos para se aperfeiçoar na pintura?

LEANDRO CAMARGO DE OLIVEIRA – Sim, fiz cursos, work shop, assisto aulas de vários professores de pintura atraves da internet, e tento adaptar o jeito que pintam para o meu, já que maioria dos professores pintam com a mão, e como pinto segurando pincel com a boca tenho que descobrir formas de reproduzir o que fazem segurando pincel com a mão fazer com a boca. Aos poucos estou descobrindo um estilo próprio que junte tudo que apreendi e estou apreendendo.

 

SELMO VASCONCELLOS - Você tem uma grande força espiritual, como descreve essa fé que o mantém? Já sentiu alguma experiência extranatural?

LEANDRO CAMARGO DE OLIVEIRA – Não sei explicar como faço ou se alguém sempre esta me ajudando mesmo que não o veja, mas sempre sinto que não estou sozinho, sempre nas horas difíceis algo me confortas, e como se dissesse: Vamos, não desista, no final entenderá do porque de tudo, cada um pode entender de um jeito, pra mim melhor explicação que isso ou essa força é Deus! Desde que me conheço por gente sempre escutei que nascemos com destino traçado e que nada acontece sem que DEUS queira. Pois bem, sempre paro e tento lembrar algo do passado que ligue ao meu acidente e logo vem à lembrança de quando era criança, entre quatro e oito anos, quando sempre sonhava que estava em uma cama deitado e não conseguia me mexer ou falar e por muitas vezes acordava desesperado e por alguns segundos ficava paralisado, nunca contei isso a ninguém... Hoje, talvez possa dizer que esses sonhos podem ter algo haver com meu acidente, ou não, sei lá, né? Espero um dia saber se tudo tem relação e o porquê de tudo isso. Enquanto estava no chão, aconteceu algo muito estranho: _ Vi-me deitado no chão conversando com uma amiga a Yvin, mas não escutava o que falávamos, será que saí do corpo? O que posso afirmar, é que foi uma experiência muito impressionante!

 

SELMO VASCONCELLOS - Qual (is) o(s) impacto(s) que propicia(m) atmosfera(s) capaz(es) de produzir poesias ?

LEANDRO CAMARGO DE OLIVEIRA – Depois do acidente não eplicar o porque e como, tudo que assisto,leio, ou um fato, situação, uma conversa pode virar verso, muitos invento quando estou sentado cadeira rodas e longe do computador, dai vem inspiração faço verso na cabeça e como não digito no computador esqueço. Coisas de artista rsrs

 

SELMO VASCONCELLOS - Você já publicou algum livro?

LEANDRO CAMARGO DE OLIVERIA – Publiquei um livro que conto um pouco como era antes do acidente, e depois, acidente, internação, reabilitação, pintura, etc ... Nome do livro é:Uma nova vida, um novo recomeço, sobre rodas, mas publiquei por conta uma tiragem pequena.

 

SELMO VASCONCELLOS - Quais os escritores que você admira ?

LEANDRO CAMARGO DE OLIVEIRA – Gosto muito dos poetas brasileiros antigos, não vou lembrar de todos os nomes, confesso que leio muitos livros e depois esqueço nome do autor, e gosto de livros que contem historias de reis, épocas antigas, templários, me identifico muito.

 

SELMO VASCONCELLOS - Qual mensagem de incentivo você daria para as pessoas sem perspectiva transformarem o seu mundo sem limitações?

LEANDRO CAMARGO DE OLIVEIRA – Escutei uma frase uma vez que nunca mais esqueci, e tento por em pratica” Quanto mais fraco me sinto, mais forte fico. “ Gostaria que as pessoas entendessem que: Um minuto perdendo sofrendo, perdem dois minuto que poderiam ser feliz, viva, o relógio da vida não para. Deus se entregou na cruz para perdoar todos nossos pecados feitos e o que iremos cometer.

 

SELMO VASCONCELLOS - Hoje você diria que há limitações na vida?

LEANDRO CAMARGO DE OLIVEIRA – Todo ser humano tem algum tipo delimitação, mas a Vida, nos possibilita a cada segundo, minuto, horas, dias, meses, anos, realizar o que seria possível antes, estar vivo é o maior milagre que existe, por isso sonhe, deseja, queira e acredite, tudo é possível enquanto esta vivo, afinal a ESPERANÇA é a ultima que morre! Abraços, Selmo Vasconcellos

 

 

 

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