Foto: Divulgação
Receba todas as notícias gratuitamente no WhatsApp do Rondoniaovivo.com.
AFONSO FELIX DE SOUSA – EM MÉMORIA
Afonso Félix de Sousa foi um poeta, cronista, jornalista e tradutor brasileiro. É um poeta da terceira fase do Modernismo brasileiro. (5 de julho de 1925 – Jaraguá, GO a 7 de setembro de 2002, Rio de Janeiro, RJ. Era casado com a escritora ASTRID CABRAL.
26.Março.1999 – M.L.C. Nº 413 - 1ª participação: “SONETO DO ESSENCIAL”
SONETO DO ESSENCIAL
A vida, a que não tens e tanto buscas,
terás, se te entregares à poesia;
se andares entre as pedras, as mais bruscas,
da escarpa a que te leva a rebeldia;
se deres mais ao sonho, com que ofuscas
as luzes da razão e o próprio dia,
o coração que pulsa, se o rebuscas,
no eterno... Ou pulas um deus que em ti havia?
Que pobre o teu sentir, se não te salvas
perdendo-te de vez nas terras alvas
que chamam da mais alta das estrelas.
Se o tanto te ajudar o engenho e arte,
ao impossível possas elevar-te
subindo em emoções, mas por vivê-las.
OFERENDA
Altíssimas estrelas,
guardai nosso destino
em ânforas de febre.
Ah, ser e estar na terra
e ter que ser e ter
que estar entre horizontes
preso a essas raízes,
qual se não nos bastara
colher no lodo flores
que sonham o alto e o orgulho
de altíssimas estrelas.
Não somos senão homens,
mas de nós algo sobe
em delírio e vertigem
e volta com centelhas
de sóis que jamais vemos.
E ser e estar na terra!
As emoções roubadas
vão fugindo com as nuvens
e há feras que mastigam
a beleza esmagada.
O espaço que nos sobra
é o que mais nos oprime.
E a infância? – Meigo arco-íris
partindo de meu peito
vai descer sobre as águas
de um rio que se forma
da lembrança de um rio.
De meu, que tenho a dar-vos?
No princípio era o verbo
e o verbo se fez carne
e a carne se fez caos
e o caos já se faz forma.
Ah, névoa enfim rendida!
Olhai, se vos perdestes
do farol da esperança –
olhai o cais da vida.
Eis o porto sonhado
que não é meu (é nosso)
e é quanto pode dar-vos
um bicho vil da terra
a refletir-se na alma
de altíssimas estrelas.
*****
ARS ABSCONDITA
Vós que me ouvis, perdão se me atiça e deslumbra
o sol adormecido em carvão, na penumbra.
*****
50 ANOS
Prossegue o jogo
mas já de cartas marcadas
a ferro e fogo.
*****
MÁSCARAS
A vida nos põe no rosto
máscaras de gosto e desgosto
que o tempo afoga
em espelho sem nexo
e sem tamanho
onde fica o reflexo
do rosto de um estranho
que se interroga
*****
ESCRITO NA AREIA
De água somos. E pó. E choro. E riso.
E há um sol que arde em nós.
O sol aviva o chão, o chão que piso
E nós pisamos. Sós.
*****
AVE, MÚSICA
Só de ouvido colado
ao coração de Deus
pode-se ouvir linguagem
mais pura do que a música.
*
E não seria a música
ecos do que se ouvia
antes que o espírito de Deus
boiasse sobre as águas?
*
E não seria a música
a tradução possível
de secretas parábolas
de Deus aos homens?
*****
FOTOGRAFIA
Sob os cabelos o perfil sugere
sonho e distância.
Ela contempla
montanhas de amarguras que desabam.
Pedras vão-se afastando
e voam víboras
das brechas do destino.
Ela contempla
clareiras que se abrem.
Saltam praias à espera.
Sonho e distância.
A política de comentários em notícias do site da Rondoniaovivo.com valoriza os assinantes do jornal, que podem fazer comentários sobre todos os temas em todos os links.
Caso você já seja nosso assinante Clique aqui para fazer o login, para que você possa comentar em qualquer conteúdo. Se ainda não é nosso assinante Clique aqui e faça sua assinatura agora!
* O resultado da enquete não tem caráter científico, é apenas uma pesquisa de opinião pública!