Coluna Momento Lítero Cultural

POR SELMO VASCONCELLOS

Coluna Momento Lítero Cultural

Foto: Divulgação

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ENTREVISTA HISTÓRICA

 

ANTONIO CARLOS SECCHIN – Rio de Janeiro, RJ.

18 de NOVEMBRO de 2009.

Antonio Carlos Secchin nasceu no Rio de Janeiro, em 1952. É professor titular de Literatura Brasileira da Faculdade de Letras da UFRJ, tornando-se sucessor da cátedra anteriormente ocupada por Alceu Amoroso Lima e Afrânio Coutinho. Doutor em Letras pela mesma Universidade.
Poeta com cinco livros publicados, destacando-se Todos os ventos (poesia reunida, 2002), que obteve os prêmios da Fundação Biblioteca Nacional, da Academia Brasileira de Letras e do PEN Clube para melhor livro do gênero publicado no país em 2002.
Ensaísta autor de quatro livros, dentre eles João Cabral; a poesia do menos, ganhador de três prêmios nacionais, dentre eles o Sílvio Romero, atribuído pela ABL em 1987. Em 2001, organizou a Poesia completa de Cecília Meireles, na edição comemorativa do centenário de nascimento da escritora.
Professor convidado das Universidades de Barcelona, Bordeaux, Califórnia, Lisboa, Mérida, México, Los Angeles, Nápoles, Paris (Sorbonne), Rennes e Roma.
Autor de mais de três centenas de textos (poemas, contos, ensaios) publicados nos principais periódicos literários do país e do exterior. Sobre sua obra já escreveram favoravelmente ensaístas como Benedito Nunes, José Guilherme Merquior, Eduardo Portella, Alfredo Bosi, Antônio Houaiss, Sergio Paulo Rouanet José Paulo Paes, André Seffrin, Ivo Barbieri, Fábio Lucas e Ivan Junqueira, entre outros.
Eleito em junho de 2004, tornou-se o mais jovem membro da Academia Brasileira de Letras.

SELMO VASCONCELLOS - Quais as suas outras atividades, além de escrever?
ANTONIO CARLOS SECCHIN - Sou diretor da Comissão de Publicações da Academia Brasileira de Letras e professor de literatura brasileira da Faculdade de Letras da UFRJ, onde oriento várias dissertações e teses, e ministro aulas na Graduação e na Pós.

SELMO VASCONCELLOS - Como surgiu seu interesse literário?
ANTONIO CARLOS SECCHIN - Fui alfabetizado aos 5 anos e, entusiasmado, aos 6 já queria ser escritor.

SELMO VASCONCELLOS - Quantos e quais os seus livros publicados dentro e fora do País?
ANTONIO CARLOS SECCHIN - Cinco livros de poesia – Ária de estação, Elementos, Diga-se de passagem, Todos os ventos e 50 poemas escolhidos pelo autor; quatro de ensaios literários – João Cabral: a poesia do menos, Poesia e desordem, Escritos sobre poesia & alguma ficção e Memórias de um leitor de poesia (este, no prelo) . Além disso, fui responsável pela edição da poesia completa de Cecília Meireles (Nova Fronteira), João Cabral (Nova Aguilar) e Ferreira Gullar (Nova Aguilar), entre outros. Fora do país, saíram edições de Todos os ventos em Portugal e na Venezuela.

SELMO VASCONCELLOS - Qual (is) o(s) impacto(s) que propicia(m) atmosfera(s) capaz(es) de produzir literatura?
ANTONIO CARLOS SECCHIN - Às vezes uma pessoa, uma paisagem. Às vezes uma palavra. Um ritmo, um simples fonema...Tudo pode ser fonte de poesia.

SELMO VASCONCELLOS - Quais os escritores que você admira?
ANTÔNIO CARLOS SECCHIN - A lista é grande, só vai de A a Z porque não existem mais letras no alfabeto.

SELMO VASCONCELLOS - Qual mensagem de incentivo você daria para os novos poetas?
ANTONIO CARLOS SECCHIN - Leiam muito, para desfazer a ilusão de que estejam inventando a poesia.

Às vezes sáfico, é também heroico
o decassílabo Luís Antonio.
Se o que se disse aqui ficou teórico,
é hora de soltar o seu demônio:

depois de haver escuro fez-se a luz,
como se em meio a temporais um poeta
renascesse da treva que produz
o gozo e a dor - ao mesmo tempo seta,

na volúpia de alçar-se ao impossível,
e alvo, que não se esquiva à ponta aguda
de um dardo envenenado de malícia.

Verso onde nada existe que te acuda.
Palavra que celebra o que é visível
e que foge do que é Deus e da polícia.
******
Autorretrato

Um poeta nunca sabe
onde sua voz termina,
se é dele de fato a voz
que no seu nome se assina.
Nem sabe se a vida alheia
é seu pasto de rapina,
ou se o outro é quem lhe invade,
com a voragem assassina.
Nenhum poeta conhece
esse motor que maquina
a eclosão da coisa escrita
contra a crosta da rotina.
Entender inteiro o poeta
é bem malsinada sina:
quando o supomos em cena,
já vai sumindo na esquina,
entrando na contramão
do que a palavra lhe ensina.
Por sob a zona da sombra,
navega em meio à neblina,
mesmo que seja pequena
a poesia que o ilumina.
*****
Louvação a Evaristo

Antonio Carlos Secchin,, em 5 de julho de 2004

Num estilo que é todo seu,
elimina o lero-lero,
seja falando de Alceu,
de Tobias ou Romero.

Não há matéria que o assuste,
é mais ágil que um foguete.
Passeia à sombra de Proust,
conhece tudo de Goethe.

Pessoa interpares prima,
mestre por todos benquisto,
merece o louvor da rima
o nosso amigo Evaristo.

Saber tão fino e preclaro,
como hoje não se vê mais,
só havereis de encontrá-lo em
Evaristo de Moraes.

Novent’anos de nossa fé
neste ser de raro brilho: o
grande brasileiro que é E-
varisto de Moraes Filho.
***
Revejo a luz gelada de manhãs perdidas
e os sonhos que eu mandei para o endereço errado.
Tanto azul me nauseia e nada se dissipa
em meio ao mangue seco onde estanquei meu barco.
Muitas sombras debatem-se à beira do quarto.
Fantasmas nos lençóis da noite estreita e aflita
esgueiram seus anzóis no meu silêncio farto
de saber que eles são a única visita.
Imóveis no sofá, me contemplam ferozes
e cravam com desdém as garras da rapina.
Espanto o pó e a dor que descem dessas vozes
rolando sem parar pela memória acima.
O espelho só me ensina a ruína do desejo.
Sei que é meu esse olhar em que eu não mais me vejo.
*****
Uma prosa súbita

Se não for para arder,
ser rosa no inverno de que serve? (Eugénio de Andrade)

Uma prosa súbita
para a rosa de neve:
às vezes é só um verso
onde a voz de Andrade ferve.
E perdura apesar do inverno
armado na paisagem:
o que há pouco era uma tarde
floriu, ferido em arte.
******
CANTIGA

A Astrid Cabral

Senhora, é doença tão sem cura
meu querer de vossos olhos tão distantes,
que digo : é maior a desventura
ver os olhos sem ver os ver amantes.

Senhora, é doença tão largada
meu querer de vossa boca tão serena,
que até mesmo a cor da madrugada
é vermelha de chorar a minha pena.
******
INVENTÁRIO

A Neide Archanjo

um urso caolho
o piano antigo
seu silêncio de madeira
cheio de fugas pra brincar lá fora
passarinho morto na janela que nem um tambor quebrado

 

Comentário

Antonio Carlos, é muito bom vê-lo aqui no blog. Melhor ainda, conhecer um pouco mais a sua vida, a sua obra literária e as suas ideias. Destas últimas, destaco a sugestão que você dá aos jovens poetas: "Leiam muito, para desfazer a ilusão de que estejam inventando a poesia". Concordo que não se faz boa poesia, sem conhecer o trabalho dos grandes autores.
Parabéns pela sua excelente obra poética. Um dos seus versos, sobretudo, ficará ressoando em minha memória, pela criatividade, beleza e elegância da expressão: "... e os sonhos que eu mandei para o endereço
errado".
Obrigada por ser quem e como é.
Obrigada, Selmo, pelo prazer que me proporcionou através desta entrevista com Antonio Carlos Secchin.
Abraços aos dois.
Marisa Zanirato

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