Por Selmo Vasconcellos
Foto: Divulgação
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CARMÊNIO BARROSO - Nosso muito querido amigo e poeta. Nossas merecidas homenagens.
Natural de Jaguaruna (CE), nascido em 13 de agosto de 1930 e reside em Rondônia desde 1959.
Autor do livro de poesias “SOLILÓQUIO”
POESIAS
Um soneto inédito, para o meu neto João Paulo
O FRUTO E A SEMENTE
Em todos os meus dias já vividos,
Você chega, aumentando a saudade,
E você representa, apesar da idade,
Todos os meus netos, tão queridos!
Durante os momentos, que são idos,
Desde os arroubos de felicidade,
Eu aproveitei a minha mocidade,
Nos dias bons, já esquecidos.
E tudo isso é a expressão do afeto
Que tenho pelo meu mais novo neto,
Que Deus me deu como um presente!
Deus me dará, por certo, outra oferenda,
Uma espécie de doirada prenda
- Juntos, eu e ele - o fruto e a semente!
*****
SAUDADE
A saudade que a toda gente mata
E que em mim aflora em cascata,
Faz do meu pranto o abrigo imenso!
Ela, como um pedaço de sabor cheiroso,
Nas vagas de um soluçar teimoso,
Como um céu nublado, carrancudo e denso.
Saudade do que é meu e do que fora
Do meu verso a verve, a criadora
Da felicidade de vívida lembrança!
Saudade infinda, esmerada e bela
Como nunca houve, como aquela
Que a gente guarda do tempo de criança!
Saudade amiga, que me faz poeta,
Alavancando a dor de um profeta
Que esculpiu a sua própria sina.
Saudoso, o poeta da infelicidade...
Pois que se não faz sem a saudade
Aquilo que a saudade nos ensina!
Saudade dos folguedos de criança
Onde só se quer fiel bonança
Para os dourados dias do amanhã;
Saudade das debulhas, das quermesses,
Onde no meio de sentidas preces,
Não se queria nada, senão o doce afã!
***
NÃO ME DEIXE AGORA
Carmênio deixe agora
Meu coração feliz, meu coração danado,
De tantas jornadas pelo mundo afora,
Não me deixe à beira do caminho,
Não me deixe nunca, não me deixe agora!
Quando a razão dos anos já vividos
De sabedoria e de bonança aflora;
Quando a lembrança de meus ais passados
São diminutos às alegrias de outrora.
Você que vê os dias se passando
E nem sequer lamenta, nem sequer deplora,
E quando a ausência da mulher amada
O entristece, mas você não chora!
Meu coração partido e descompassado
Não me deixe nunca, não me deixe agora!
****
HOMEM, SIM!
Vivo correndo da morte
E eu acho que é muita sorte
Não saber onde ela está.
Não sei se o dia está perto
E mesmo que eu seja esperto,
Meu momento chegará.
A morte não deixa de ser
Um sono eterno, ao morrer,
Que nos leva à eternidade!
Sonharemos coisas lindas
E as horas serão infindas
Sem angústias, sem prazer
Dizia o sábio que a gente
Tornava a ser, novamente,
Algo que a Natureza quiser:
Um grão de areia no monte
Ou a borboleta da fonte
Ou outro homem ou mulher!
Eu que rezo todo dia
Um Pai-nosso e a Ave Maria,
Pro meu Santo protetor,
Vou pedir que me proteja
E que mulher eu não seja
Quando de homem eu me for!
****
Um crônica de definições.
OS CAMINHOS DA VIDA
Os caminhos, os há por toda parte e os mais diversificados. Sendas estreitas e sinuosas; veredas planas e retas; estradas tortuosas e íngremes; vielas, cujos buracos e desvios mortificam; ruas escuras, mas sem os espantalhos; becos, às vezes sem saída e travessas sem denominação. Avenidas imensas, várias pistas, jardins e luminárias. Caminhos marítimos, escuros, profundos, revoltos e repletos de segredos e fantasias, onde os mortos insepultos desaparecem para sempre, mas onde a vida, por outro lado, fervilha na intimidade das águas, dizendo à gente que o belo e o grandioso existem onde quer que o queiramos achar. Rotas aéreas, antes domínio apenas do mundo encantado dos pássaros e hoje um desafio da ciência, buscando chegar às estrelas
Os caminhos da vida são mesmo assim!
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O SONHO
Ela, no sonho, é toda simpatia;
Passa roçando o gracioso braço,
Talvez, quem sabe, pedindo um abraço
Ou insinuando, que quer companhia.
Meu ser se enche de imensa alegria!
E me preparo arremessando o laço,
Deixando de lado aquele embaraço
Que eu tivera, conscrito, certo dia.
Ela foi a minha linda namorada,
Como um sonho vindo de um sorteio
- Amado assim por minha eterna amada!
Vi-a, depois do sonho, passando apressada,
E confirmando assim meu devaneio
E a certeza que não restara nada!
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Algumas verdades em versos
Proverbiais
A gente corre, se apressa,
Ao longo da caminhada,
Como se fora promessa
O percorrer a estrada.
Eu, que me apresso, aos poucos
Na vereda do roçado,
Deixo a correria aos loucos
Que têm o siso encurtado.
A gente perde ligeiro
O que mais fácil se ganha,
Principalmente o dinheiro,
Que serve a qualquer barganha.
Quando a justiça é ausente,
Mas é preciso ativá-la
- Primeiro a casa da gente!
Que a vizinhança se cala!
Em cada canto um amigo,
Há amigos de todo lado!
Mas quando chega o perigo,
Quem fala fica calado!
*****
A LIBERDADE
Era bem cedo. O dia nascera lentamente.
Do vasto roseiral as pétalas crescidas,
Jogadas pela aragem fresca, docemente,
Rolavam pelo chão, em quedas comovidas.
Partira pelo campo. Levava um alçapão,
Disposto a aprisionar um pobre passarinho!
Dos passos a cadência seguia o coração
Num ritmo silente ao longo do caminho.
Fervia-me no sangue as chispas do prazer,
No instinto exaltavam-se auras de alegria.
Sozinho, estremecido, eu esperava ver
As lindas espirais que o pássaro faria!
Solícito desceu. Soltava seus trinados
Em loucos desafios à inofensiva chama...
E após, como as flores que brotam dos valados
- A brisa da quimera o enterrava à lama!
Eram dois prisioneiros, agora espantados,
A se entreolharem, doidos, naquela prisão...
Perguntavam-se aflitos e desesperados
- O que fizemos nós? - Seguimos a ilusão!
Qual Cérbero cruel, os espreitava e via,
Postado da gaiola à pequenina porta.
Entanto, o meu furor insano se extinguia
Ao crer a escravatura sepulcral e morta!
Ferido de tristeza e arrependimento,
Num rasgo luminoso - inspiração de Deus!
Quebrei as frágeis vergas da prisão, sedento,
De vê-los cantando e me dizendo - adeus!
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CANTIGA
Quero sorrir pelos caminhos
Como as gotículas de sóis
Que prateiam as ribanceiras
Na fusão de luz e orvalho
Ser a operária do mel
E a mão que se estende cheia
O rio descendo em vagalhões
A carregar a piracema prenhe
A campina no desabrochar o dia
E o crepúsculo ao som da Ave Maria.
Eu quero a sinfonia da felicidade
Embalando os meus momentos
Como se assim quisesse Deus
Dormir sorrindo
Acordar feliz
Cantar o dia e a noite
Como a embalar a inocência
Dos sonhos de criança
Avistar o campo de sementes sazonadas
Em tempo de colheita fértil
E descer a cachoeira brava
Como a domar o meu corcel
Sentir perfume de méis
Beber a delícia dos nectários
Quero ser a criança na relva
Brincando de bamboleio
Como o matuto na vila
Quando recebe o doutor
No tempo de eleição
Ser feliz metido a craque
Na hora do grande gol
E quando a gente descobre
Um preá no fojo escuro
É como que se sentir
No dia do caçador.
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